O presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, confirmou que o presidente Jair Bolsonaro vai se filiar ao partido. Costa Neto afirmou que Bolsonaro relatou ter conversado com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP, legenda com a qual ele também vinha negociando.
— Sempre falo com o presidente. Sempre tive contato com o Bolsonaro. Agora, tivemos o contato anterior e as coisas andaram. Fiz nossa gravação convidando ele para vir par ao partido — disse Costa Neto, em um áudio enviado à sua assessoria. — Ele falou com o Ciro (Nogueira) hoje e então vamos tocar para frente o assunto e ver quando vamos fazer essa filiação.
A decisão de Bolsonaro foi antecipada pelo colunista Lauro Jardim.
No PP, o discurso oficial é que a ida de Bolsonaro para o PL não é um problema, porque o partido de Costa Neto é um aliado e garante que estará no projeto de reeleição. Reservadamente, porém, integrantes do PP relatam frustração e admitem que todos os esforços foram feitos para ter o presidente da República.
Ciro Nogueira chegou a garantir a Bolsonaro que teria o apoio de todos os diretórios estaduais, além de assegurar que o presidente poderia indicar candidatos ao Senado.
Após a decisão de Bolsonaro, membros do PP afirmam que ainda não está definido qual a participação da sigla no projeto da reeleição. Segundo esses integrantes, não ficou acertado se o PP indicará o candidato a vice.
De acordo com parlamentares do PP, Valdemar Costa Neto mandou um recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dizendo que poderia não apoiar a reeleição dele na casa se o PP seguisse insistindo em levar Bolsonaro. O movimento teria ajudado o PL a ganhar a preferência do presidente.
No áudio, Costa Neto falou em um possível acordo para a sucessão de Lira, que envolveria também outras siglas aliadas, como Republicanos. Pelo acerto, o atual presidente da Câmara seria reeleito em 2023, mas depois haveria um rodízio entre as demais legendas.
— Temos que nos entender, para que todos sejam atendidos. Porque política é isso. Hoje o PP tem a presidência da Câmara e vamos querer ter essa presidência. Tem a reeleição do Arthur, vamos apoiar. E depois de nós, vai vir o PRB (Republicanos). Todos têm que crescer, todos têm que ter essa vantagem. E não pode ficar para trás. Se temos um grupo, ninguém pode ficar para trás — disse Costa Neto.
De acordo com o senador Wellington Fagundes (PL-MT), a filiação pode ocorrer no dia 22, número do partido nas urnas. Fagundes ressaltou que existe a possibilidade do partido liberar os diretórios regionais que não queiram apoiar Bolsonaro.
— Tradicionalmente, o PL nunca foi de fechar questão — afirmou o senador, ao chegar no Palácio do Planalto para uma reunião. — Nós temos diferenças regionais muito grandes. Acredito que é possível, sim, ter coligações diferentes.
Nogueira e Lira tentaram reverter
No dia 25 de outubro, Valdemar Costa Neto gravou um vídeo fazendo o convite para Bolsonaro, seus filhos e aliados ingressarem no PL. O aceno público havia sido combinado com o presidente da República, que um dia antes havia se comprometido a ir para o a sigla.
O presidente vinha sendo aconselhado a optar pelo PL, porque Costa Neto tem o comando do partido, enquanto o PP possui muitos caciques.
Diante do avanço do PL para ficar com Bolsonaro, o PP se movimentou rapidamente e, no mesmo dia da divulgação do vídeo, Ciro Nogueira e Arthur Lira se reuniram no Planalto com o presidente e seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), para reverter a situação.
Na conversa, Bolsonaro voltou a colocar na mesa suas exigências. Pediu garantias de que o PP apoiaria seus candidatos ao Senado em estados estratégicos, o que foi concedido. Os caciques do PP apelaram também para o fato de Bolsonaro já ter sido filiado ao partido e ter se mostrado fiel ao governo. Ao final da conversa, ouviram que a sigla voltou a ser a favorita na corrida pela filiação.
Tão logo informação sobre a reunião com o PP começou a circular, integrantes do PL, que haviam recebido a sinalização de que Bolsonaro estava com o pé na sigla, reagiram negativamente.
Além do recado a Arthur Lira de que o PL poderia não apoiar a reeleição dele à Câmara, o PL também alertou que a sigla pode acabar se aliando ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal rival político. A aliados, o presidente do PL admitiu dificuldades na possibilidade em compor uma chapa com Bolsonaro indicando o vice caso o presidente decline do convite para se filiar à legende dele.
Valdemar Costa Neto foi condenado a sete anos e dez meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no âmbito do esquema do mensalão.
O Globo