Home Polícia Moradores de cidade de vereador que usou nome falso por 12 anos em MT após duplo homicídio em RO se dizem surpresos

Moradores de cidade de vereador que usou nome falso por 12 anos em MT após duplo homicídio em RO se dizem surpresos

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A notícia de que o presidente da Câmara de Nova Nazaré, a 800 km de Cuiabá, preso no dia 7 deste mês suspeito de duplo homicídio em Ariquemes (RO), usava nome falso há 12 anos deixou os moradores da cidade surpresos.

‘Márcio Túlio’ (PSDB), como é conhecido em Mato Grosso, além do duplo homicídio, é investigado por uso de documento falso, falsidade ideológica e posse ilegal de arma de fogo. Conforme as investigações, o verdadeiro nome do parlamentar é Valdoir Bento Tavares.

A defesa do vereador afirma que ele é inocente sobre o duplo homicídio em Rondônia e que vai recorrer para ele responder em liberdade pelos flagrantes de falsidade ideológica e posse ilegal de armas.

“Estava junto [com os moradores] direto. Era um cara que não tinha dúvida, não apresentava dúvida nenhuma que faz uma coisa dessa, né. Foi uma surpresa para todos”, disse o comerciante Joberto da Cruz.

O mecânico Aderbal Ribeiro Moraes, também morador de Nova Nazaré, disse que o vereador foi apelidado de ‘preto’ na cidade e que era muito conhecido.

Foi com o apelido que o vereador foi eleito pela primeira vez, em 2016. Mais conhecido, em 2020, candidato à reeleição, o nome Márcio Tulio aparece.

Nova Nazaré, no leste do estado, é uma cidade jovem e pequena, tem 22 anos de emancipação, e cerca de 5 mil habitantes

Amigos e colegas de trabalho
Na Câmara, os colegas vereadores ainda estão sem saber ao certo o que fazer.

“Estamos esperando o inquérito policial e, assim que a gente tiver um posicionamento correto, a Câmera tomará as medidas cabíveis. A gente sabe que pode ter uma possível cassação, mas tem que sentar com todos os colegas conversar certinho”, explicou a vereadora Rosana Aires de Souza Silva (PSD).

O vice-presidente Marcos Vinícius Xavier de Carvalho (PSDB), mesmo partido do colega preso, assumiu a presidência temporariamente.

“De acordo com o nosso regimento interno, ele está afastado até o período de três sessões ordinárias consecutivas. Ele não conseguindo estar presente até a terceira sessão, automaticamente, é abandono de cargo, então temos que extinguir o cargo e convocar o suplente dele”, explicou.

‘Marcio Túlio’ não teve projetos expressivos para o município, mas por ser da base, dava total apoio às pautas da prefeitura. Ele era visto como uma liderança política jovem e promissora. Até agora, o principal nome para suceder o atual prefeito.

O atual prefeito de Nova Nazaré, João Teodoro Filho, afirmou que era amigo pessoal do vereador e ficou surpreso com a notícia.

“Se conseguir provar que ele é outra pessoa, que a gente não sabia, vai continuar sendo meu amigo do mesmo jeito, tanto que não foi um fato, um crime hediondo, algo tão grave. Às vezes atribuiu a ele o assassinato que o irmão dele confessou ter sido o responsável. É normal o cidadão exercer seu direito de defesa também”, pontuou.

O parlamentar agora está na penitenciária de Água Boa. A polícia deve encerrar o inquérito ainda nesta semana ao cumprir o mandado de Rondônia, por duplo homicídio.

“Já estávamos com elementos robustos de que realmente o foragido da Justiça de Ariquemes era o atual presidente da Câmara, então fomos atua-lo. Ele insistiu em manter a identidade do parente falecido, mas como a equipe já tinha a confirmação de que realmente não era ele, o autuamos em flagrante pelo uso de documento falso”, disse o delegado Valmon Pereira da Silva.

Segundo o delegado, o vereador também havia adquirido armas a partir do nome falso, o que caracteriza crime de posse ilegal de arma de fogo. A polícia aprendeu as armas na casa dele.

O Ministério Público Eleitoral também pediu à Justiça o afastamento do vereador do cargo, como medida cautelar, enquanto a polícia também apura o crime eleitoral.

O duplo homicídio
Consta no processo que tramita em Rondônia que Valdoir e o irmão dele, Valteir Bento Tavares, se envolveram em uma briga com outros dois homens na madrugada do dia 1º de janeiro de 2007, por causa de vaga de estacionamento, próximo a uma casa noturna.

Éder da Silva Martins e Edeilson Moura dos Santos foram assassinados a tiros. Outra pessoa que estava com as vítimas também foi baleada, mas sobreviveu porque conseguiu fugir.

O que dizem os irmãos
Os irmãos foram presos ao mesmo tempo na semana passada. Em goiás, além da verdadeira identidade, o irmão de Valdoir, Valteir Tavares, confessou que foi ele quem matou duas pessoas em Rondônia em 2007 em uma briga.

“Começou aquele empurra-empurra, empurraram meu irmão mais novo e eu perguntei para que isso? Eles vieram para cima de mim, quatro homens, me deram garrafada na cabeça, me machucaram. Como eu estava com a arma, me defendi. Efetuei os disparos e fiquei em choque. Nessa hora, meu irmão pegou a arma e fez menção que ia atirar, mas não deu nenhum tiro”, diz Valteir no depoimento.

Em Mato Grosso, na audiência de custódia, Valdoir contou praticamente a mesma história.

“Eu tinha 18 anos. Meu irmão propôs se entregar e conversou na época com o delegado para se entregar, o delegado falou não é você é seu irmão. Meu pai falou não, que não entregaria os dois filhos, porque um não tem nada a ver. Eu não tenho nada ver com a situação”, disse.

No entanto, no processo em Rondônia a versão é diferente. Na briga por causa de uma vaga no estacionamento de uma festa, um amigo dos irmãos teria passado uma pistola para Valdoir, indicando em que ele deveria atirar.

Com a cobertura de Valteir, ele teria atirado, matado duas pessoas, e ferido outra que conseguiu fugir. Por fim, Valteir teria pego a arma que estava com o irmão e disparado contra as vítimas, mas a arma teria falhado.

O advogado de Valteir assumiu também o caso do vereador.

“As informações do irmão são importantes no sentido de que ele confessou que efetuou os disparou. Se ele não tiver sido participe disso, é mais um ponto para ele, ainda mais ele que é uma pessoa bem querida na cidade, então a gente acredita que é de suma importância. Mas isso a Justiça de Rondônia que vai decidir”, pontuou o advogado Rafael Borges.

Por Ianara Garcia, TV Centro América

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