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Maior seca dos últimos 90 anos e dois focos de incêndio ativos, esse é o cenário na transpantaneira em Mato Grosso

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Maior seca dos últimos 90 anos, lagoas e corixos vazios, solo rachado, animais mortos, focos de incêndio e comunidades sem água. Esse é o cenário do Pantanal de Mato Grosso na região da estrada Parque Transpantaneira, em Poconé. Uma comitiva formada por autoridades, pesquisadores, representantes de parlamentares e entidades da sociedade civil percorreu 100 km da estrada na quinta-feira (02), para acompanhar o trabalho que está sendo realizado no combate às chamas. O mandato da deputada federal Professora Rosa Neide (PT) integrou o grupo.

A primeira parada foi no portal de entrada da estrada, onde foi constatada a ausência de fiscalização por parte do poder público estadual. Apenas um guarda de uma empresa terceirizada estava no posto. Camionetes e carros de passeio adentravam e saiam da transpantaneira sem serem abordados. O emprego de fiscalização permanente na estrada é uma das cobranças feitas pela comitiva.

Ao adentrar à rodovia foi possível observar o drama causado pela maior seca das últimas 09 décadas. As margens da estrada normalmente alagadas estavam completamente secas. Lagoas e corixos com solo rachado. Devido à falta d´água nenhum animal à vista. A exceção foi um pequeno lago alimentado com caminhões pipa, onde dezenas de jacarés e alguma aves lutam para sobreviver.

A segunda parada foi na pousada Araras, cujo proprietário Leopoldo Nigro apresentou uma lagoa artificial abastecida com água prospectada de um poço artesiano. A lagoa se tornou um oásis para jacarés, pássaros e outros animais. De acordo com o secretário executivo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), Alex Marega, há projeto para que mais poços sejam perfurados ao longo da Transpataneira, para abastecer mais lagoas artificiais que ainda serão abertas.

Uma dessas lagoas começou a ser abastecida na semana passada. Ela foi o terceiro ponto de parada da expedição na altura do quilometro 50. O poço foi perfurado à margem da estrada e já abastecia o tanque artificial batizado pela comitiva como lagoa dos Ipês. Mais um local de acesso a água para os animais.

O quarto ponto de parada foi na fazenda Pixaim (km 75), base de apoio às equipes do Corpo de Bombeiros, brigadistas do Instituto Chico Mendes (ICMBio) e voluntários que combatem há mais de uma semana dois focos de incêndio, localizados a poucos metros do local e também no km 100.

Quatro aviões modelo Air Tractor AT-502B atuam no combate às chamas que segundo o coronel do Corpo de Bombeiros, Agnaldo Pereira de Souza já consumiu 5.050 hectares, sendo 550 hectares no Km 75 e 4.500 hectares no KM 100.

Enquanto bombeiros, autoridades, representantes de entidades, incluindo Organizações Não Governamentais (ONGs), que já estão na região salvando e dando suporte de alimentação aos animais, se reuniam em uma sala da fazenda, o barulho dos aviões era intenso na pequena pista de pouso do lado de fora. O ritmo acelerado de trabalho incluía pouso para abastecimento de água armazenada em dois caminhões pipa e decolagem até a zona de incêndio.

Incêndios criminosos

De acordo com responsável pela Operação Guardiões do Pantanal, tenente coronel bombeiro, João Paulo Nunes de Queiroz, esses incêndios tem origem criminosa. “Temos informações que são incêndios criminosos. E isso dificulta todo nosso esforço de combate às chamas”, lamentou.

Queiroz informou que além dos quatro aviões e os dois caminhões pipa, a Operação conta com 68 militares e civis, 11 camionetes e quatro caminhões. Questionado pelo assessor da deputada Professora Rosa Neide, Nelson Borges, se a estrutura era suficiente, Queiroz respondeu que não. Ele disse ainda que neste momento a operação precisa de mais dois caminhões pipa, para auxiliar os brigadistas no combate por terra.

2021 pode repetir 2020

Apesar do representante da Sema e do presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (AL-MT), deputado Carlos Avalone (PSDB) enfatizarem que apenas 5.050 hectares foram queimados até o momento no Pantanal de Mato Grosso e que isso represente 92% menos do que queimou ano passado, a pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), doutora Carolina Joana da Silva, reforçou que o bioma está mais seco em 2021 do que em 2020, o que contribui para os incêndios.

O tenente Coronel Queiroz informou que o foco do KM 100 havia consumido 3.700 hectares no dia primeiro de setembro e que no dia 02 já havia devastado 4.500. Para a pesquisadora e representantes das entidades presentes na visita, há necessidade de mais estrutura e esforço para contenção definitiva dos dois focos de incêndio ativos para que 2021 não repita 2020, tendo em vista que estamos no início de setembro, considerado pelos especialistas como o mais seco no Pantanal.

Acompanhando a visita, a representante da comunidade rural quilombola de Poconé, Terra Viva, professora Maria Rosa destacou que além dos cuidados com as grandes propriedades e pousadas, o esforço que está sendo feito por parte do governo do Estado precisa incluir as pequenas comunidades.

“Poconé possui 72 comunidades rurais, sendo 29 quilombolas. Essa seca tem dificultado as condições de sobrevivência dessas comunidades. Nessa visita vimos dois poços artesianos. Um em uma propriedade privada e outro na estrada, mas não há poços nas comunidades. O governo também precisa atender as comunidades. Estamos padecendo por falta d’água”, afirmou Maria Rosa. O deputado Avalone e Alex Marega anotaram a demanda e se comprometeram em encaminhá-la.

KM 100 maior foco ativo

Logo após a reunião na fazenda Pixaim, a comitiva seguiu ao encontro do maior foco de incêndio ativo na região. No km 100 da Transpantaneira sentido Porto Jofre, a comitiva virou à direita adentrando a uma propriedade privada. Logo nos primeiros metros já foi possível avistar áreas consumidas pelas chamas.

Cerca de 40 km à frente a comitiva se deparou com uma das principais frentes de incêndio. Enquanto os aviões sobrevoavam para despejar água, bombeiros, agentes do ICMbio, voluntários e funcionários da fazenda faziam aceiros e tentavam isolar o fogo para impedir que ele avançasse para outras áreas.

“Nossa principal tarefa na região do km 100 é impedir que o fogo adentre ao Parque Estadual Encontro das Águas”, disse o tenente coronel Queiroz. O Parque localizado no Porto Jofre, a poucos quilômetros da frente de fogo é considerado o santuário das onças pintadas. O local devastado em 2020 e ainda em recuperação, se vê novamente ameaçado pelas chamas em 2021.

Assim como em 2020, o início desse esforço de combate às chamas na Transpantaneira não conta com homens das forças armadas, nem do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

Representantes

Além da UFMT, do deputado Avalone, da Sema e de representantes da coordenadora da Comissão Externa da Câmara de Investigação de Queimadas, deputada Professora Rosa Neide, a comitiva contou com participação da procuradora do Estado Gláucia Amaral, do deputado estadual Allan Kardec (PDT), do vereador por Poconé, Dudu Carrapato (PSDB), pelo secretário-geral da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Mato Grosso (OAB/MT), Flávio José Ferreira e de representantes do senador Wellington Fagundes (PL) e do deputado estadual Valdir Barranco (PT). Toda visita foi acompanhada por representantes das ONGs: É o Bicho, SOS Pantanal e do Grupo de Resgate de Animais em Desastre (GRAD), que estão há meses atuando no Pantanal.

 

Assessoria de Imprensa

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