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Rússia reconheceu a derrota para a Ucrânia ao se retirar de Kiev

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No início do segundo mês de guerra, a Rússia dá todos os sinais de que reconheceu a derrota na guerra que promoveu contra a Ucrânia. A retirada das forças que cercavam a capital Kiev é uma admissão do fiasco da campanha e mostra que Vladimir Putin jogou a toalha. Não vê mais a possibilidade de ocupar a capital ucraniana e colocar um governo fantoche no país vizinho, que era seu principal objetivo.

Foi antes de mais nada uma derrota militar. Os ucranianos mostraram resiliência e preparo bélico. Abastecidos por modernos drones e foguetes antitanque ocidentais, conseguiram frear as tropas inimigas de uma forma surpreendente. Impuseram perdas enormes a Putin.

Calcula-se que de 7 a 15 mil soldados russos tenham perdido a vida na aventura militar até agora, na maior taxa diária de mortes desde que enfrentaram os nazistas nos anos 1940. Analistas se surpreenderam com tanques que eram sucata, recrutas despreparados e falta de planejamento básico.

A modernização das Forças Armadas russas na era Putin produziu apenas uma força nuclear de dissuasão hipertrofiada e inútil para a campanha atual. O russo já utilizou até 75% do seu Exército, e agora recorre às pressas a mercenários do grupo Wagner (de inspiração neonazista) deslocados da África e da Síria.

As chances de sucesso são pequenas. A Ucrânia virou um pesadelo militar comparável à derrota no Afeganistão, que marcou o último suspiro bélico do império soviético nos anos 1980.

A dimensão desse fracasso é maior do que parece à primeira vista. Putin sonhava reeditar a cortina de ferro soviética e mostrava nostalgia até do antigo império czarista. Empregou a mesma tática militar consagrada por Stálin: usar a força bruta e terror, nem que fosse preciso dizimar populações inteiras e transformar as regiões anexadas em terra devastada. Não hesitaria em fazer com Kiev o que já praticou em Aleppo (Síria) e em Grozny (Chechênia).

Para administrar o território anexado, contava com o sequestro de jornalistas e políticos locais e sua substituição por fantoches políticos administrados pelo Kremlin. A realidade se impôs.

Ocorre que o comunismo fracassou e o império soviético já tinha desmoronado como um castelo de cartas nos anos 1990 exatamente por sua incapacidade de sustentação e renovação. Os ucranianos são cientes disso, e nos últimos anos mostraram com sangue, suor e lágrimas que não aceitariam se transformar em um satélite da Rússia pós-comunista. Putin acreditou no seu próprio discurso de que o Ocidente era decadente.

Contou com a fragmentação da União Europeia e com a decadência geopolítica dos EUA, teoricamente demonstrada pela ascensão de Donald Trump. Mas assistiu exatamente o contrário disso.

A desastrada incursão militar de Putin fortaleceu a União Europeia como não acontecia desde a fundação do bloco econômico. A Otan, cuja dissolução chegou a ser cogitada nos últimos anos, renasceu fortalecida e terá um poderio militar maior do que na época da Guerra Fria, inclusive com o envio de tropas para regiões que foram ocupadas no século XX por Moscou, como os países bálticos. Alemanha e Japão estão se rearmando, abandonando uma política pacifista estabelecida após a Segunda Guerra. Com Joe Biden, os EUA voltaram a liderar as democracias ocidentais e podem ter o maior orçamento militar da história.

É um cenário de pesadelo para Putin, que conseguiu se firmar no poder por meio de uma cleptocracia de oligarcas, financiada com a venda de petróleo para a Europa. As sanções econômicas inéditas em escala global secaram a fonte de sustentação política do ditador russo. Ele está encurralado. Além de empobrecer a população, precisou endurecer seu regime autoritário com censura feroz, fim da imprensa livre e uma perseguição política que lembra a época da KGB (seu berço político e ideológico).

Putin não pode avançar na Ucrânia porque precisaria dizimar um país de 40 milhões de habitantes que já optou por se integrar à União Europeia. A melhor opção para o russo é transformar a Ucrânia em uma nova Coreia, dividindo a nação em duas regiões separadas militarmente. Mas até isso traria um custo econômico que ele não tem como comportar. Putin achou que recriaria a grande Rússia. No final, acabou cercado politicamente e economicamente. Virou o refém de sua própria aventura militar.

Marcos Strecker/Istoé

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