Os sete anos entre 2015 e 2021 foram provavelmente os mais quentes já registrados, anunciou neste domingo (31) a Organização Meteorológica Mundial (OMM), em um relatório alertando que o clima está entrando em “território desconhecido”.
O documento se baseia nos “dados científicos mais recentes que mostram que o planeta está mudando diante dos nossos olhos”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, citado no texto. “Das profundezas dos oceanos ao topo das montanhas, do derretimento das geleiras aos incessantes eventos climáticos extremos, ecossistemas e comunidades em todo o mundo estão sendo destruídos”, acrescentou.
O relatório, elaborado a partir de observações em solo e por meio de satélites de serviços meteorológicos de todo o mundo, é baseado nos registros históricos das temperaturas no planeta. Em particular, utiliza o período 1850-1910 que os especialistas climáticos da ONU (IPCC) usam como base para comparar com os dias de hoje.
A humanidade está emitindo atualmente muito mais do que o dobro das emissões de gases de efeito estufa em comparação com aquela época. No entanto, esses registros históricos não levam em consideração fenômenos meteorológicos anteriores, que são registrados graças à paleontologia climática.
A divulgação do relatório coincide com o início da Conferência sobre as Mudanças Climáticas da ONU, COP26, neste domingo. A cidade escocesa de Glasgow hospeda a conferência, na qual a comunidade internacional deverá intensificar sua luta para limitar o aquecimento global e, idealmente, a um máximo de +1,5ºC.
Secas, incêndios e inundações
O tom do documento da OMM é alarmante, relacionando secas, incêndios florestais, grandes inundações em diferentes regiões do planeta à atividade humana. Apenas neste ano, o mundo sofreu com ondas de calor intensas na América do Norte e no sul da Europa, com queimadas no Canadá e na Sibéria, precipitações extremas na China e no oeste da Europa, e uma seca que resultou em uma crise alimentar em Madagascar.
O relatório também aponta que 2021 é menos quente do que os últimos anos devido à influência de um episódio moderado de La Niña, ocorrido nos primeiros meses. “O La Niña tem um efeito de resfriamento temporário sobre a temperatura média global e afeta as condições meteorológicas e climáticas. O fenômeno foi claramente observado no Pacífico tropical”, aponta o texto.
No entanto, a temperatura média dos últimos 20 anos ultrapassou a barreira simbólica de +1°C pela primeira vez. Ao mesmo tempo, “pelo segundo ano consecutivo, ocorreram grandes secas que devastaram grande parte da região subtropical da América do Sul. As precipitações foram abaixo da média na maior parte do sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e norte da Argentina”.
Já outras regiões foram extremamente castigadas por chuvas. “As persistentes precipitações superiores à média registradas durante o primeiro semestre do ano em algumas partes do norte da América do Sul, especialmente no norte da Bacia do Amazonas, ocasionaram inundações graves e de longa duração na região”, acrescenta o texto.
Aumento de temperatura inevitável
O Acordo de Paris, assinado em 2015, tem por objetivo reduzir os gases poluentes para limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação à era pré-industrial. No entanto, diante das tendências atuais, os especialistas do clima da ONU alertam para o risco de atingir essa marca em 2030.
“Os números provisórios mostram que a tendência do aumento de temperaturas continua em alta”, afirma o cientista britânico Stephen Belcher, que participou da elaboração do relatório. Segundo ele, o assunto deve dominar as negociações na COP26.
O documento também alerta para uma adaptação urgente diante do aumento do nível dos oceanos, que se acelera diante do derretimento das geleiras. O ritmo desta aceleração atingiu 4,4 mm por ano entre 2013 e 2021, com um recorde em 2021.
“As catástrofes continuam impondo perdas graves, em vidas humanas e em capital, regredindo o desenvolvimento conquistado por vários países”, ressalta o texto”.
RFI
(Com informações da AFP)