O presidente do Chile, Gabriel Boric, disse visto a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como um momento de “esperança” para o Brasil, mas destacou que a votação recebida por Jair Bolsonaro (PL) no pleito de 2022 é “motivo de preocupação”.
“Para nós, foi um momento de grande incerteza e de grande esperança. […] Mas nem é preciso dizer que o resultado das eleições foi também surpreendente. Precisamos entendê-lo, e não ignorar a alta votação que o candidato derrotado [Bolsonaro] obteve”, disse Boric em entrevista ao jornal Folha de São Paulo divulgada nesta 6ª feira (6.jan.2023).
Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) foram eleitos no 2º turno com 50,9% dos votos válidos (60,3 milhões de votos), derrotando a chapa do ex-presidente, que teve 49,10% (58,2 milhões de votos). A diferença que separou o petista do adversário foi de 2,1 milhões de votos, a menor entre candidatos a presidente no 2º turno das eleições desde a redemocratização.
“Nas eleições de 2006, Lula e Alckmin [que disputaram a Presidência da República um contra o outro], tiveram somados, no 2º turno, perto de 90% dos votos. E hoje os 2, aliados, chegaram a 51%. É motivo de preocupação uma opção tão anti-humanista como a de Bolsonaro obter uma votação tão alta”, disse Boric.
O presidente chileno veio ao Brasil para participar de posse de Lula no domingo (1º.jan). Na manhã do dia seguinte, se reuniu com o presidente no Itamaraty. Segundo o líder chileno, há “grandes expectativas” de construir uma agenda regional da América do Sul e América Latina.
Questionado sobre a ameaça de um golpe após o resultado do pleito, em novembro, Boric disse que houve uma “grande incerteza” à medida que eventos começaram a se desenhar durante o período eleitoral. O presidente do Chile cita a operação da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em 30 de outubro, dia do 2º turno da eleição, e o silêncio de Bolsonaro depois da derrota nas urnas.
“Nós no Chile confiamos muito nas instituições. E no Brasil elas responderam democraticamente, em particular o Supremo Tribunal Federal. Havia ainda uma confiança muito grande no povo brasileiro. Confiança de que, por sua mobilização, não haveria espaço para algo com essas características [de golpe]”, disse.