As medidas anunciadas pelo governo para garantir o fornecimento de energia elétrica este ano, como o acionamento de todas as usinas termelétricas disponíveis e o aumento da importação de energia da Argentina e Uruguai, devem afastar o risco de racionamento no curto prazo.
A afirmação foi feita nesta terça-feira (15) por diretores da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Eles participaram de audiência pública na Comissão de Minas e Energia. O debate foi proposto pelos deputados Christino Áureo (PP-RJ) e Danilo Forte (PSDB-CE) e discutiu a crise hídrica.
De acordo com o ONS, os reservatórios de hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da capacidade de armazenamento do País, passam pela pior seca desde que os indicadores começaram a ser medidos, em 1931. Hoje, o nível de armazenamento é de 30,8%. Em algumas usinas, como Itumbiara e Água Vermelha, está em torno dos 10% (veja no gráfico).
“Com essas ações, a gente garante que chega ao final do ano com energia e potência necessárias para o consumo da sociedade”, disse o diretor geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi. Na avaliação da entidade, com as medidas anunciadas os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste chegarão em novembro, quando começa a estação chuvosa, com 10,3% da sua capacidade. Sem as medidas, chegaria a 7,5%.
Conta de luz
O diretor-geral da Aneel, André Pepitone, reconheceu a gravidade da crise hídrica, mas disse que a situação do Brasil hoje é melhor do que em 2001, quando houve o racionamento. Segundo ele, fatores como a expansão das linhas de transmissão e inclusão das fontes renováveis na matriz elétrica (como solar e eólica) deixaram o País mais preparado para o momento. “Nós temos uma segurança energética hoje muito mais robusta do que havia há 20 anos”, afirmou.
Pepitone disse ainda aos deputados que o acionamento das termelétricas vai elevar a conta de luz dos brasileiros. O custo adicional do despacho destas usinas é estimado em quase R$ 9 bilhões entre janeiro e novembro, valores que serão repassados para os consumidores em 2022.
Também convidado à audiência pública, o coordenador-geral de Ciências da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilvan Sampaio, disse que a cada ano a estação seca tem começado mais cedo e se prolongado mais em todo o País. “Isso é recorrente nos últimos 20 anos”, afirmou.
Participação do governo
Durante a audiência pública, o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) disse ser contra a ideia do governo, divulgada na imprensa, de criar uma nova instância para coordenar o plano de ação contra o racionamento de energia elétrica. “Ao invés de instituir novas formas de gestão, é melhor fortalecer as atuais instâncias”, disse Jardim.
O deputado Danilo Forte cobrou a maior participação do governo na discussão de medidas estruturantes para o setor elétrico, como a liberalização do mercado e geração distribuída. Ele foi apoiado pelo presidente da comissão, Edio Lopes (PL-RR). “Nós carecemos de uma posição mais firme do governo”, disse Lopes.
Já o deputado Christino Áureo destacou a importância da diversificação da matriz energética brasileira nos últimos anos, mas disse que o País não pode abrir mão das fontes fósseis. “Não podemos demonizar o uso de fontes fósseis, especialmente das térmicas. Elas nos darão um suporte muito grande nessa travessia”, afirmou.
Os deputados Padre João (PT-MG) e Elias Vaz (PSB-GO) se posicionaram contra aumento de conta de luz. “Se tem uma coisa que a gente não pode é aumentar ainda mais a carga sobre o setor produtivo e os trabalhadores, que estão em uma situação difícil hoje”, disse Vaz.
Fonte: Agência Câmara de Notícias