Do total de óbitos, um pouco mais de 50% deles eram recém-nascidos e alguns tinham comorbidades
Mais da metade das crianças vítimas fatais da Covid-19 (a doença causada pelo coronavírus) em Mato Grosso, que deram entrada em hospitais com os sintomas agravados da infecção, são recém-nascidos. Segundo base de dados da secretaria de Estado de Saúde (SES), foram 11 mortes de bebês com menos de 1 ano. A plataforma aponta que, no total, são 20 óbitos desde o início da pandemia, o restante refere-se a crianças com até 12 anos, sendo seis meninas e 14 meninos.
Ressalta-se que os dados da SES foram atualizados, pela última vez, no dia 15 de janeiro – e ainda assim não estão completos. Porém, mesmo sem exatidão, o número é ínfimo perto das 6,1 mil vítimas fatais da doença no Estado.
No painel da secretaria não aparece, por exemplo, a morte de uma menina de três anos, filha de haitianos. Essa base aponta que, entre as hospitalizações de vítimas de 12 anos para baixo e que terminaram em óbito, foram registrados 37 casos, sendo 20 confirmados para a Covid-19, 16 descartados e um não informado.
Cerca de metade dessas 20 crianças vítimas do coronavírus apresentavam alguma comorbidade. A base de dados da SES também não é clara em relatar quais foram os fatores de risco para esses pequenos. O painel chega a confirmar que duas eram hipertensas. Há também campos vazios em colunas nomeadas como diabetes, hipertenso e renal, que não há indicação que o menor tenha ou não essa doença.
Do total de vítimas fatais, 17 delas morreram depois de passar por uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). E, novamente, 10 tinham menos de um ano de idade, enquanto outras sete tinham idades entre 1 e 7 anos. Já nas demais idades não houve registro de hospitalização em UTI pela Covid-19. As três vítimas restantes, todas de 3 anos, estavam em leitos de enfermaria.
A SES registra a hospitalização de 756 bebês e crianças de até 12 anos com sintomas da Covid-19. Somente 280 delas se confirmaram para o coronavírus, enquanto 415 foram descartados. A base de dados aponta 61 campos informados como vazios, outros ou sem resultados, além de um menor de 5 anos, de Confresa, que não foi testado.
Sem alarde
A pediatra e patologista clínica Natasha Slhessarenko aponta que, desde o início da pandemia, a Covid-19 não tem impactado muito as crianças e adolescentes com até 18 anos. “Crianças costumam ter quadro leve. Embora raro, os casos graves podem acontecer e vir a óbito”, diz.
A SES notificou, em boletim epidemiológico desta segunda (8), que 6,1 mil pessoas de todas as idades foram vítimas do coronavírus. Os casos de mortes entre pessoas de 0 a 20 anos somam menos de 1% do total. Explica-se que a terceira faixa etária organizada pela pasta pega vai de 11 a 20 anos, ou seja, também incluem adolescentes e jovens.
O documento ainda demostra que, dos 12 leitos de UTI pediátrica voltados ao tratamento da Covid, metade estão ocupadas no momento.
A pediatra pondera, no entanto, que é preciso ter cautela ao afirmar que tudo seja caso do coronavírus. “Pode ser Covid-19? Pode. Mas existem outros vírus que dão quadros até semelhantes e só um exame de laboratório consegue definir que é Covid ou não”, diz. Os pequenos também podem passam por exames PCR ou testes de sangue.
Por isso, Natasha recomenda que os pais fiquem de olho em sintomas como febre, sintomas respiratórios (nariz escorrendo, tosse, dor de garganta e cabeça) e diarréia. “É muito comum as crianças terem manifestação de Covid só pelo lado intestinal”, comenta. A presença desses três sintomas é indicada levar ao atendimento médico.
Agora, se a febre consegue ser controlada por remédio e a criança está bem, brincando e comendo, não se deve levar ao médico e a pediatra recomenda atenção e tranqüilidade aos pais. “Pode ser milhares de coisas, inclusive outros vírus. Normalmente, a criança tem muita febre, infecção respiratória e na garganta”, diz.
Já as crianças com comorbidade precisam ser vigiadas com maior atenção. “O risco é maior”. Mas, no geral, Natasha explica que os pais não devem se alarmar e cada caso precisa ser analisado com bastante cuidado. “Está aumentando o número de doenças de crianças internadas, mas por ouros vírus. Pelo covid tem, mas os outros vírus são mais presentes”, diz.
Escolas abertas
O movimento “Escolas Abertas Cuiabá” questiona dados divulgados pela Prefeitura da Capital. Em material informativo, o órgão tinha informado que 75% dos leitos de UTI pediátricas estavam ocupados. “O que não corresponde com a verdade”, diz o movimento. Foi protocolada uma denúncia na Ouvidoria da SES questionando o documento onde saiu os dados.
Segundo a pediatra da comissão de saúde, Heleniza Damico, as crianças que estão em leitos por apresentarem outras patologias, como neuropatias ou cardiopatias, e pegam coronavírus na unidade hospitalar. “A infecção acontece no hospital, mas a causa principal do óbito não é o coronavírus”, explicou.
Para a presidente do movimento, Francielle Claudino Brustolin, a notícia da provável lotação dos leitos pediátricos tem despertado medo e questionamentos relativo à reabertura das escolas. “Somos um grande movimento de pais e mães de crianças pela manutenção das escolas abertas. Temos uma comissão de saúde que analisa e acompanha diariamente os dados da saúde. Os médicos não conseguiram encontrar onde estão as crianças indicadas no boletim”, defendeu.
Francielle argumenta que, segundo levantamento feito nos boletins do Governo, Mato Grosso tinha 25 UTIs pediátricas até agosto do ano passado e foi reduzido para 15 por conta da ociosidade. Na sua opinião, há franca tentativa de demonstrar com dados fantasiosos que as crianças são responsáveis por disseminar o vírus e despertar ainda mais medo da família cuiabana.
Fonte: RD News/Allan Pereira