Policiais militares reformados do Rio de Janeiro e um sargento da reserva do Exército foram contratados para extorquir proprietários de propriedades rurais no noroeste de Mato Grosso. Na última quinta-feira (20), nove pessoas foram presas, entre elas quatro militares, depois que proprietários de 3 fazendas foram feitos de refém e extorquidos, nos municípios de Nova Monte Verde e Apiacás (973 km de Cuiabá).
Segundo informações obtidas com exclusividade pelo Midiajur, a quadrilha foi até propriedades rurais nos municípios de afirmando que expulsariam proprietários das terras que pertenciam a eles ou a outras pessoas que os contrataram. Em um dos casos, os militares afirmaram que só libertariam os reféns se recebessem R$ 5 milhões.
A primeira ação da quadrilha ocorreu na Fazenda Vitória. O grupo entrou na fazenda fortemente armado, com roupas comufladas. Aproximadamente 8 pessoas ficaram reféns na sede da propriedade. No local, eles foram obrigados a levar toda mobília da fazenda para uma caminhonete F-4000. Além disso, os suspeitos afirmaram que só devolveriam a posse da fazenda mediante assinatura de alguns documentos e cobraram R$ 5 milhões para liberar a propriedade.
Depois da ação na Fazenda Vitória, os suspeitos foram para mais duas fazendas, usaram do mesmo modus operandi: disseram que iriam expulsar outros invasores e só sairiam depois que todos fossem expulsos das terras.
Uma das fazendeiras vítimas da ação dos militares contou para a polícia que compraram a fazenda há cerca de cinco anos e que, por volta das 9 horas da manhã desta quinta-feira (20), duas caminhonetes (uma S10 preta e uma Hillux branca) com nove homens encapuzados e com roupas camufladas do Exército e altamente armados chegaram na sua propriedade.
Os suspeitos renderam o funcionário da proprietária na entrada da fazenda e foram até a casa dele. Na residência, eles reviraram a casa e perguntaram por armas de fogo. Após pegar um faca de coleção do trabalhador e um rádio comunicador, o funcionário foi levado pelos suspeitos até a casa da patroa.
Os homens ainda passaram uma corrente e trancaram com cadeado a porteira da fazenda. Ao chegarem na casa principal, a proprietária relatou que os homens estavam bastante agressivos e com armas em punho, ainda encapuzados. Eles logo se identificaram como policias do Rio de Janeiro e falaram que vieram para desocupar as terras.
Os supostos policiais militares cariocas diziam que a proprietária havia invadido as terras deles e que foram à propriedade para resolver a situação. Disseram que não iriam embora enquanto a questão não fosse resolvida. Eles perguntaram pelo marido da proprietária e permaneceram na casa da declarante por cerca de 30 minutos.
Durante o período em que permaneceram no local, a mulher relatou que os suspeitos estavam bastante agitados, agressivos, sempre falavam em rádio de comunicação. Além disso, faziam muita pressão nas vítimas, estavam com armas em punho e diziam que ela havia invadido a terra de outro proprietário.
Depois de 30 minutos, os homens disseram que iriam em outros locais, mas que voltariam para resolver a situação. Ela ligou para a Polícia Militar depois que o grupo saiu da fazenda.
Prisão dos suspeitos
Uma viatura da Polícia Militar estava em patrulha rural pelo município de Apiacás quando foram acionadas pela sede policial do município sobre a ocorrência de moradores de fazenda feitos de reféns.
Por volta das 18h, uma guarnição da PM conseguiu localizar a caminhonte S10 preta com os suspeitos em um estrada rural do município. Estavam dois indivíduos que se diziam moradores de Cuiabá, e outros três do Rio de Janeiro, que se apresentaram como militares no estado carioca.
Um é um militar reformado do Exército brasileiro, enquanto os outros dois são policiais militares do Rio de Janeiro. Ambos estavam armados com pistolas, revólveres, réplica de fuzil e diversas munições.
Já o outro veículo conseguiu fugir da abordagem dos policiais militares de Apiacás. Em um barreira policial, após terem passado por um pedágio na MT-208, o segundo veículo foi parado e os suspeitos foram presos. Eles foram levados para a delegacia e devem passar por audiência de custódia nesta sexta-feira (21).
Lázaro Thor e Allan Pereira/Midia Jur