O ex-ministro da Secretaria de Governo general Santos Cruz classificou como “vergonha” e “uma desmoralização para todos nós” o conjunto dos fatos que levaram o Exército a não punir o ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello, por ter participado de um ato com o presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro em 23 de maio.
“O Comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general. Desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do general
Pazuello. Em consequência, arquivou-se o procedimento administrativo que havia sido instaurado”, diz a nota da instituição a respeito da decisão de ontem (3).
Em texto divulgado em suas redes sociais na manhã desta sexta-feira (4), Santos Cruz, que não está mais na ativa do Exército, destaca ter sido surpreendido com telefonemas e mensagens de dezenas de jornalistas sobre o encerramento do caso Pazuello pelos militares.
“Em atenção ao trabalho que fazem, sempre respondo, mesmo que seja para informar que nada tenho a dizer. Mas ontem eu não disse nada. Por vergonha”, afirmou. “Por formação, me nego a fazer qualquer consideração sobre a decisão.”
Na sequência, o ex-ministro destacou que a presença de Pazuello no ato de apoio a Bolsonaro representou “um ataque frontal à disciplina e à hierarquia, princípios fundamentais à profissão militar”. “Mais um movimento coerente com a conduta do Presidente da República e com seu projeto pessoal de poder. A cada dia ele avança mais um passo na erosão das instituições.”
Para Santos Cruz, não se pode aceitar a “subversão” no Exército, “instituição que construiu seu prestígio ao longo da história com trabalho e dedicação de muitos”. A instituição restringe manifestações de cunho político para seus integrantes da ativa.O general voltou a criticar o presidente e alertou sobre a politização das Forças Armadas. “À irresponsabilidade e à demagogia de dizer que esse é o ‘meu exército’, eu só posso dizer que o ‘seu exército’ não é o Exército brasileiro. Este é de todos os brasileiros. É da nação brasileira”, disparou. “A politização das Forças Armadas para interesses pessoais e de grupos precisa ser combatida. É um mal que precisa ser cortado pela raiz.”
Entenda
O procedimento disciplinar contra o general Eduardo Pazuello havia sido instalado porque militares da ativa não podem participar de manifestações políticas. Mas o Exército entendeu que não ficou caracterizada a prática de transgressão.
O ex-ministro da Saúde é um dos alvos da CPI da Pandemia. A comissão quer esclarecer o dia em que ele foi avisado sobre o colapso do oxigênio em Manaus (AM). Houve contradição entre o depoimento dele e o documento do próprio ministério.
Veja na íntegra a nota de Santos Cruz
VERGONHA!
Ontem, 3 de junho de 2021, fui surpreendido com telefonemas e mensagens de dezenas de jornalistas sobre o encerramento do caso Pazuello. Em atenção ao trabalho que fazem, sempre respondo, mesmo que seja para informar que nada tenho a dizer. Mas ontem eu não disse nada. Por vergonha.
Por formação, me nego a fazer qualquer consideração sobre a decisão.
Sobre o conjunto dos fatos, é uma desmoralização para todos nós.
Houve um ataque frontal à disciplina e à hierarquia, princípios fundamentais à profissão militar. Mais um movimento coerente com a conduta do Presidente da República e com seu projeto pessoal de poder. A cada dia ele avança mais um passo na erosão das instituições.
Falta de respeito pessoal, funcional e institucional. Desrespeito ao Exército, ao povo e ao Brasil. Frequentemente, com sua conduta pessoal, ele procura desrespeitar, desmoralizar pessoas e enfraquecer instituições.
Não se pode aceitar a SUBVERSÃO da ordem, da hierarquia e da disciplina no Exército, instituição que construiu seu prestígio ao longo da história com trabalho e dedicação de muitos.
Péssimo exemplo para todos. Péssimo para o Brasil.
À irresponsabilidade e à demagogia de dizer que esse é o “meu exército”, eu só posso dizer que o “seu exército” NÃO É O EXÉRCITO BRASILEIRO. Este é de todos os brasileiros. É da nação brasileira.
A politização das Forças Armadas para interesses pessoais e de grupos precisa ser combatida. É um mal que precisa ser cortado pela raiz.
Independente de qualquer consideração, a UNIÃO de todos os militares com seus comandantes continua sendo a grande arma para não deixar a política partidária, a politicagem e o populismo entrarem nos quartéis.
Carlos Alberto dos Santos Cruz
R7