Diante de milhares de apoiadores em Brasília neste 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro fez nesta terça-feira (7) um discurso de ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele disse que não aceitará que qualquer autoridade tome medidas ou assine sentenças fora das quatro linhas da Constituição.
“Ou o chefe desse Poder enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”, disse Bolsonaro em recado ao presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, em referência às recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes contra bolsonaristas.
“Porque nós valorizamos e reconhecemos e sabemos o valor de cada Poder da República”, ressaltou. Além de Moraes, o ministro Luís Roberto Barroso, também presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é alvo dos ataques de Bolsonaro.
“Nós todos aqui na Praça dos Três Poderes juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para sair”, disse o presidente, em um caminhão de som na frente do gramado do Congresso Nacional. ” “Não podemos continuar aceitando”.
“Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continuem barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil”, afirmou.
SÃO PAULO
Bolsonaro fará um outro discurso, chamado por ele de “robusto”, na tarde desta terça na Avenida Paulista, em São Paulo.
O ato em Brasília é marcado por pautas autoritárias e golpistas e representam uma minoria no país. Pesquisa Datafolha de junho mostrou que 75% dos brasileiros consideram o regime democrático o mais adequado, enquanto 10% afirmam que a ditadura é aceitável em algumas ocasiões.
Uma longa mensagem amarrada em caminhões de manifestantes que furaram o bloqueio da polícia na madrugada diz que o grupos deixa Brasília quando a seguinte pauta for atendida: “Destituição de todos os ministros do STF”. No acampamento em frente ao Ministério da Agricultura há carta pedindo impeachment dos ministros do STF e voto impresso. “Pedimos que vocês, ministros, saiam, porque estamos no nosso direito. Zé Trovão nos representa”, afirma placa de uma manifestante, que cita caminhoneiro foragido justamente por ataques às instituições.
Os manifestantes também gritam que “o povo é o Supremo” e dizem que “o povo chegou” em frente ao Itamaraty. Ali há barreira de policiais que impedem a ida dos apoiadores de Bolsonaro até o STF. Outros manifestantes e caminhões pressionaram para romper o bloqueio da PM e invadir a pista que leva ao Congresso e ao STF.
Bolsonaro chegou a este Sete de Setembro com um repertório de discursos golpistas acumulado nas últimas semanas e a expectativa de reunir multidões na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e na avenida Paulista, em São Paulo. Ele deve discursar à tarde a seus apoiadores em São Paulo.
Em Brasília, manifestantes, aos milhares, tomaram menos de um quarto do canteiro central da Esplanada. Imagens aéreas mostraram clarões do gramado central e nas duas pistas no espaço próximo ao Congresso Nacional.
Além do tamanho do público, as expectativas se concentram no teor do discurso do presidente, que anunciou o levante do 7 de Setembro como algo histórico e dissimulou as pretensões de ruptura da ordem institucional e democrática que estão na raiz da mobilização, com pautas autoritárias e de raiz golpista.
A crise institucional que leva aos atos desta terça-feira (7) nasceu com as ameaças de Bolsonaro contra a realização das eleições de 2022, caso o voto impresso não fosse implementado, o que já foi descartado pelo Congresso.
Só nos últimos dias, para chamar apoiadores aos atos, Bolsonaro falou em emparedar ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e jogar fora das quatro linhas da Constituição para eventual ruptura institucional. O objetivo é intimidar tanto o STF como o Congresso com seus desejos golpistas.
Como o próprio Bolsonaro já disse, ele busca nesses protestos uma foto ao lado de milhares de apoiadores para ganhar fôlego em meio a uma crise institucional provocada pelo próprio, além das crises sanitária, econômica e social no país. O objetivo de reunir multidões é embasar a retórica de amplo apoio popular.
Os eventos bolsonaristas ocorrem em meio a uma série de reveses para o governo, com reações de outros Poderes às ameaças autoritárias disparadas pelo Executivo, desembarque de setores do empresariado e do mercado, estagnação de pautas no Congresso e horizonte econômico negativo.
Bolsonaro aparece distante do ex-presidente Lula em diferentes pesquisas de opinião sobre as eleições de 2022. Pesquisa Datafolha de julho mostrou recorde na reprovação do presidente, rejeitado por 51% dos brasileiros.
Ao mesmo tempo em que perde capital político com a crise entre os Poderes, intensificada por seus ataques ao Judiciário, a alta da inflação e a crise energética se colocam como novos obstáculos para o projeto de sua reeleição no ano que vem.
Reportagem da Folha deste domingo mostrou que ministros do STF e dirigentes de partidos do centrão condicionam o futuro das relações do governo com os demais Poderes à postura que Bolsonaro adotará no 7 de Setembro e nos dias posteriores aos protestos.
De um lado, integrantes da corte enviaram recados ao mandatário e aos presidentes da Câmara e do Senado de que o avanço das negociações em busca de uma saída para o rombo dos precatórios, o que viabilizaria a reformulação do Bolsa Família, só deve ocorrer se o chefe do Executivo cessar os ataques ao tribunal.
De outro, líderes de siglas do centrão que hoje dão sustentação a Bolsonaro no Legislativo passaram a ver o desembarque do governo no ano que vem quase como inevitável se não houvesse uma mudança de comportamento do presidente.
Da Folhapress – Brasília