A proposta apresentada na terça-feira (5) pelo governo do presidente Jair Bolsonaro de extinção dos municÃpios com menos de 5 mil habitantes e com arrecadação própria menor que 10% da receita total tem “chance zero†de ser aprovada pelo Congresso Nacional, sobretudo num perÃodo em que os congressistas já se preparam para as eleições municipais de 2020. A avaliação é do cientista polÃtico e professor da FGV Marco Antonio Carvalho Teixeira.
“Não se pode discutir extinção de um ente federativo com base apenas em critérios fiscais, é preciso levar outras variantes em conta, como população, receita, cidadania e a própria questão polÃtica. Há vários elementos que mostram que o governo está tratando a questão de uma maneira muito simplista e ela é bem mais complexa do que se imaginaâ€, reitera Carvalho Teixeira.
Carvalho Teixeira avalia também que outra questão importante nessa discussão é a identidade do local e de seus habitantes, algo que não pode ser discutido, como já disse, com base apenas em uma planilha de custos.
O posicionamento é defendido também por Humberto Dantas, cientista polÃtico, pesquisador da FGV-SP e coordenador do MLG do CLP (lato sensu e master em Liderança e Gestão Pública) e da pós-graduação em Ciência PolÃtica da FESP-SP
Para ele, as razões para se discutir a existência ou não de municÃpios devem ser polÃticas e não baseadas apenas em questões técnicas ou financeiras. “Um municÃpio não existe à toa, toda cidade é polÃtica, portanto, não é possÃvel discutir a extinção desses entes federativos de maneira simplista, sob risco de gerar sérios problemas de polÃtica públicaâ€, disse o especialista.
Os pesquisadores destacaram ainda que da forma como a proposta foi encaminhada ao Congresso Nacional não há condições de prosperar, por ser “rasa e sem profundidadeâ€, segundo Teixeira. Apesar de avaliar que a proposta tem “chance zero†de avançar, ele diz que esse é um tema que precisa ser discutido, mas em profundidade. “É preciso construir soluções, mas em conjunto e não apenas do ponto de vista técnico e financeiro. O inÃcio do debate foi posto, pois até o inÃcio da década de 80 o PaÃs tinha cerca de 3,9 mil municÃpios, número que saltou para os atuais 5,5 mil e a criação de tais municÃpios envolveu custos também.â€
Em razão da complexidade do tema, o Dantas também acredita que dificilmente a proposta, da forma como foi encaminhada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional, irá prosperar. “A possibilidade de essa discussão prosperar é mÃnimaâ€, diz, sugerindo que se avalie exemplos ocorridos neste sentido, como o da Itália, em 2008, que sugeriu acabar com milhares de cidades com o objetivo de conter a grave crise financeira que se abateu sobre o paÃs naquela ocasião.
Outro ponto destacado por Dantas é que a discussão de incorporação de municÃpios exige reforma constitucional. E cita o artigo 18 da Constituição, que diz: “A criação, a incorporação a fusão e o desmembramento de MunicÃpios, serão feitas por lei estadual, dentro do perÃodo determinado por lei complementar federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, à s populações dos MunicÃpios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei.â€
Ele lembra também que em meados da década de 90 o STF sustou a criação, até então acelerada, de municÃpios. E em 2014, o Congresso aprovou regras mais rÃgidas para a criação de novos municÃpios, contudo, a então presidente Dilma Rousseff vetou a lei, em razão do impacto financeiro que isso poderia trazer para essas localidades, sobretudo as pequenas, onde a maioria dos empregos está vinculada ao setor público.