No Porto depois de seis anos…
A última vez que tinha ido a Porto dos Gaúchos foi na festa dos 60 anos em maio de 2015. Para quem ia lá quase todos os anos, foi uma longa demora. A saudade era mitigada pela leitura quase diária do site Porto Notícias e pelos papos com alguns amigos via whatsApp.
E assim, cheguei pela primeira vez por rodovia totalmente asfaltada. A fora o inferno da 163 entupida de carretas, na estrada depois de Lucas a viagem é um passeio. Aliás, a Adriana e eu comemos neste trecho uma típica farofa de frango que preparamos para relembrar viagens de priscas eras.
A cidade de Porto dos Gaúchos eu nunca a vi tão bonita! A avenida central um brinco. As novas moradias, ainda que denotem um estilo new-richism, são uma beleza.
A chegada da leguminosa milionária com correção de solo e fertilizantes, mesmo nas terras pobres da região, trouxe uma riqueza nunca prevista nos tempos de antanho.
Se o crescimento econômico eleva o padrão de vida de muita gente, o lado ruim são os agrotóxicos que matam as abelhas, vão poluir o Arinos e aumentar o numero de pessoas com câncer.
Mas, por ora, as águas do Arinos continuam deliciosas. Devem conter sua carga de poluição agrícola, mas ainda assim não deixamos de mergulhar nelas em busca de sentir a mesma alegria de quatro décadas atrás, quando tínhamos o direito de nos banharmos nelas a hora que quiséssemos.
Outro capitulo bom foi rever os amigos e até fazer novos. É sempre uma alegria conversarmos sobre os velhos tempos quando o futebol, o pôquer, os bailes, as peixadas e galinhadas faziam um belo congraçamento da resumida comunidade de então.
Especial foi uma noitada na Tropical, quando o amigo Roseno Barros convidou-me para umas rodadas de chope. Estava na companhia do Jair Duarte e dois amigos.
Assim tive a satisfação de conhecer o César Macedo e o cantor Adoniran (Mano Soares). Duas pessoas de bom humor e de prosa fácil. Até dava a impressão que eram velhos conhecidos…
Entre um chope e outro, demos boas risadas relembrando brigas políticas do passado, quando eu e o Jajá vivíamos às turras. Mas de verdade nós fomos apenas adversários políticos, nunca inimigos. Hoje temos uma relação de cordialidade e relembramos o passado sem nenhum resquício de mágoa.
Aliás, quando o Jair recebeu um telefonema de sua esposa Carmem cobrando seu retorno ao lar, o ex-prefeito me usou como justificativa para o atraso, e para confirmar, me passou o celular. Como isso, ainda aproveitei para bater um bom papo com ela e rimos de monte…
Estivemos também com casal Toninho e Lizete. Ele meu amigo desde sempre e ela amiga da Adriana. Jantamos e tivemos animada e proveitosa conversa sobre tudo. E ainda fomos atendidos pela querida Dircinha Fulber. No outro dia, ganhei do Toninho preciosa porção de filé de lobó ou rubafo, como diz dona Dega.
Falando em dona Dega, minha amiga desde 1978, almoçamos com ela e a Joelma lá no Flutuante e estendemos a prosa por horas. Relembramos os velhos tempos em que eu viajava com o saudoso piloto Cândido Morimã pelos rios Arinos e Juruena até a Cotriguaçu. Rimos muito da história de um treinamento de arco e flecha no meio da avenida, num Dia do Índio no início dos anos oitenta.
O amigo Agenor Maccari nos recebeu em sua casa para longos papos. Para compensar a falta de ele não ter armado uma jogatina de pôquer, nos brindou com um isopor com Matrinchã, pintado e dourado cachorro. Esbaldamo-nos de comer esses peixes e de relembrar as peixadas do Flutuante.
Também estivemos visitando o Júlio Cesar e Néia na residência deles. O papo ficou mais animado quando falamos de história das famílias e o Júlio nos mostrou alguns livros sobre o passado da família Rodrigues da Cunha, desde a Europa.
Revi também com prazer o Canova, o Márcio Leburu com sua mãe e filha, além do Cristóvão Hoscher, o “Bichinho”. Não vou alongar sobre estes, pois cada um merece uma crônica à parte que espero ainda fazer.
E ainda devo dizer, tive o prazer de conhecer e prosear como o vereador e empreendedor Claudiomar Braun, dono do Hotel Braun Pálace, ele que era um guri quando eu morei aí. Ele deu uma repaginada no estabelecimento, mas manteve a qualidade e a cordialidade do casal Veronice e Lotário Budke, que fundaram a hospedaria.
Pra finalizar devo dizer que ainda estou em dúvida qual o Porto eu prefiro. Essa cidade moderna de hoje, arrumadinha, tal e qual uma jovem burguesa vestida nas melhores lojas, com um ar de coquete, ou aquela de antigamente, simples, acolhedora com a beleza natural de uma moça do interior, como havia tantas no Porto dos velhos tempos.
Enfim, de toda maneira, Porto dos Gaúchos será sempre o meu microcosmo padrão. É o lugar que eu sempre amarei e ao qual só não volto a morar porque a vida não deixa.
Ademar Adams – setembro de 2021