Home Agronegócio Pesquisa aponta contaminação de população por agrotóxico em três cidades de MT: de abortos a câncer

Pesquisa aponta contaminação de população por agrotóxico em três cidades de MT: de abortos a câncer

8 min ler
0

Contaminações no ecossistema, alimentos, animais e em humanos – neste último, resultando em doenças crônicas. Esses são os resultados apontados por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sobre os impactos da exposição a agrotóxicos em todo o território de municípios da região Oeste de Mato Grosso, que são conhecidos pelo forte domínio do agronegócio: Campo Novo do Parecis, Campos de Júlio e Sapezal.

Publicado em agosto, o estudo intitulado “Pesquisa participativa com populações expostas aos agrotóxicos em Mato Grosso: aspectos metodológicos e desafios políticos” foi realizado entre 2015 e 2019. Os pesquisadores afirmaram que escolheram esses municípios da bacia hidrográfica do rio Juruena, pois compõem as bacias do rios Tapajós e Amazonas, responsáveis por banhar 70% do território do estado de Mato Grosso.

Além disso, as três cidades se configuram como “território emblemático das confluências e divergências entre população, latifundiários, agricultores familiares e povos originários” e estão entre os maiores produtores do estado de commodities agrícolas – soja, milho e girassol.

De acordo com os autores da pesquisa, quando pulverizados, os agrotóxicos não alcançam somente as espécies a serem controladas nas lavouras, mas todo o ecossistema da região onde foram aplicados.

“Em relação à exposição ambiental per capita por agrotóxicos, no ano de 2015, em Campos de Júlio, chegou a 606 litros/hab; em Sapezal, 364 litros/hab; e em Campo Novo do Parecis, 209 litros/hab. Sendo que, juntos, representam um valor 8,5 vezes acima da média estadual, o que justifica a escolha do local para o desenvolvimento da pesquisa”, diz trecho do estudo.

Também fortaleceram o início do estudo as denúncias da comunidade indígena Paresí, devido à contaminação de suas águas pelas atividades do agronegócio, e também do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública de Mato Grosso (Sintep-MT), diante da contaminação por agrotóxico da água potável de escolas da região.

Consequências e casos “silenciados”

Durante o estudo, foram realizadas coletas de água (chuva, rios e água potável de poços artesianos), ar, alimentos (legumes, verduras, bovinos e peixes), commodities agrícolas (soja, milho, girassol, sementes de algodão) e amostras humanas (sangue e urina).

Também foram aplicados questionários para identificar condições de saúde associadas à pulverização de agrotóxicos – a chamada “nuvem de veneno” – para o levantamento do perfil de morbidade dos moradores da região.

Dentre uma diversidade de agravos preenchidos estão aborto espontâneo, malformação, alergias, irritação nas mucosas, baixa imunidade, diarreia, dor de cabeça, mal-estar, problemas respiratórios, câncer, doenças renais, ansiedade e depressão.

Os resultados obtidos por meio dos questionários evidenciaram que diversos trabalhadores tiveram episódios de intoxicação por agrotóxicos e não procuraram o serviço de saúde; e para os que procuraram, não houve a notificação da intoxicação exógena por agrotóxico.

“Apesar da exposição ambiental, ocupacional e alimentar aos agrotóxicos, parece haver um silenciamento das notificações mediante pressões políticas que priorizam a economia em detrimento da saúde da população”, afirmam os pesquisadores.

Devido a isso, uma das iniciativas dos pesquisadores foi encaminhar os resultados da pesquisa, ainda no ano de 2018, às secretarias de Saúde de Campos de Júlio, Campo Novo do Parecis e Sapezal.

“Diante desses impactos negativos do agronegócio, tem-se o desafio de compreender, comprovar e divulgar a imposição dos malefícios dos agrotóxicos às populações, aos trabalhadores e ao ambiente em que eles residem. Desse modo, parte-se do princípio de que se a população é obrigada a suportar, ela tem o direito de acesso ao conhecimento desses processos”, destacam os pesquisadores.

Outro lado

O RD News entrou em contato com as prefeituras dos três municípios, no intuito de verificar se estariam realizando medidas para melhoria nas condições de saúde e alimentação da população, após a devolutiva da pesquisa. Entretanto, a reportagem não obteve resposta até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para manifestação.

Cecília Nobre/RD News

 

Carregue mais postagens relacionados
Carregue mais por Porto Notícias
Carregue mais em Agronegócio
Comentários estão fechados.

Verifique também

Justiça Eleitoral barra posse de vereador do UB de Novo Horizonte do Norte por irregularidades eleitorais

O Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT) cassou o registro de candidatura e s…