O mato-grossense começou 2021 pagando, em média, R$ 3,20 no etanol e R$ 4,60 na gasolina, mas chegou ao final desembolsando cerca de R$ 5 e mais de R$ 6,60 para esses dois combustíveis, respectivamente. De janeiro a dezembro, o preço médio pago pelo litro subiu 31% da gasolina comum, e de 34% no etanol. A variação dos combustíveis ficou bem acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que no acumulado do ano fechou em 10,06%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O economista e professor da Unemat, Feliciano Azuaga, explica ao RD News que a alta se deu pela demanda aquecida no mercado internacional e que o início de 2022 ainda deve se manter com preços salgados, após a Petrobras anunciar aumento o valor pago das gasolinas às distribuidoras e um cenário internacional instável na produção de petróleo.
Os dados da ANP apontam que novembro de 2021 foi o mês mais caro desses dois combustíveis. Em todos os seis municípios pesquisados, o aumento chegou a cerca de 50 centavos em relação a outubro. Alta Floresta chegou, inclusive, a ter o item mais do caro do país, pagando R$ 5,697 pelo litro do etanol, e R$ 7,227 da gasolina. Nos demais municípios do interior, o valor chegou a mais de R$ 5.
De forma geral, o mato-grossense que mora no interior do Estado pagou mais caro pelo combustível em 2021. Contudo, por conta da falta de coletas dos valores no início do ano passado em algumas dessas cidades, a variação apresenta um valor inferior a 20% nessas cidades. A principal consequência é que o resultado pode estar subestimado.
Já o cuiabano chegou ao final do ano pagando um preço médio por litro do etanol de R$ 4,711, e R$ 6,584 na gasolina. Enquanto em Várzea Grande, a cifra chegou a R$ 4,640, e de R$ 6,47, respectivamente. A variação percentual em relação ao mês de janeiro é de aproximadamente 30% em todos os cenários. Os números dos preços são do levantamento semanal feito pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), em postos de combustíveis, em seis municípios de Mato Grosso.
De acordo o economista Feliciano Azuaga, a alta dos combustíveis impacta diretamente as famílias que precisavam dos veículos para trabalho, lazer e atividades domésticas. O IBGE aponta que a inflação em 2021 foi de 47,49% para a gasolina, e 69,40% para o etanol. Foi até seis vezes superior à inflação registrada no Brasil de 10,06%.
“O transporte, que ficava sempre atrás da cesta de alimentação, agora se tornou o principal item de gastos das famílias brasileiras por que você não tem como abrir mão e isso impacta no dia a dia das famílias”, disse Feliciano.
O economista lembra que a alta dos combustíveis também leva a um efeito cascata de aumento nos preços de produtos, como alimentos e eletrodomésticos, que são produzidos em outros Estado e são transportados por empresas de logísticas.
O que explica a alta?
Feliciano explica que o preço da gasolina e do etanol dependem do preço do barril de petróleo, que subiu praticamente durante todo o ano de 2021. A moeda definida para o valor do barril é o dólar, que fez desvalorizar o real. Atualmente, um dólar equivale a R$ 5,52, em cotação realizada na tarde desta sexta (14).
“Percebeu-se, até o mês de novembro, um aumento constante no preço por questões de demanda do mercado internacional, que voltou a ser aquecida. Isso pressionou o preço, que ultrapassou os 80 dólares. E, como você precisa de mais reais para comprar a mesma quantidade de barris de petróleo, você acaba pagando mais caro no preço da gasolina, do diesel e dos derivados de petróleo”, explica.
O etanol, que segundo Feliciano, “é a nossa válvula de escape” nas subidas da gasolina, também deixou a desejar em 2021. “No Brasil, o milho é umas principais matérias-primas para a produção do etanol, que teve uma disparada no mercado internacional. Então, o milho fica mais caro e pressionou o preço do etanol”.
Pesou também a estiagem, que castigou o centro-sul do país, fazendo secar os principais rios e a instabilidade política no terceiro ano do mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Feliciano cita a iniciativa do governador Mauro Mendes (DEM), que reduz em até 10% a alíquota de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a gasolina, além de apontar que a variante Ômicron fez reduzir o aquecimento do mercado internacional – o que fez com que o preço do barril do petróleo recuasse mais de 20% e indicasse uma queda para o consumidor mato-grossense no início de 2022.
Durou pouco, porém, essa perspectiva positiva. Na segunda semana de janeiro, o preço do barril do petróleo voltou a subir com força. Feliciano aponta que a crise no Cazaquistão, um dos principais produtores mundiais de Petróleo, além da queda da produção na Rússia e Canadá devido a problemas locais. Pesou também o valor do dólar em relação ao real, que continua desvalorizado.
Pontua também que a quebra da safra da soja e do milho na região Sul do Brasil, devido à forte estiagem e a crise hídrica, deve pressionar o preço do Etanol. Na última quarta (12), a Petrobras informou ainda que aumentou o preço da gasolina vendido às distribuidoras (responsáveis por vender o combustível aos postos), em 4,85%. Era R$ 3,09 por litro, agora passa a R$ 3,24.
Tudo isso vai impactar no preço final vendido ao consumir. Isso significa que o mato-grossense vai continuar a amargar com os preços salgados dos combustíveis em 2022. Por enquanto, não há perspectivas de que os preços voltem a cair.
Por Allan Pereira/RD News