O diretor para doenças infecciosas da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Marcos Espinal, apontou nesta terça-feira, 14, que não há evidências de que o Brasil ou alguma área do País tenha atingido a imunidade de rebanho contra a covid-19. O termo é usado pra definir uma situação de proteção coletiva, em que grande parte da população está imunizada e impede o surto de se alastrar.
“Para atingir essa imunidade, é estimado que entre 50% e 80% da população de determinado local precisa ter sido imunizada ou infectada pelo vírus”, responde Espinal quando questionado sobre a situação de Manaus, no Amaznonas, uma das mais afetadas em todo País. Ele citou um estudo que aponta que apenas 14% dos moradores da capital têm anticorpos contra o novo coronavírus. “Isso não é imunidade de rebanho”.
O diretor também alerta que buscar a proteção coletiva por meio de novas infecções é uma estratégia equivocada. “Não recomendamos. O custo em vidas humanas, na economia, na saúde e na sociedade seria altíssimo”. Outra justificativa para a não adoção dessa medida é a falta de conclusões sobre o tempo que dura a imunidade contra a covid-19, que pode ser bastante curto. Espinal apontou uma pesquisa da King’s College de Londres segundo a qual os anticorpos capazes de destruir o vírus decaem após três meses do paciente adquirir a doença.
América registra 50% das mortes do mundo
Durante a coletiva da Opas, a diretora da organização, Carissa Etienne, disse que a mortalidade está alta no continente e os números são motivo de preocupação. A região soma 6.8 milhões de infectados, mais de 288 mil mortes e permanece como atual epicentro da pandemia. Na última semana, correspondeu à 60% do número de novos casos globais e 64% dos óbitos.
Carissa apontou que essa ascensão tem sido mais acentuada no Brasil, México e Estados Unidos, que detêm 77% das mortes no mundo na última semana. “Esses países estão vivendo, atualmente, um dos surtos mais mortais da doença”.
Vacina subsidiada
A organização também anunciou na coletiva de terça-feira que está negociando com a Aliança de Vacinas (Gavi) para que países vulneráveis do continente americano recebam a imunização contra covid-19 de forma subsidiada e a preços acessíveis.
A Opas tem um mecanismo de cooperação chamado Fundo Rotativo, por meio do qual suprimentos médicos são comprados em nome de seus Estados-membros, independentemente de tamanho ou condições econômicas. Trinta países aderiram ao programa de vacinas contra o coronavírus por meio do fundo.
Segundo Carissa, a medida é importante devido a desigualdade presente no continente. “Precisamos melhorar nossa capacidade regulatória em imunização e nossos programas de vacinação. E precisamos trabalhar nisso agora, para garantir que alcancemos as comunidades vulneráveis quando tivermos uma vacina efetiva”.