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Uma passagem de Brizola por Mato Grosso. Por Ademar Adams

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À guisa de saudar o centenário de Leonel Brizola neste sábado, 22 de janeiro, trago uma passagem da vinda de Brizola ao estado em 1981, para ajudar na divulgação do seu partido ainda embrionário em Mato Grosso.

A recepção foi em Várzea Grande num grande churrasco onde os trabalhistas ouviram Brizola em um dos seus longos e animados discursos.

Os dirigentes do partido em Cuiabá eram o vereador Getúlio de Paula, o radialista Mário Marcio Torres, o dentista Moisés Martins, o jovem Isaac Póvoas Neto. Destacava-se também o jurista e poeta Silva Freire, que então era pré-candidato a governador nas eleições de 1982.

Levei para o encontro um amigo que eu fizera nos tempos de Cotriguaçu, o Jorge Silva, filho de uma antiga vereadora do PTB em Giruá no Rio Grande do Sul. E na hora falei para o Brizola que o Jorge não estava ajudando na construção do partido. Ele levou um pito do velho líder e assim se dispôs a acompanhar a caravana que no dia seguinte foi para um encontro em Rondonópolis. Assim, tive carona garantida.

Na viagem a Rondonópolis fomos parando nas pequenas cidades para tomar café, caldo de cana, cerveja e comer pastel. O Brizola, muito à vontade, chapéu de palha para aliviar do sol, nem parecia aquele aguerrido governador gaúcho que peitou e derrotou a milicada que não queria deixar o Jango assumir a presidência da República com a renúncia do Jânio Quadros.

A certa altura da estrada o carro do Jorge teve um pneu furado. Paramos num posto de gasolina para o conserto. Enquanto o trabalho era feito, Jorge falou pro dono:

– Sabe que estamos indo pra Rondonópolis com o doutor Leonel Brizola?

– Duvido, respondeu, capaz que o Brizola ia passar na frente da minha casa e não chegar…

Surpreso com a fala perguntei qual a sua ligação com o líder trabalhista. Ele me contou uma longa história.

O senhor Lúcio (com o tempo esqueci o sobrenome) me contou que fora motorista particular do Brizola quando este era governador gaúcho. E mais, que sua mulher dona Helena era então enfermeira na área materno infantil do hospital da Beneficência Portuguesa em Porto Alegre e ali atendera a família do político.

Contou ainda que quando o governador e dona Neusa viajavam, deixavam os filhos aos cuidados do casal. Contou mais coisas que já não me lembro. Então falei pra ele que na viagem de volta iríamos parar a caravana no posto de gasolina para ele rever o seu antigo patrão.

No outro dia, na hora do churrasco, fui conversar com o Brizola sobre o seu antigo motorista. Perguntei se ele ainda se lembrava do seu Lúcio.

– Mas claaaro! Ele e a esposa cuidavam dos nossos piás quando viajávamos!

E aí combinamos que na volta pra Cuiabá o Jorge e eu iríamos na frente e esperaríamos a caravana para fazer a visita ao antigo motorista.

Silva Freire que estava conversando com o Brizola, me cumprimentou pela história dizendo esse era o jeito certo de fazer política.

Quando partimos para o retorno, descobri que o senhor Lúcio não acreditara na nossa promessa de levar o Brizola até ele. Quando chegamos ao posto de gasolina estava fechado e o vigilante nos informou que o casal tinha ido a Cuiabá. Onde estariam na Capital, ele não sabia. Assim, “furamos o mirim”, como se dizia antigamente no sul.

A caravana chegou e avisamos do ocorrido, e que não tinha como localizar o casal em Cuiabá. Fomos embora.

À noite Leonel Brizola foi o entrevistado num programa de televisão em Cuiabá, não me lembro se foi na TV Centro América ou na Brasil Oeste.

No ano seguinte Leonel Brizola foi eleito governador do Rio de Janeiro e nós do PDT aqui em Mato Grosso tivemos um fracasso geral, pois não elegemos ninguém.

É que os milicos, que desgraçadamente nos governavam, com medo de mais uma derrota do PDS, mudaram a regra do jogo inventando a vinculação do voto.

Com essa vinculação o eleitor ficava obrigado a votar de vereador a governador em candidatos do mesmo partido. Com a eleição polarizada em Mato Grosso, entre o Padre Pombo do PMDB e Julinho do PDS, o nosso partido foi obrigado em inventar um candidato a governador e concorrer, pois o Silva Freire ante a nova regra desistira.

E mais, para valer a eleição de qualquer candidato no país, o partido dele deveria concorrer em pelo menos nove estados da federação e o PDT ainda engatinhava. Assim fomos forçados a participar do pleito, mesmo sem perspectiva, para ajudar a manter eventual eleição do Brizola no Rio.

Em outra oportunidade vou contar detalhes da eleição, pois também fui candidato kamicaze a deputado federal.

Por ora resta dizer: Brizola vive! Viva Brizola!

Ademar Adams é jornalista em Cuiabá

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