Há quatro anos, quando um governo liberal na economia e conservador nos costumes assumia o comando do Brasil, a economia parecia surfar em grandes ondas. Dólar em baixa, valorização na bolsa, grandes perspectivas com o anúncio de reformas e privatizações que prometiam maior estabilidade econômica para investidores e ajuste fiscal no país.
Resistência política, pandemia, desemprego, fome e mais uma série de fatores mostraram ao mercado que entre um índice e a realidade há muito mais coisas do que discursos e vontade política. O Brasil atravessa uma de suas piores situações humanitárias. A dissonância social e econômica grita aos que buscam olhar para os lados.
Não há como negar que a insegurança alimentar voltou a assombrar nossa população. A perda de poder econômico da chamada classe média compromete dia após dia o orçamento das famílias. Trabalhadores assalariados têm dificuldade de encher o carrinho nos supermercados, enquanto a inadimplência tira o sono de consumidores e empresários.
Quatro anos depois, com a volta de um governo de esquerda, o dólar subiu, a bolsa caiu e o mercado se debate com medo da irresponsabilidade fiscal, do excesso de gastos e da insegurança para investimentos. As primeiras medidas, porém, foram aprovadas ainda no governo anterior. Os opositores do novo governo se curvaram aos apelos, não do PT, mas da fome.
Quem tem fome, como já foi dito há alguns anos, tem pressa. Não há como propor políticas desenvolvimentistas sem que a população tenha condições mínimas para trabalhar com dignidade. Ninguém procura emprego com fome, sem que seu filho esteja alimentado, na escola. Um trabalhador ou uma trabalhadora sem segurança alimentar, que não tem um lar, com dívidas e sem crédito, está sujeito às condições mais desumanas de trabalho. Fica refém da humilhação travestida de caridade. Está vendido a qualquer sorte.
A prioridade, de qualquer governo, deve ser as pessoas. É verdade quando dizem que a economia mata, mas é por meio dela que também se pode salvar vidas.
Ainda é cedo para analisar o futuro econômico deste país. O que vemos é um governo plural, composto por diferentes atores que bebem de fontes econômicas e políticas antagônicas. Haverá sim, muito ruído, descompasso e ajustes até que a chamada ampla frente democrática encontre um tom para o Brasil.
Ainda assim, é o que temos por agora. O processo eleitoral está concluído, sacramentado e é hora de trabalhar. O Brasil não pode esperar até o carnaval, os blocos já estão nas ruas e situação e oposição precisam entrar na avenida. Existe uma nação aguardando por emprego, por desenvolvimento e, acreditem, por paz.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria e Comunicação