Uma mala com R$ 13.600 foi encontrada dentro da caminhonete do cacique Damião Paridzané, suspeito de receber propina para arrendar ilegalmente áreas da Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé, a 1.064 km de Cuiabá, para fazendeiros criarem gado, atividade que causa degradação ambiental.
Eram 15 arrendamentos, que estariam gerando repasses de aproximadamente R$ 900 mil por mês ao cacique Damião. A caminhonete SW4 em que a mala foi encontrada, também teria sido um ‘presente’ que o líder indígena teria ganho no esquema, afirma a PF.
O dinheiro foi encontrado durante a Operação Res Capta, da Polícia Federal, deflagrada nessa quinta-feira (17) para desarticular o suposto esquema de corrupção que envolvia fazendeiros, lideranças indígenas e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai).
O valor da propina paga aos servidores ainda não foi precisado.
O cacique já foi homenageado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sendo reconhecido como ‘lutador’ dos povos indígenas.
Logo depois, em Brasília, ele ganhou um reconhecimento na 20ª edição do Prêmio de Direitos Humanos. Na ocasião, o líder indígena recebeu um troféu por “nunca ter negociado com fazendeiros e políticos, e sempre afirmar: “eu só preciso da terra”.
Damião Paridzané é visto pela comunidade Xavante como a principal liderança na luta pelo território indígena.
Bloqueio de bens
A Justiça Federal de Mato Grosso determinou nessa quinta-feira (17) o bloqueio de bens do cacique Damião Paridzané, investigado pela Polícia Federal na Operação Res Capta, por suspeita de receber dinheiro em troca da concessão ilegal de áreas indígenas à fazendeiros.
A juíza da Vara Federal Cível e Criminal da Subseção Judiciária de Barra do Garças, Danila Gonçalves de Almeida, destacou que o sequestro de bens demonstram o recebimento de valores indevidos pelo arrendamento ilegal de áreas de terras localizadas na Terra Indígena Marãiwatsédé.
O esquema
Durante a investigação foi constatado que servidores da Funai em Ribeirão Cascalheira estariam cobrando valores de grandes fazendeiros da região para direcionar e intermediar arrendamentos no interior da Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé.
Exames periciais apontaram extenso dano ambiental provocado por queimadas para formação de pastagem, desmatamento e implantação de estruturas voltadas à atividade agropecuária.
Apenas em quatro dos 15 arrendamentos ilícitos, os Peritos Criminais Federais estimaram o valor para reparação do dano ambiental em R$ 58,1 mil.
Em razão de pedido da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, a Justiça Federal em Barra do Garças ainda consignou que os fazendeiros que estão arrendando terras no interior da Reserva Indígena Marãiwatsédé devem desocupar a área e retirar de lá todo o gado, estimado em aproximadamente 70.000 cabeças, no prazo de 45 dias, sob pena de prisão.
Caso descumprida a ordem judicial, poderá ser decretada a prisão dos arrendatários – já qualificados – assim como determinado o sequestro de todo gado inserido na Reserva Indígena.
Nome da operação
A tradução literal da palavra em latim Res Capta é coisa tomada, que é justamente o que ocorreu no passado e está ocorrendo atualmente com a Terra Indígena Marãiwatsédé.
Por g1 MT