Os familiares de Poliana da Silva de Oliveira, de 24 anos — que foi morta a tiros pelo próprio pai, Antônio Marcos Pereira de Oliveira, de 45 anos —, ainda estão perplexos com a tragédia que aconteceu em Galvão, Santa Catarina, no último domingo (30). No entanto, disseram ao R7 que a fatalidade já tinha sido anunciada havia muito tempo pelo agressor.
Duas tias maternas de Poliana, que preferiram não se identificar, afirmaram à reportagem que a mãe da jovem já sofria abusos do companheiro quando ainda estava grávida dela. “Nossa irmã era bastante agredida por ele. Conseguiu duas medidas protetivas contra ele e ainda precisou sair fugida lá de Santa Catarina para o Paraná por conta da violência. Na época, a Poli era bebê de colo e não chegou a conviver com ele”, começou uma das mulheres.
Segundo elas, a jovem só foi conhecer o pai, de verdade, quando foi morar com ele, aos 12 anos. “Ela não sabia como ele era. Como ela era inocente, achou que a vida seria melhor e decidiu morar com ele. O problema é que, depois disso, ele proibiu o contato dela com a nossa família. Era muito raro ela vir nos visitar”, completa uma das tias de Poliana.
Oito anos de abusos frequentes
“Ele controlava tudo o que ela fazia. Não deixava ter rede social, não deixava ela sair nem namorar. Ela só começou a namorar o Ewerton [marido que também morreu no último domingo (30)] porque ele permitiu e, ainda assim, ele acompanhava tudo o que eles faziam”, disseram as duas mulheres.
Um terceiro familiar, que também preferiu não revelar o nome, contou que, durante os oito anos que morou com Antônio, Poliana era frequentemente abusada, tanto física quanto sexualmente. “Ela era torturada e estuprada por ele. Esse monstro sentia prazer em bater nela. Tudo o que ele podia usar para fazê-la sentir dor, ele usou. Quando ela fugiu da casa dele, vimos que ela tinha muitas cicatrizes pelo corpo. Depois, ela fez várias tatuagens para tentar cobrir todo o sofrimento que passou lá [na casa do pai]”, relatou.
Assim que se mudou para o Paraná, a jovem decidiu denunciar todos os abusos que sofreu. No entanto, ela e o marido passaram a ser constantemente ameaçados por Antônio. “Ele sempre dizia que ia acabar com a vida dela, que ia buscá-la até no inferno. Hoje, eu fico triste porque ela me contava essas coisas, e eu dizia que ele não faria isso porque era pai dela. Eu errei porque esse monstro nunca foi pai dela de verdade”, disse uma das tias.
Já a outra tia de Poliana afirmou que temia que a tragédia do último domingo pudesse, de fato, acontecer. “Sempre falei para ela não ir lá para Galvão [município a 580 km da capital de Santa Catarina, Florianópolis] porque a qualquer momento o pai dela poderia ir atrás. E foi exatamente isso que aconteceu”, lamentou.
Elas disseram que, no último domingo, Antônio atirou primeiro contra Ewerton e, em seguida, no irmão dele — que sobreviveu e foi levado ao hospital, mas não há informações sobre o estado de saúde dele. Assim que ouviu os disparos, Poliana teria ido ao encontro do pai e dito: “Eu sei que é a mim que você quer. Eu estou aqui, não atira mais em ninguém”.
Segundo as familiares, ele teria feito ela se ajoelhar e a matou com um tiro no rosto. “Ele praticamente explodiu a cabeça dela. Não tem como chamar um monstro desse de pai”, afirmaram.
Poliana e Ewerton tinham duas filhas, de 5 e 2 anos.
Condenação
Antônio chegou a ser condenado pelos abusos que cometeu contra Poliana e cumpriu seis meses da pena em regime fechado. Ele recorreu da decisão e aguardava o novo julgamento em liberdade.
“Foi tudo comprovado na Justiça. Ele gravava os abusos que fazia com ela, e a polícia apreendeu tudo. Ele mesmo produziu as provas contra ele. Tanto ela quanto nós tínhamos certeza de que ele passaria o resto da vida na cadeia, mas não foi o que aconteceu. Ela sofreu muito quando soube que ele estava livre de novo”, revela uma das tias da jovem.
Além de ter sido acusado pelo estupro da filha, Antônio tinha passagens por ameaça, rixa e desacato, entre outros crimes.
R7