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O Jeito da Madeira: Reflexões sobre a Mudança.

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Você já ouviu a expressão “é o jeito da madeira”?

Essa frase é bastante usada e, à primeira vista, pode parecer sem sentido — apenas uma maneira de dizer como as coisas são. No entanto, se olharmos mais a fundo, perceberemos que ela revela aquilo que realmente não queremos ser. As pessoas costumam se esconder atrás de expressões como essa, recusando-se a mudar, pois mudanças exigem renúncias que muitas vezes preferimos evitar. Assim, acomodam-se em paradigmas retrógrados e seguem a vida aparentemente normal, repetindo o bordão: “é o jeito da madeira”.

No entanto, estão cheias de imperfeições que disfarçam com ditados populares ou expressões históricas, como: “é o jeito da madeira”, “vaso ruim não quebra”, “quem nasce torto morre torto”, “pedra que rola não cria limo” etc.

Se observarmos o processo de construção de móveis, até mesmo os rústicos, veremos que a madeira passa por uma transformação. Às vezes, essa mudança é sutil, quase imperceptível, mas está lá. E se olharmos mais de perto, perceberemos que os móveis mais sofisticados resultam de um processo mais elaborado, onde a transformação se torna evidente. O resultado é um objeto belo, que enriquece a decoração de um ambiente e atrai olhares de admiração. Certamente, um móvel bem trabalhado, seja rústico ou sofisticado, harmoniza-se com o espaço e transmite sua essência.

Nós, as “madeiras”, também carregamos o anseio de sermos notados por alguém ou por algo maior…

Mas, quando se trata de mudanças internas — aquelas que nos tornam mais belos e que decoram o ambiente ao nosso redor —, muitas vezes nos recusamos a passar por elas.

E, ainda assim, usamos essa expressão. Ela se torna uma forma de nos protegermos de nós mesmos, uma tentativa de sentir que estamos no controle. Mas, sem perceber, estamos longe de sermos como a madeira.

A madeira, por sua natureza, está disposta a passar por qualquer processo. Ela não tem escolha; apenas cumpre a função para a qual foi designada — seja como decoração, estrutura, carvão, arte ou preservação. Já nós, as “madeiras humanas”, temos o livre-arbítrio. No entanto, essa liberdade muitas vezes nos leva a escolher não “escolher” passar pelo processo. E assim seguimos com nós, espinhos, cascas, torções — e, muitas vezes, apodrecidos, sem serventia para nenhuma finalidade.

Seria esplêndido se fôssemos como a madeira, permitindo-nos cair nas mãos do bom carpinteiro para sermos lapidados por sua ferramenta afiada e precisa. Quanto mais lapidada for a madeira, mais sofisticação ela alcança. O carpinteiro removeria qualquer casca grossa ou imperfeição que obscurecesse nossa beleza. Até mesmo os móveis rústicos ele esculpiria de maneira harmoniosa.

No entanto, na liberdade da nossa “escolha”, usamos essa metáfora apenas para reafirmar que queremos continuar na situação em que nos encontramos, pois mudar parece trabalhoso, cansativo e doloroso.

Contudo, o carpinteiro sempre sabe a melhor forma de transformar uma simples “madeira” em algo valioso, agregando beleza, sofisticação, harmonia e propósito ao lugar que ocupamos. Ele conhece a natureza de cada tipo de “madeira” e domina as melhores técnicas de lapidação. Ele não machuca, não danifica, não destrói; apenas molda conforme a essência de cada um de nós.

Em suas mãos, o processo pode ser doloroso, mas a nossa melhor versão será revelada.

Usar expressões como essa muitas vezes é uma tentativa de fugir do que realmente somos. Mas ser lapidado é uma escolha. Ser rústico é uma essência, assim como ser sofisticado.

Afinal, “é o jeito da madeira” vai muito além de um simples bordão.

                                                                                                          

Ensaio reflexivo. Escritora, Rose Corria.30/01/2025.

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