A menos de 48 horas da abertura das urnas para o segundo turno da eleição presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) se enfrentaram no último debate da campanha, realizado na noite de sexta-feira (28) pela Rede Globo.
Atrás nas pesquisas, Bolsonaro buscou mais confrontar Lula em temas como corrupção, programas sociais e assuntos da chamada “pauta de costumes”. Lula, por sua vez, evitou ataques mais frontais na maior parte do tempo, mantendo suas falas em torno de relembrar e defender os feitos de seus governos entre 2002 e 2010.
Apesar da proximidade com a votação e da polarização que toma conta do país, o debate foi, em geral, um dos menos tensos de toda a campanha eleitoral. A seguir, alguns dos momentos que marcaram o encontro dos candidatos na Rede Globo:
Caso Roberto Jefferson e ataque a Bonner
Em um dos embates mais agressivos do primeiro bloco, Bolsonaro acusou Lula de ser “bandido” e voltou a atacar, inclusive, o mediador do debate, William Bonner.
“Você dizer que foi absolvido? Só se for pelo Bonner, que disse que você foi absolvido. Você é um bandido, Lula. Lula cadê o Palocci, cadê o Zé Dirceu?”
Lula, então, retorquiu mencionando o ex-deputado federal Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro e preso no início da semana após ter atirado com um fuzil e atirado granadas contra a Polícia Federal. “Ele acabou de tentar esconder o Roberto Jefferson, o pistoleiro dele”, disse Lula.
Bolsonaro respondeu: “Roberto Jefferson: teu amigo, Lula”. “O Roberto Jefferson foi o delator. O Roberto Jefferson explodiu o seu governo, o mensalão.”
Ao final do bloco, as afirmações de Bolsonaro provocaram um curioso “direito de resposta informal” de Bonner: “Eu de fato disse na entrevista do JN que o candidato Lula não deve nada à Justiça”, afirmou, reforçando que “como jornalista, eu não digo coisas da minha cabeça”, lembrando que os processos contra Lula foram anulados por decisões do Supremo Tribunal Federal.
Política externa
Dizendo que Bolsonaro “se autoexilou” e provocou um isolamento do Brasil no mundo, Lula puxou o tema da política externa: “O que você vai fazer para reinserir o Brasil no mundo? Ninguém quer conversar com você”.
Bolsonaro respondeu: “Temos três vezes mais acordos no meu governo em quatro anos do que o seu em oito”.
‘Não quero ficar perto de você’
Ainda no primeiro bloco, Lula e Bolsonaro protagonizaram um dos momentos que mais repercutiram nas redes sociais, apesar da brevidade.
Ao questionar Lula novamente sobre programas sociais, Bolsonaro pediu que o rival ficasse próximo para responder: “Fica aqui, rapaz. Fica aqui, Luiz Inácio”.
Lula respondeu imediatamente: “Não quero ficar perto de você”.
O diálogo trouxe à lembrança outro momento, este do debate da Globo ainda no primeiro turno, quando Bolsonaro pousou a mão no ombro de Lula durante uma resposta.
Fome e ataque à imprensa
No segundo bloco, que impôs aos candidatos escolha de um tema disponível em uma lista, Lula escolheu o tema combate à pobreza e afirmou que seu governo foi auspicioso: “O povo brasileiro tinha dinheiro para comida, para trocar de fogão, de máquina de lavar roupa, para viajar para dentro e fora do Brasil”. E questionou “por que o povo ficou tão miserável depois que Bolsonaro assumiu a Presidência”, lembrando reportagem da Folha de S.Paulo sobre 33 milhões de famintos no país.
Em resposta, Bolsonaro ironizou Lula por usar o jornal como fonte: “Pelo amor de Deus, Lula, Folha de S.Paulo?” E acrescentou: “No nosso governo, quem estiver passando necessidade procura, bate na porta de alguém que esse alguém te ajuda a cadastrar (no Auxílio Brasil)”.
Aborto
Levando o debate para a chamada “pauta de costumes”, Lula relembrou um discurso de Bolsonaro na tribuna da Câmara, quando ainda era deputado federal, sugerindo a distribuição de “pílulas de aborto”.
Bolsonaro diz que fala foi há 30 anos atrás e que se referia à “pílula do dia seguinte”, e não a abortiva. “Abortiva é Cytotec”, disse o candidato, chamando Lula de “abortista convicto”, ao que Lula respondeu que é contra o aborto.
Viagra e Mais Médicos
Em outro momento inusitado, os candidatos conduziram o debate a uma discussão sobre uma compra do medicamento Viagra pelas Forças Armadas durante o governo Bolsonaro.
“Explica por quê, se o povo não tem nem fraldão geriátrico para as pessoas mais velhas de idade, que você retirou”.O presidente respondeu que “o Viagra é usado para vários tratamentos”. “Então, não vem com essa historinha de comprar Viagra, que é usado para tratamento de próstata.”
Lula provocou: “E só as Forças Armadas têm direito? Por que não distribui de graça pro povo?”
Corrupção
Como ocorreu em debates anteriores, Bolsonaro utilizou diversos momentos para mencionar casos de corrupção da época dos governos do PT.
Citando os escândalos do mensalão e o petrolão, o presidente afirmou que em seu governo não há corrupção.
“Os meus ministros saíram para serem 2 possíveis governadores no segundo turno, 6 senadores e alguns deputados”, afirmou. “Os seus ministros quando deixaram o governo foram pra cadeia. Eu posso até falar palavrão de vez em quando, me desculpo, eu falo palavrão, mas não sou ladrão.”
Lula respondeu mencionando decretos de sigilo impostos pelo governo Bolsonaro a diversas investigações e documentos.
“Queria que vocês atentassem: o cidadão transforma em sigilo de 100 anos, 50, 20. Na hora que levantar o tapete da sala você vai ver a podridão”
Meio ambiente
No último bloco de confronto direto entre os candidatos, o meio ambiente dominou praticamente toda a discussão.
Lula acusou Bolsonaro de promover uma política favorável ao desmatamento da Amazônia.
Bolsonaro rebateu que Lula desmatou mais que ele. “Você desmatou mais que o dobro nos seus 4 anos do que do lado de cá.”
O candidato petista retorquiu: “Ainda bem que trouxe Marina Silva e foi minha ministra, e que ganhou mais respeitabilidade sobre clima, o candidato sabe que nós reduzimos o desmate em mais de 80% enquanto a agricultura crescia”.
BBC News