A Alemanha, a França, a Espanha e a Itália se juntaram nesta segunda-feira (15) a uma lista de 12 países pelo mundo que suspenderam a aplicação da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a covid-19, depois que algumas pessoas sofreram problemas sanguíneos graves. Até agora, no entanto, não foi estabelecida uma ligação de causa e efeito com o imunizante, afirmam especialistas.
“Não faz nenhum sentido suspender a vacinação. É como se eu disssesse ‘um vacinado sofreu um acidente de carro, vamos proibir que dirija ou parar a vacinação'”, reclamou o médico francês Bruno Riou, da rede de Assistência Pública de Hospitais de Paris, a AP-HP.
“Não queremos que as pessoas entrem em pânico e, por enquanto, recomendamos que os países continuem a vacinar com a AstraZeneca”, disse um representante da Organização Mundial de Saúde (OMS). O grupo de medicamentos da entidade vai se reunir com a empresa e a agência sanitária da União Europeia na terça-feira.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também defendeu o uso do imunizante. “Nossos especialistas e cientistas dedicaram muito tempo para garantir que todas as vacinas aprovadas no Canadá são seguras e eficazes”, afirmou em entrevista coletiva em Montreal, onde visitou um centro de vacinação contra a covid-19.
Lista segue crescendo
No entanto, ao longo da última semana, o número de países que suspenderam de maneira parcial ou total a vacina da AstraZeneca contra a covid-19 não para de crescer.
A Áustria foi o primeiro em 8 de março, suspendendo um lote de vacinas após a morte de uma enfermeira que tinha acabado de receber uma dose. A mulher, de 49 anos, morreu por uma trombose, um problema de coagulação sanguínea.
A Dinamarca, a Noruega, a Islândia, a Irlanda e a Holanda foram mais longe, suspendendo a vacinação com o imunizante desenvolvido pela farmacêutica anglossueca e a Universidade de Oxford.
A Alemanha se juntou à lista nesta segunda, de maneira “preventiva”, após registrar casos de trombos, e foi seguida por França e Itália. Essas suspensões estão sujeitas a uma nova recomendação por parte dos reguladores europeus.
Fora da União Europeia, a República Democrática do Congo, a Indonésia e a Tailândia pararam suas campanhas de vacinação.
Medida de precaução
Mesmo assim, as autoridades sanitárias que recomentam esse tipo de medidas reconhecem que, por enquanto, não foi demonstrado nenhum vínculo entre os problemas de coagulação e a vacina da AstraZeneca, indepententemente de terem acontecido nesse intervalo de tempo.
Por isso, a suspensão serve para buscar um tempo para descartar as possíveis relações, um princípio de precaução habitual de medicina.
“Quando se utiliza um produto relativamente recente como todas essas novas vacinas, temos que vigiar atentamente e, no primeiro sinal, ainda que não acreditemos que haja de fato um problema, temos que parar”, disse na última quinta Claire-Anne Siegrist, especialista em vacinação da Suíça.
Essa decisão, no entanto, causou perplexidade entre alguns profissionais, que explicam que esses problemas não são mais frequentes entre os vacinados com AstraZeneca do que com as outras vacinas disponíveis na Europa, como Pfizer/BioNTech e Moderna.
A AstraZeneca explicou em um comunicado publicado no domingo que os casos de trombos são “similares” aos registrados por outros imunizantes.
Essa afirmação é apoiada por dados oficiais do Reino Unido, um dos países com a campanha de vacinação mais avançada, que afirmam que os casos de coágulos são raros.
Foram registrados 35 entre os 9,7 milhões de pessoas que receberam uma dose de AstraZeneca, uma proporção de 0,0004% e 24 entre os 10,7 milhões que receberam a da Pfizer/BioNTech (0,0002%). Em cada um dos casos, houve apenas uma morte.
“Está claro que a proporção não é diferente”, destacou em um comunicado Stephen Evans, epidemiologista da London School of Hygiene and Tropical Medicine, citado pelo órgão britânico Science Media Centre.
“É totalmente razoável estudar com atenção as ligações entre vacinas e problemas de coagulação mas estamos indo longe demais, impedindo as pessoas de receber vacinas que podem evitar que adoeçam”, explica Evans.
Segundo a AstraZeneca, os casos de trombos são inclusive menos frequentes que a média da população.
Isso não significa, no entanto, que esta vacina não tenha efeitos secundários. Na França, a agência reguladora ANSM registra mais casos entre os vacinados com a AstraZeneca (0.66%) do que com a Pfizer/BioNTech (0,19%) e a Moderna (0,12%).
Esse número inclui efeitos leves ou parecidos com a gripe, como febre alta. Também podem ser mais graves, como reações alérgicas que impeçam a respiração, mas esses casos são excepcionais: 41 entre 5 milhões, segundo a UE.
R7 Notícias