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Animais agonizam com fome e sede durante incêndios no Pantanal

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númeras sucuris queimadas, uma queixada grávida convulsionando pelo calor, uma anta idosa em uma terra desolada e muitas carcaças de animais carbonizados. Animais agonizam de fome e sede durante os incêndios que atingem o Pantanal mato-grossense nas últimas semanas. As chuvas, que caíram na região, ajudaram a diminuir as chamas, mas o trabalho de combate de bombeiros e brigadistas ainda não foi encerrado.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, os focos de incêndios florestais no Pantanal estão no Parque Estadual Encontro das Águas (PEEA), área que concentra a maior quantidade de onças-pintadas do mundo e que em 2020 teve 86% de sua vegetação destruída pelo fogo, em Poconé.

O Instituto Centro de Vida (ICV), com base em dados de satélite da Nasa, aponta que cerca de 5 mil hectares do parque já foi destruído pelas chamas – o que equivale a quase 5 campos de futebol. O fogo avança sob a região Norte e Noroeste do PEEA e já saiu até do próprio parque. A organização aponta que o incêndio começou no dia 04 deste mês.

Segundo o voluntário da ONG SOS Pantanal, biólogo paulista Gustavo Figueirôa, o local de combate às chamas no parque é de difícil acesso. Ele diz que é necessário chegar ao final da Transpantaneira e pegar um barco para ter acesso a região onde está o fogo. “Foi bem desesperador ver o fogo de novo”, conta o biólogo, que também chegou a atuar no combate aos incêndios do ano passado.

Grad Brasil

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Gustavo comenta que os bombeiros e brigadistas suspeitam que o fogo tenha iniciado no parque após a queda de um raio, já que estava trovejando alguns dias antes do incêndio começar. Reforça essa suspeita pelo local onde começou as chamas ser bastante remoto. “Se fosse [criminoso], não colocaria no meio. Colocaria na borda do rio”, diz.

Em 2020, o equivalente a 3,9 milhões de campos de futebol foram destruídos pelo fogo. Em 2021, Gustavo aponta que são 700 mil.

A organizações não-governamentais apontam que os incêndios não estão tão graves como no ano passado, mas, nem por isso, a situação é menos preocupante. No final de 2020 e início de 2021, não choveu o suficiente para o Pantanal se recuperar, o que, junto com os incêndios, tem agravado a situação de toda a forma de vida na região. A situação faz parte de uma crise hídrica que atinge o país.

Resgates

Voluntários, brigadistas e bombeiros têm se deparado com vários animais desidratados, famintos, queimados, presos em lama, além de carcaças de bichos que não conseguiram escapar do fogo.

De acordo com a ONG AMPARA Silvestre, a fêmea de porco-do-mato (queixada) foi encontrada no meio da estrada de dentro da Reserva Particular do Sesc Pantanal (RPPN). Estava já em choque, convulsionando, pelo calor (hipertermia). Na avaliação, o médico veterinário Jorge Salomão, junto com uma equipe, constatou que ela estava prenha.

Foi jogada água sobre o animal para diminuir a temperatura do corpo. Após um atendimento e uma intervenção, a fêmea de porco-de-mato foi recuperando as forças. A equipe não viu necessidade de outros procedimentos, se afastou para observá-la e esperou que ela se juntasse ao bando, que se escondeu na mata com a chegada dos humanos.

Os voluntários da SOS Pantanal também resgataram uma sucuri queimada, que estava em um lago próximo ao terceiro maior foco de incêndio no pantanal mato-grossense. Foi levada para um abrigo no Sesc Pantanal muito debilitada e está sendo cuidada por voluntários da AMPARA. “Infelizmente, a sucuri está bastante debilitada precisará de um longo processo de tratamento”, informa a ONG em suas redes sociais.

SOS Pantanal

SOS Pantanal  inc�ndios

Os voluntários também têm se deparado com animais famintos e com muita sede. Chegaram a dar água para uma espécie de rato, além de terem encontrado um filhote de veado com as patas queimadas na Transpantaneira. Uma fêmea de anta, idosa, que já estava sendo monitorada há cinco dias pelo Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD), foi encontrada em uma área queimada, sem água ou qualquer fonte alimentação.

Grad Brasil

animal morto pantanal

O biólogo Gustavo também tentou resgatar sucuris, que podem chegar até 100kg.

Em uma das ocasiões, ele disse que o réptil estava em uma única poça d’água disponível da área. A água estava bem quente e o biólogo tentou salvr o animal, mas ele não sobreviveu.

Situação dramática

Ao , a coordenadora do Grupo de Resgate de Animais em Desastre (GRAD) e médica veterinária, Vânia Plaza, esperava que, depois do que ocorreu com o Pantanal em 2020, o Governo tomasse providências. A ONG reúne médicos veterinários, estudantes e biólogos, que trabalham sem remuneração, para resgate de área de animais em área de risco. “A gente percebe que isso não foi feito”, diz.

A veterinária acredita que, para os bichos, a situação da destruição do parque está igual ao ano passado. “A falta de água é a situação grave por que, ali no bioma, a presença de água é essencial para que possam sobreviver”, disse. Vania conta casos em que a água de corixos se mistura com a terra, transformando em verdadeiro lamaçal, que tem deixado os animais presos e reféns do fogo.

Ela fala que a atuação é muito difícil, já que os animais silvestres não estão acostumados com humanos, para tirá-lo daquela situação. A abordagem em que ser feita com cuidado e apenas por um profissional da área veterinária. Ela fala que os profissionais que estão no Pantanal são difícil, já que o local está seco, quente e tudo queimado.

Grad Brasil

animal morto pantanal

“O bombeiro fala que [os médicos veterinários] podem entrar e aquele local está um forno. O chão está quente. Muitas vezes, os voluntários perdem seus equipamentos. Por exemplo, derrete botina ou bota, mesmo que seja material específico para trabalhar em incêndio”.

A médica veterinária diz que o pantanal está muito destruído. “Mal estava se recuperando e, áreas que não tinham sido queimados, estão sendo”. Ela pontua que será necessário uma avaliação científica rigorosa para apura os impactos do fogo no bioma, mas ela adianta que pesquisadores da área ambiental já avaliam como pouco provável uma recuperação no longo prazo, mudando toda a sua característica.

Gustavo, da SOS Pantanal, também pontua que não dá para comparar a situação desse ano com a do ano passado. “2020 foi bem acima da média histórica. Foi muito ruim, o pior da história, não pode ser usado como base. Ele também explica que, mesmo com a chegada tímida das chuvas, os voluntários estão em alerta. “Ainda estamos no auge do período de seca”, diz.

O efetivo de recusos humanos envolvidos no combate as chamas envolve 16 bombeiros de Mato Grosso, 16 militares da Força Nacional, 10 brigadistas voluntários da SOS Pantanal e cerca de 10 voluntários da GRAD entre veterinários e estudantes, além de fazendeiros da região, proprietários de pousadas, Ibama e Secretária de Estado de Meio Ambiente (Sema).

Ajuda com doações

O trabalho de ONGs como GRAD, SOS Pantanal e Ampara Silvestre são feitos e forma voluntária e precisam de doações para manter as equipes na região fazendo o trabalho. O dinheiro é usado para transporte, hospedagem e alimentação.

Allan Pereira/RD News

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