O Ministério da Saúde lançou nesta quarta-feira, 24, pela segunda vez, o programa “Diagnosticar para Cuidar”. Ao reciclar a estratégia, o ministério propôs a compra de novo tipo de exame de anticorpos e incluiu uso de critério clínico, ou seja, dispensando testes, para diagnosticar a covid-19.
Como o Estadão revelou, o ministério vinha discutindo desde o começo de junho, com Estados e municípios, o uso deste tipo de diagnóstico. O procedimento hoje é feito como exceção em alguns locais do País. A tendência, na leitura de gestores do SUS, é que o número de casos confirmados da covid-19 aumente.
As análises por critério clínico consideram, por exemplo, tomografia, sintomas da doença e contato do paciente com pessoas infectadas pelo vírus. Na leitura secretários locais que participam o debate, a medida evita ficar refém da disponibilidade de testes.
“A nossa alteração nacional foi no sentido de harmonizar com aquilo que já é feito na prática diária clínica. Na impossibilidade de realização do exame laboratorial, essas opções estão disponíveis”, disse o diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis, Eduardo Marques Macário.
Defendido por parte dos gestores do SUS, o diagnóstico sem uso de teste não é unanimidade. “O ideal é que sempre tenha o exame PCR, com detecção do material genético do vírus, pois o quadro clínico da covid-19 é muito amplo. Ainda estão descobrindo novas possibilidades”, disse o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), no começo de junho à reportagem.
Reciclagem
O programa, com o mesmo nome, já havia sido lançado em 6 de maio, ainda na gestão do ex-ministro Nelson Teich.
O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia, disse que a ideia é aumentar o diagnóstico no interior do Brasil, onde a incidência da doença avança.
Correia afirmou que o diagnóstico precoce permite o iniciar o tratamento com medicamentos ainda numa “fase bastante inicial” da doença. O ministério tem defendido uso de fármacos sem eficácia comprovada contra a covid-19, como a cloroquina.
A essência do programa segue a mesma: usar cerca de 24 milhões de testes RT-PCR e 22 milhões de testes rápidos para diagnóstico da doença no País. O número proposto de exames já havia sido divulgado no fim de abril.
Uma novidade na reformulação da estratégia do governo federal é eliminar a meta para conclusão dos testes, antes marcada para dezembro. “A gente não tem uma data finalizada. Vamos testando a população brasileira”, disse Correia.
Dois meses depois, o ministério não conseguiu atingir a promessa de entrega de exames. Apesar de ter recebido 11,5 milhões de testes RT-PCR, tido como “padrão ouro” por detectar a presença do vírus, a pasta só distribuiu 3,8 milhões.
Pelo programa lançado em maio, a ideia era usar 13 milhões de testes RT-PCR até agosto. O ministério argumenta que ainda tem unidades estocadas pela falta de insumos para realização do exame, como “swab”, uma espécie de cotonete para coleta de amostras, que completa o kit que é enviado a Estados e municípios.
O ministério também teve problemas para compra de testes de anticorpos. O exame é mais barato, mas tem sensibilidade mais baixa e deve ser aplicado após o 8º dia de sintomas.
Como o Estadão revelou, uma busca por 12 milhões de exames do tipo “rápido” (imunocromatografia), aberta há mais de 2 meses, travou no ministério. Nesta quarta-feira, 24, a pasta anunciou que fará novo processo licitatório de 12 milhões de exames que buscam anticorpos. A pasta, no entanto, passará a buscar testes do tipo “ELISA” ou “ECLIA”, que são mais precisos e analisados em laboratório, segundo o ministério.
O Ministério da Saúde informou ainda a rede pública realizou, até 23 de junho, 860.604 exames do tipo RT-PCR para a covid-19. Cerca de 620 mil foram feitos na rede privada, totalizando 1,48 milhão de exames.