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Cuiabana presa no 8 de janeiro relata caminho até Brasília e sofrimento no cárcere

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Uma das rés dos atos de 8 de janeiro de 2023, moradora de Cuiabá, contou ao Midiajur sobre o dia em que foi presa pela invasão e destruição às sedes dos Três Poderes da República em Brasília. Ela responde a uma ação penal derivada do inquérito nº 4922, que processa os supostos executores materiais dos crimes de depredação na capital federal.

A moradora de Cuiabá contou que começou a participar dos protestos contra o resultado das eleições, que deram vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Cuiabá. Junto com demais apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ela participou do acampamento montado em frente à 13º Brigada do Exército, na avenida Historiador Rubens de Mendonça.

Para o Midiajur, ela disse que foi à unidade do Exército não por causa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Fui lá por que tinha dúvidas em relação às urnas. Não tinha essa clareza. O voto impresso tinha sido aprovado, depois teve uma reunião e resolveram não fazer mais. Que medo é esse do voto auditável? Estávamos na frente do Exército não para intervenção militar, mas para que lei eleitoral fosse cumprida”, disse.

Ela contou que, em 12 de novembro de 2023, chegou um ônibus no acampamento que os levaria de graça para Brasília. “Eu peguei essa carona e fui. Chegando lá, tudo pacífico, cantando o hino nacional e orações”, lembrou. A cuiabana ficou no acampamento montado em frente ao Quartel General do Exército, retornou na semana do Natal para passar as festas com a família e retornou em 29 de dezembro novamente em um ônibus para Brasília.

“No dia 1º [de janeiro], Lula subiu a rampa. O QG esvaziou. Todo mundo saiu chorando e muito. No dia 6, começou a chegar muita gente, do Brasil inteiro. Não tinha como você controlar ou falar para a pessoa não pedir intervenção militar. Eu ia de um em um e dizia que isso é errado e que devia pedir que as urnas fossem claras. Mas eu vejo que o livre direito de manifestação vai de acordo com o que cada um pensa”, pontuou.

Os atos de 8 de janeiro
Fui lá por que tinha dúvidas em relação às urnas. Não tinha essa clareza. O voto impresso tinha sido aprovado, depois teve uma reunião e resolveram não fazer mais. Que medo é esse do voto auditável? Estávamos na frente do Exército não para intervenção militar, mas para que lei eleitoral fosse cumprida
No domingo do dia 8 de janeiro, a ré relatou que trabalhou o dia inteiro no acampamento na cozinha e no recolhimento das malas dos manifestantes que chegaram naquele final de semana. “Fiquei muito cansada depois do almoço. Quando entrei no Instagram, eu vi essa postagem do governador Ibanês [Rocha, do Distrito Federal], falando que poderíamos ir para a Esplanada e que estava preparado para as pessoas se manifestarem pacificamente”, declarou.

A ré reiterou que só foi na manifestação por conta da suposta segurança garantida pelo governador do DF e que chegou na entrada da Esplanada dos ministérios às 15h. De lá, ela disse que levou cerca de meia hora de caminhada até chegar na praça dos Três Poderes. Ela negou participação na invasão aos prédios públicos e destruição de patrimônio público.

Segundo a mulher, logo depois de chegar na praça, começou a repressão das forças policiais que jogavam bombas na direção dos manifestantes. Ela correu, conseguiu chegar à rampa do Palácio do Planalto e entrar na sede do Governo Federal.

Ela disse que, logo depois, foi detida por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), levada para a Polícia Civil do Distrito Federal, passou por exame de corpo de delito e levada a Colmeia – a Penitenciária Feminina do Distrito Federal – junto com outras mulheres.

O período na prisão
“Na Colmeia, fomos muito humilhadas, xingadas de tudo quanto é nome. Os policiais nos trataram com muita dureza e desprezo. Você se sente um lixo. Foi um lugar onde nós nunca imaginamos porque não fizemos nada para estar naquele lugar”, disse.

A ré disse que, ao chegar na penitenciária, recebeu roupas da unidade com sinais de mofo e corrimentos de outras detentas que usaram a vestimenta. “Foi um momento bem traumatizante. Chegamos nas alas e tinha muito imundice, um lugar sujo, fedorento. O banheiro estava totalmente entupido. Tivemos que tirar cinco ou seis sacos de cocô de dentro vaso para conseguir usar”, contou.

Nos dias seguintes, a ré lembrou que mais mulheres foram chegando a penitenciária, que foram presas no Senado, no STF e no acampamento em frente ao QG do Exército.

“Foram momentos que eu nunca pensei passar. Muita fome nos primeiros dias. Para você ter noção, tínhamos que comer a marmita com a mão. Eram dois vasos sanitários e dois chuveiros para 137 mulheres. Tinha um tanque para beber e lavar a roupa em que a água saí preta. Na quarta-feira, começaram a chegar um kit que chama de Kobal, que tem um sabão que não faz espuma. Não tínhamos direito de reclamar de nada”, disse.

A ré também contou que a comida era azeda, tinha bichos, mal cozida e com pedaços de cabelo, vidro, plástico. “Um horror, um horror. Não tem nem como eu te descrever”, contou. Ela ficou sete meses presa na Colmeia, quando o ministro Alexandre de Moraes, relator das ações, decidiu pela soltura.

Mídia Jur

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