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Produtores rurais de MT temem revelar voto em Lula, diz empresário

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Um dos articuladores da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Mato Grosso e, provavelmente, o único grande empresário do agronegócio a escancarar o apoio ao petista nas eleições deste ano, Carlos Ernesto Augustin afirmou que os produtores rurais sentem medo de revelar voto no petista, em meio ao “ódio” que impera no setor – majoritariamente, bolsonarista.

Segundo Teti, como é conhecido no segmento agropecuário, outros grandes produtores também apoiam Lula, mas têm o mesmo receio de declarar o voto e serem repreendidos pelos colegas.

“É a ideologia. Os agricultores estão ensandecidos, não existe bom senso. Os produtores querem sair no tapa, não dá nem para conversar mais com os amigos. Ninguém fala que vota no Lula por medo do ódio”, afirmou.

Natural de Carazinho, no interior do Rio Grande do Sul, Augustin morou em Porto Alegre e se formou em Agronomia na universidade federal do Estado (UFRGS) no início dos anos 1980, antes de migrar para Mato Grosso, onde construiu um império a partir de Rondonópolis (212 km aoSul de Cuiabá).

Hoje, a sua empresa Petrovina comercializa mais de 1 milhão de sacas de 40 quilos de sementes de soja por safra, e é uma das maiores produtoras do país.

Teti é um dos fundadores e ex-presidente do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), órgão formado por 42 entidades de produtores e agroindústrias, com orçamento mensal de R$ 600 mil, que dá sustentação técnica à bancada ruralista do Congresso – a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

O IPA divide a sede com a FPA, em uma casa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília.

Mesmo assim, lembra ele, foi um dos poucos – senão o único – agricultores a declarar apoio a Lula.

Ele reuniu-se com o ex-presidente, em janeiro deste ano, em São Paulo, na companhia do deputado federal e ex-ministro da Agricultura Neri Geller (PP-MT), um dos poucos políticos ligados ao agronegócio que estão fazendo campanha declarada ao petista.

Desde lá, Teti diz ter se tornado vítima do “gabinete do ódio”, com ataques nas redes sociais e retaliações comerciais à sua empresa de sementes.

“Claro que tenho medo. Sou vítima do gabinete do ódio, que é pior que ser fichado no Dops”, disse referindo-se ao centro de repressão que atuou durante a ditadura militar.

“Antes de ser agricultor, eu sou um ser humano. Já passei pela ditadura e não quero isso de volta”, completou.

O empresário avaliou que a “posição ideológica” do setor produtivo, mais alinhada a Jair Bolsonaro, acabará no “day after” do segundo turno.

Convicto na vitória de Lula, ele afirmou que agricultores e a bancada ruralista vão se aproximar do ex-presidente, imediatamente após o resultado das urnas.

Crítico das ações de Bolsonaro, ele disse que a agricultura está mal liderada e que os produtores perdem muito com as “bravatas” e as atitudes “totalitárias” do atual Governo, bem como com “tanto ódio” esbravejado pelas lideranças do campo contra o ex-presidente, nessa campanha.

“Como ficam os pleitos do setor produtivo, depois de tanto ódio contra o Lula? No mínimo, os produtores tinham que ser mais civilizados. No dia seguinte da eleição, todos vão cair no colo do Lula. Antes do agricultor, porém, serão os deputados daqui”, disse Augustin.

“O agricultor é pragmático, essa posição ideológica acaba na eleição”, completou.

Apesar da composição de um Congresso Nacional mais “direitista” para a próxima legislatura, Augustin disse que muitos parlamentares que se dizem “bolsonaristas raiz” mudarão de lado, assim que Lula for eleito.

Com esse movimento, vislumbra, o Centrão apoiará o petista e dará governabilidade em 2023.

Na semana passada, a bancada ruralista foi até o Palácio da Alvorada declarar apoio oficial à reeleição de Bolsonaro, a exemplo do que fez em 2018.

Carlos Augustin disse que não tentará mais diálogo com entidades e lideranças do setor agropecuário, na corrida pelo segundo turno.

“A agricultura está muito mal liderada, por pessoas com pensamento atrasado e destoado desse mundo novo, e o agricultor vai de arrasto”, pontuou.

“A bancada virou um ninho de bolsonaristas, mas é temporário”, indicou.

O empresário de Mato Grosso comparou Lula ao ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, e disse que o petista não buscará vingança, nem quer retaliar ninguém.

Durante entrevista ao jornal Valor Econômico,Teti repetiu três vezes que está “entusiasmado” com a forma com que Aloizio Mercadante acolheu as propostas elaboradas por Neri Geller, pelo senador Carlos Fávaro e ele.

As ideias focam na conversão de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas em lavouras, no sequestro de carbono e pagamento por serviços ambientais, juros mais baratos para linhas de crédito rural destinadas a investimentos, práticas sustentáveis e uso de bioinsumos.

Teti também exaltou a credibilidade de Lula para representar o país novamente em discussões internacionais, principalmente sobre meio ambiente, e restabelecer o respeito ao país e ao setor agropecuário nacional.

Segundo ele, a aprovação de legislações antidesmatamento pela Europa e o endurecimento de regras para a importação de produtos que possam ter origem em áreas desmatadas “são retaliações a Bolsonaro”.

Sobre os nomes em discussão para comandar o Ministério da Agricultura em um possível novo governo Lula, Teti diz que é inevitável não cogitar Neri Geller para o cargo. “É o mais preparado”, afirmou.

Recentemente, voltaram à mesa o nome do ex-ministro do primeiro Governo Lula, Roberto Rodrigues, e da senadora Kátia Abreu (PP-TO), que foi ministra no segundo mandato de Dilma Rousseff e não se reelegeu ao Senado.

Na semana passada, a senadora postou um vídeo nas redes sociais pedindo voto para o ex-presidente.

KAMILA ARRUDA/Diário de Cuiabá
Da Reportagem

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