A esperada reunião sobre a crise ucraniana realizada nesta sexta-feira (21) entre os chefes da diplomacia russa e americana, Serguei Lavrov e Antony Blinken, em Genebra, terminou sem resultados concretos. Os dois países apresentaram suas posições sobre o assunto e um novo encontro foi marcado para a próxima semana. Washington e boa parte dos ocidentais acusam Moscou, que enviou milhares de soldados para a fronteira ucraniana, de planejar invadir o país vizinho, mas o Kremlin nega.
Lavrov e Blinken concordaram que Washington apresentaria, “na próxima semana”, uma resposta por escrito às exigências russas sobre a crise ucraniana. O representante de Moscou observou que ele e o secretário de Estado americano “concordaram que um diálogo razoável (é) necessário” para “a tensão diminuir”, enquanto Blinken saudou “discussões francas e substanciais”.
Mas o representante de Washington insistiu que “os Estados Unidos e seus aliados europeus apoiam com firmeza a Ucrânia, assim como sua soberania e integridade territorial. Se tropas russas atravessarem a fronteira com a Ucrânia, a resposta será rápida, severa e coordenada”, ameaçou. Blinken disse que essa reação internacional poderia acontecer mesmo em caso de agressão “não militar” da Rússia contra a Ucrânia.
Já Lavrov disse que espera uma resposta escrita às propostas de Moscou e insistiu, mais uma vez, que seu não país não pretende invadir a Ucrânia. “Lembro mais uma vez para aqueles que analisam nossas declarações públicas que a Rússia nunca ameaçou o povo ucraniano”, declarou.
Muitas condições e pouca negociação
Mesmo negando qualquer intenção de invadir a Ucrânia, o Kremlin condiciona a redução da escalada a tratados que garantam a não extensão da Otan e a saída da Aliança do Leste Europeu.
A Rússia insiste na retirada das tropas estrangeiras dos países da Otan de todos os territórios que aderiram à Aliança após 1997, citando uma lista que inclui 14 países do antigo bloco comunista, principalmente a Bulgária e a Romênia, que fazem parte da União Europeia.
“A Rússia pede para voltarmos 15 anos atrás, falando de países que eram ocupados pela União Soviética”, lembra o general Dominique Trinquand, ex-chefe da missão militar francesa na ONU. No entanto, “estamos em um mundo livre, no qual os países podem escolher suas próprias alianças”, completou.
Trinquand também questiona a estratégia do Kremlin, que impõe vários obstáculos desde o início das conversas. “A primeira coisa quando se entra em uma negociação desse tipo é não colocar imediatamente as condições sobre a mesa de discussões, como fez Lavrov – o que aliás é surpreendente para um diplomata tão experiente”, comenta o militar, conhecedor desse tipo de tensão militar e diplomática. “Normalmente, primeiro se negocia, se analisa os limites, se calcula em que pontos o outro pode ceder etc. Ao colocar todas suas condições imediatamente, não há mais surpresas e a coisa fica mais fácil para os americanos”, avalia.
O especialista em estratégia militar e geopolítica também lembra o aspecto econômico dessa queda de braço entre Moscou e o Ocidente. “Sabemos que a economia da Rússia está relativamente enfraquecida. Mesmo assim, Moscou não parou de aumentar a potência do exército russo nos últimos 20 anos. Cada um mostra as ferramentas que dispõe, sejam elas diplomáticas ou econômicas. Mas uma hora Moscou não vai mais poder manter essa pressão”, alerta.
RFI