Após quatro meses consecutivos de queda, o preço de alimentação e bebidas já acumula a maior redução inflacionária anual desde 2017. De janeiro a setembro deste ano, esse grupo de itens registra um recuo de 1,01%. É a primeira vez que o índice deve fechar o ano no negativo desde 2017, quando foi registrado -1,87%.
Os dados são do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de setembro, a inflação oficial do país, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última quarta-feira (11).
A queda do grupo alimentação e bebidas, segundo o IBGE, deve-se principalmente ao recuo nos preços da alimentação no domicílio. Enquanto a inflação geral acumula alta de 3,5% no ano, a alimentação tem queda de 2,83%, no mesmo período.
De janeiro a setembro, destaca-se a queda no preço da cebola (-48,26%), do óleo de soja (-29,69), da batata-inglesa (-27,73%), do feijão-carioca (-19,34) e das carnes (-11,26%).
O recuo dos alimentos tem pressionado o IPCA, segundo o gerente do IBGE André Almeida, responsável pelo indicador. “Nos últimos quatro meses, o grupo de alimentação e bebidas, por ser o que possui o maior peso, contribuiu negativamente para o resultado. Com certeza teve influência no IPCA”, disse.
Para Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, a desinflação dos alimentos tem sido destaque nos últimos meses. “A deflação é observada em alimentos como legumes, farinhas, frutas e verduras, além de carnes, leites e pescados. Em bom português: a comida está de fato mais barata”, afirma a economista.
Ela explica que, por trás da queda do preço de muitos alimentos, estão questões climáticas e a forte produção, especialmente no Brasil. A estimativa é que a safra de grãos no país cresça mais de 20% neste ano em relação a 2022, atingindo outro recorde — com destaque para o milho e a soja, que servem de insumo para a criação de proteína animal, reduzindo também o custo de produção desses alimentos.
Ao avaliar o resultado da inflação de setembro, Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena, destacou a deflação de tubérculos, carnes, aves, ovos e leite. Para ela, a alimentação no domicílio deve encerrar o ano com queda de 1,7%. “O que, somado ao bom desempenho da desaceleração de bens, ajuda na continuidade da desinflação de serviços”, avalia.
Segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), as quedas consecutivas nos preços dos alimentos contribuíram para o aumento no volume de itens adicionados à cesta de consumo.
“A estabilidade de renda combinada com a queda nos preços dos alimentos permitiu ao consumidor acrescentar mais itens na cesta de abastecimento dos lares e buscar itens de valor agregado, a exemplo da carne bovina”, analisa o vice-presidente da Abras, Marcio Milan.
A inflação em 2020, 2021 e até metade de 2022 foi focada nos alimentos devido à demanda externa e à capacidade brasileira de suprir o mercado. Com estoques mundiais reduzidos por efeitos climáticos, pela pandemia e por conflitos geopolíticos, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços internacionais dispararam, trazendo essa pressão para dentro do país.
Fonte: R7