Home Brasil Com receio, Bolsonaro silencia sobre morte de miliciano

Com receio, Bolsonaro silencia sobre morte de miliciano

9 min ler
0

O presidente Jair Bolsonaro evitou falar com a imprensa por duas vezes nesta segunda-feira (10), um dia após ação policial resultar na morte do ex-capitão Adriano da Nóbrega, acusado de comandar a mais antiga milícia do Rio de Janeiro e suspeito de integrar um grupo de assassinos profissionais no estado.

Foragido há mais de um ano, o ex-PM é citado na investigação que apura a prática de “rachadinha” no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro quando o filho mais velho do presidente era deputado estadual no Rio de Janeiro.

O presidente também não comentou o tema em nenhuma de suas publicações em redes sociais feitas ao longo deste domingo (9) e segunda-feira. O comportamento destoa do habitualmente adotado por Bolsonaro: comemorar ações policiais em que os alvos são encontrados e até mortos.

Capitão reformado do Exército, ele foi eleito com forte apoio de militares e costuma defender publicamente as ações da categoria.

De acordo com assessores palacianos, o silêncio do presidente reflete sua preocupação com a situação de seu primogênito. A aliados, ele já deixou transparecer a inquietação que tem com a apuração de um esquema de “rachadinha” – que consiste em coagir servidores a devolver parte do salário para os parlamentares. O caso já levou a ações de busca e apreensão em endereços de Flávio.

Bolsonaro já confessou temer que as apurações possam resultar em algo mais grave. Publicamente, ele evita comentar o caso e já encerrou uma série de entrevistas quando foi questionado sobre o assunto. Na mais recente delas, em dezembro do ano passado, pediu que repórteres “ficassem quietos” e disse em tom ofensivo que um deles tinha “uma cara de homossexual terrível”.

Na manhã desta segunda-feira, Bolsonaro não permitiu que a imprensa fizesse perguntas e dirigiu críticas aos jornalistas sem apontar motivo específico. “[Queria] compartilhar com vocês, mas tudo será deturpado. Então lamento, mas não vou conversar com vocês. O dia que vocês, com todo o respeito, transmitirem a verdade, será muito salutar conversar meia hora com vocês. [Falar de] problemas dos mais variados possíveis, dá para resolver, gostaria de compartilhá-los. Repito: não o faço porque, ao haver deturpação, a solução ficará mais difícil, talvez impossível”, disse.

À noite, ao entrar no Palácio da Alvorada, cumprimentou apoiadores e evitou os jornalistas.

Bolsonaro foi aconselhado a evitar o tema e a desviar do assunto. Em situações como essa, ele costuma endurecer o discurso contra a imprensa.

O silêncio também foi adotado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e pelos filhos do presidente com mandato – além de Flávio, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

Ativo nas redes sociais, Eduardo não comentou a morte do ex-capitão do Bope. Desde que a notícia veio à tona, na manhã de domingo, Eduardo retuitou vídeo que mostra a participação do pai em um evento evangélico e fez postagens com críticas à oposição.

Também dedicou tempo para comemorar a derrota do documentário “Democracia em Vertigem” no Oscar e para alfinetar o governador paulista, João Doria (PSDB), pelos transtornos provocados pela forte chuva que atingiu São Paulo nas últimas 24 horas.

Assim como o presidente, Eduardo costuma usar as redes sociais para comemorar ações policiais. No último dia 7, por exemplo, parabenizou a Rota, tropa de elite da PM de São Paulo, por uma notícia que mostrava aumento de 98% das mortes cometidas pelos agentes da divisão.

“Parabéns, Policiais! O que mais causa a morte de policiais é o receio de apertar o gatilho por medo de ser condenado num tribunal do júri ou massacrado pela imprensa – e em ambos os casos ele não tem advogado de graça. Nesta fração de segundos o bandido não titubeia e o assassina”, escreveu o deputado.Flávio passou o dia em Brasília, mas nem ele nem seu advogado quiseram se manifestar sobre a morte de Adriano.

De acordo com o Ministério Público, contas bancárias controladas pelo ex-policial foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio suspeito de operar o esquema no gabinete do então deputado estadual no Rio. Queiroz é amigo do presidente da República.

Adriano teve duas parentes nomeadas no antigo gabinete de Flávio. Mensagens interceptadas com autorização judicial mostram ele discutindo a exoneração da esposa, Danielle da Nóbrega, do cargo.

Ele também foi defendido por Jair Bolsonaro, então deputado federal, em discurso na Câmara em 2005, quando foi condenado por um homicídio. O ex-PM seria absolvido depois em novo julgamento.

Enquanto estava preso preventivamente pelo crime, foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes.

Parlamentares de diversos partidos consideraram a morte de Adriano um episódio grave, mas dizem acreditar que não haverá consequências no Congresso pois Flávio, que já assumiu o mandato como alvo das suspeitas, costuma ter atuação mais discreta no Senado.

Carregue mais postagens relacionados
Carregue mais por Porto Notícias
Carregue mais em Brasil
Comentários estão fechados.

Verifique também

Mulher procura pelo irmão João Ferreira Azevedo que segundo informações pode morar em Porto dos Gaúchos

Eva Ferreira Azevedo que mora em Cuiabá, entrou em contato com a redação pedindo ajuda par…