O presidente Jair Bolsonaro é o terceiro chefe de governo mais popular do mundo nas redes sociais. O mandatário brasileiro fica atrás apenas de Narendra Modi, primeiro-ministro da Ãndia, e do presidente dos EUA, Donald Trump. É o que aponta o Ãndice de Popularidade Digital (IPD), elaborado pela consultoria Quaest a pedido do Estado. A exemplo do presidente norte-americano, Bolsonaro utiliza as redes sociais para comunicar atos de governo, atacar adversários e criticar a imprensa.
O Ãndice foi calculado para uma amostra selecionada de 18 lÃderes mundiais a partir da coleta de métricas de uso das redes sociais Facebook, Instagram e Twitter. Como resultado, foi dimensionado para cada lÃder um Ãndice mensal, entre janeiro de 2019 e janeiro de 2020, além do Ãndice médio no perÃodo. O IPD tem uma escala que varia de 0 a 100, indicando a popularidade mÃnima e máxima possÃveis, respectivamente.
O Ãndice médio no perÃodo analisado traz Narendra Modi em primeiro lugar, com 63,25 (de 100) pontos, Donald Trump em segundo, com 62,27, e Jair Bolsonaro na terceira colocação, com um IPD de 52,75. Na sequência, entre atuais lÃderes de governo, aparecem Recep Erdogan, presidente da Turquia, Luis Lacalle Pou, presidente eleito do Uruguai, e Alberto Fernández, mandatário argentino que derrotou Mauricio Macri no último pleito do paÃs vizinho. Veja abaixo a lista completa.
Como é medido o Ãndice de Popularidade Digital?
O IPD avalia a popularidade de polÃticos e marcas nas redes sociais. São processados dados usando um algoritmo de inteligência artificial que determina a força de determinado perfil no ambiente digital.
O Ãndice leva em consideração em 40 variáveis de redes, divididas em cinco dimensões: presença digital (perfis ativos nas redes sociais); fama (número de seguidores); engajamento (interação, comentários e curtidas, por postagens); mobilização (compartilhamento das postagens) e valência (proporção de reações positivas por reações negativas).
O cientista polÃtico e diretor da consultoria Quaest, Felipe Nunes, explica que o tamanho da população, o idioma e o tempo de permanência no cargo são levados em conta no cálculo. “O fato de Trump e Modi postarem em inglês pode explicar em alguma medida essa popularidade, uma vez que isso possibilita atingir mais gente e atrair mais seguidores ao redor do mundoâ€, disse.
Ele ressalva que o tamanho da população da Ãndia – cerca de 1,3 bilhão de pessoas – influencia em parte no “sucesso†de Modi, mas não é determinante. O algoritmo leva em consideração a população e faz os cálculos sempre per capita nas métricas consideradas qualitativas. “Mas não dá para descartar a influência do tamanho da população, principalmente na dimensão fama, que leva em conta o número de seguidores.
O lÃder da China, paÃs mais populoso do mundo, Xi Jinping, não entrou na relação por não possuir uma conta oficial nas redes sociais.
Posições ocupadas
O levantamento indica a preponderância de três lÃderes: Modi, Trump e Bolsonaro, os únicos a conseguirem, ao menos por um mês, a primeira posição nos rankings mensais. “Junto de Erdogan, quarto colocado, esse grupo compõe uma linha de frente nas redes de polÃticos considerados como populistas ou ultradireitaâ€, destaca o relatório do estudo.
Para o professor da pós-graduação em marketing polÃtico da ECA/USP, Kléber Carrilho, o mundo vive um momento de em que os lÃderes são maiores que as ideias e as redes sociais são um campo fértil para os polÃticos desta “linhagemâ€. “As explicações sobre o futuro do mundo estão muito mais presentes da personificação das lideranças do que a gente pode chamar classicamente de ideologia, ou seja, conjunto de ideiasâ€, disse.
Esses personagens encontram nas redes sociais um ambiente propÃcio para o desenvolvimento de um culto a suas figuras, explica Carrilho. “Isso faz com que quem tem uma comunicação organizada a partir da ideia do culto do Ãcone, do personagem central, consiga desenvolver uma imagem pública, como a gente tem visto nesses três exemplos principalmente, mas em grande parte daqueles que estão nos primeiros lugaresâ€, analisou o professor.
No perÃodo analisado, Bolsonaro chegou a atingir o primeiro lugar da lista uma única vez: em agosto do ano passado, mês em que entrou em atrito pelo redes sociais com o presidente francês Emmanuel Macron. O embate se durante a reunião do G7, na qual Macron se colocou como uma das vozes mais crÃticas à polÃtica ambiental brasileiro, que à época enfrentava uma crise das queimadas na Amazônia, fato que chamou a atenção da comunidade internacional. Em meio à “troca de rusgas†com o francês, Bolsonaro chegou a fazer piada com a aparência fÃsica da primeira-dama do paÃs europeu, Brigitte Macron.
“Essa confusão internacional causada por Bolsonaro nas redes sociais envolvendo Macron explica o fato dele ter alcançado a primeira colocação em agostoâ€, explicou Felipe Nunes. O episódio também levou o mandatário francês a atingir sua melhor colocação no perÃodo – oitavo lugar. Na média geral, ele fica na décima posição.
Narendra Modi
O Partido do Povo Indiano (PJP), do qual faz parte o primeiro-ministro da Ãndia, Narendra Modi, lÃder do ranking de popularidade nas redes, é uma sigla de direita nacionalista hinduÃsta, explica o diplomata Fausto Godoy, ex-cônsul geral do Brasil em Mumbai e ex-secretário de embaixada em Nova Délhi. O hindu é a principal religião da Ãndia, professada por quase 80% da população, seguida pelo islamismo e o cristianismo.
“Modi foi avançando nessa agenda hinduÃsta aos poucos e se tornando cada vez mais popular junto à população hindu, que representa mais ou menos 85% da Ãndiaâ€, disse Godoy, que explica essa polÃtica nacionalista tem gerado controvérsia entre os muçulmanos do paÃs e causado insatisfação na elite intelectual da Ãndia.
Godoy diz que o primeiro-ministro é muito popular, mas é uma popularidade contestada por certos setores. “O tema que ele usa muito é a questão do nacionalismo hindu e como a população hindu é muito grande, seu governo é popular. Modi é um governante extremamente controverso e usa muito os mÃdias sociais para tentar se preservar como talâ€, afirmou.
Ranking de polÃticos mais populares nas redes (IPD de 0 a 100) entre janeiro de 2019 e janeiro de 2020:
Narendra Modi – 63.25
Donald Trump – 62.27
Jair Bolsonaro – 52.75
Recep Tayyip Erdogan – 44.65
Cristina Kirchner – 32.48
Luis Lacalle Pou – 27.2
Alberto Fernández – 19.67
Matteo Salvini – 19.35
Evo Morales – 18.75
Emmanuel Macron – 18.37
Nicolás Maduro – 18.2
Iván Duque – 18.14
Benjamin Netanyahu – 17.85
Justin Trudeau – 17.52
Sebastián Piñera – 17.26
Rody Duterte – 16.58
Boris Johnson – 15.81
Orbán Viktor – 15.61