Já fazia alguns dias que a mãe de uma aluna da Escola Estadual Leônidas Antero de Matos, no CPA 3, notou a mudança de comportamento na filha de 8 anos. Ela reclamava que não queria mais ir à escola, chegou a relatar alguns episódios de bullying, mas a mãe não imaginava a proporção das agressões até a última sexta-feira (14). Assim que ela chegou em casa, foi surpreendida com um vídeo gravado dentro do banheiro da unidade escolar, onde a filha aparece sendo agredida por duas meninas. Ela até tenta se defender, mas acaba desmaiando.
Racismo teria motivado as agressões. À mãe, a menina contou que vinha sendo alvo de piadas por conta do seu cabelo e da sua pele. As agressoras falavam que ela era ‘neguinha do cabelo pixaim’, que ela era feia, que faziam piada com a cor da pele dela.
Em entrevista ao GD, a mãe – que não será identificada para preservar a imagem da menor –, contou que chegou em casa de noite, depois de um dia de trabalho, e já foi abordada pelas duas filhas. “Elas chamaram eu e meu marido e contaram o que tinha acontecido, também já mostraram o vídeo. Nós ficamos em choque e já procurei a polícia no dia seguinte”, disse.
Caso já está sob os cuidados da Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (Deddica). Os pais da menina também procuraram o Conselho Tutelar, que foram informados que não receberam nenhuma chamada da direção da escola. “Me deixou sentida que, um caso como esse, não teve uma notificação aos pais, nem mesmo ao conselho”.
A mulher afirma que durante o sábado (28) recebeu vários vezes o vídeo da agressão. Esperou por um posicionamento da direção do colégio, que não veio nem naquele dia, nem no domingo (29). Já na segunda (30), ela foi com o marido na escola e pediu a transferência das filhas. “Perguntaram quem eram minhas filhas, aí eu disse que uma delas foi a que aparecia sendo agredida no vídeo, aí eles ficaram quietos, não falaram nada”.
‘Só liga quando falta’
No dia em que a agressão aconteceu, a irmã mais velha da vítima estava na quadra da escola durante uma apresentação. Ela recebeu o vídeo, reconheceu a irmã e tentou sair para ajuda-la. “Ela foi contida, disseram que não podia sair da quadra e que já tinham resolvido”, lembrou a mãe.
Mas, na segunda, ela percebeu que a situação parecia ter sido esquecida. “Uma cena dessas, de violência, sequer foi registrada em ato. Os pais das crianças envolvidas não foram comunicadas, eu não fui comunicada, meu marido também não recebeu nenhuma ligação da escola. Não tem um procedimento padrão?”, desabafa.
A diretora afirmou que tinha visto o vídeo em rede social, mas que ainda não tinha tomado nenhuma medida. A mãe lembra que ela ainda chegou a pedir o nome das crianças que estavam no vídeo, mas a questionou como gestora, que era o trabalho dela fazer a identificação e punir as agressoras.
“A escola me liga quando minhas filhas faltam, mas não é capaz de me ligar quando ela é agredida, quando está desmaiada e já pensou se estivesse morta?”.
Outro lado
Reportagem entrou em contato com a escola, mas foi informada que o assunto está sendo tratado pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Já o órgão emitiu uma nota, afirmando que está tomando providências e realizando atividades orientativas e preventivas.
Confira a nota na íntegra
“Em relação a casos relacionados a brigas entre alunos, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT) esclarece que a Diretoria Regional de Ensino (DRE) e o Núcleo de Mediação da Secretaria Adjunta de Gestão Educacional tomam as providências que incluem palestras de orientação, além de dinâmicas junto aos estudantes e professores como ação orientativa e preventiva. Providências também são tomadas pela direção da unidade escolar junto à família e à Polícia Civil, no sentido de identificar os envolvidos.”
Yuri Ramires/Gazeta Digital