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Treino para encantar a Deus. Por Eduardo Gomes

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Eduardo Gomes

Em 1958 o Brasil ainda chorava o maracanaço que os hermanos uruguaios pronunciam maracanazo. Foi nesse clima que a Seleção partiu para a Suécia, onde conquistou a Copa do Mundo simbolizada pela taça Jules Rimet. Do elenco com 22 craques, somente quatro permanecem entre nós. Na madrugada deste sábado (6), Zagallo, o ponta-esquerda apelidado Formiguinha, fechou os olhos para sempre e se juntou aos 17 companheiros de equipe que partiram antes.

O implacável relógio biológico não poupa sequer os campeões mundiais de futebol neste país que Nelson Rodrigues definiu como “A pátria de chuteiras”. Aos 92 anos, debilitado e acumulando problemas de saúde nos últimos anos, Zagallo não resistiu. Vencido pela falência múltipla de órgãos, saiu do convívio com os seus, virou lenda e entrou no imaginário da torcida brasileira.

Campeão mundial pela seleção em 1958 e 1962, Zagallo também levantou duas taças atuando fora dos gramados no comando dos Canarinhos. Sua trajetória no esporte pela Amarelinha e por clubes é detalhada neste período pela imprensa mundial, com riqueza de detalhes e não me sentiria confortável reproduzindo seu histórico. Prefiro vê-lo enquanto integrante de um grupo de heróis – feliz é o país que vê heroísmo em esportistas – que estremeceu nossa terra em 1958, quando JK promovia a maior revolução desenvolvimentista nacional construindo Brasília, interiorizando o Brasil e abrindo as portas por onde Mato Grosso encontrou a rota segura para se transformar em importante polo da política de segurança alimentar mundial.

O grupo dos heróis de 1958 após cumprir sua missão dentro das quatro linhas e de encantar o mundo com a arte do futebol foi passo a passo subindo para junto de Deus. Gilmar, Bellini, Djalma Santos, Castilho, Oreco, Zózimo, Garrincha, Pelé, Nilton Santos, De Sordi, Didi, Orlando Peçanha, Mauro, Joel, Zizi, Vavá e Dida foram à frente. O técnico Vicente Feola está entre eles e a comissão técnica, também. Zagallo os acompanhou. Ficaram entre nós Pepe, Moacyr, Mazzola e Dino Sani.

Pepe é o santista José Macia, ponta-esquerda apelidado Canhão da Vila, pela potência de seu chute. Fora da Seleção, esse ex-craque ora com 88 anos fez parte do ataque do Santos, o mais famoso entre todos os clubes brasileiros: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

O paulistano Dino Sani, 91 anos, foi um dos maiores volantes do São Paulo e do Milan; era certeiro nos desarmes e seus lançamentos longos eram impecáveis; atuou como treinador.

Também paulistano, Moacyr Claudino Pinto, 87 anos, foi meia e destaque do Flamengo, River Plate e Penãrol.

Mazzola é o apelido do centroavante José João Altafini, 85 anos, nascido em Piracicaba (SP). Após a Copa do Mundo de 1958, Mazzola mudou-se para a Itália, onde é chamado de Altafini. De origem italiana e com dupla cidadania, Altafini defendeu a squadra azurra.

Zagallo parte. Deixa um grande legado ao futebol mundial. Que a memória dele e de seus companheiros da Seleção de 1958 não se apague. Dificilmente o Brasil terá craques iluminados iguais aos do primeiro mundial, cuja taça foi roubada na sede da CBF.

Descanse em paz, Zagallo. Que em breve você se reúna com seus companheiros, acordem Feola para um treino de gênios da bola, que leve ao delírio serafins, querubins, arcanjos e anjos e que seja capaz de encantar a Deus que deve estar desconsolado com tantas guerras mundo afora, e com a violência e a corrupção no Brasil.

*Eduardo Gomes é jornalista

eduardogomes.ega@gmail.com

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