Anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como uma “transformação do Estado brasileiro”, o chamado “Plano Mais Brasil” reúne uma série de mudanças com o objetivo de reduzir gastos públicos.
Algumas das medidas são polêmicas e têm potencial para afetar o bolso de servidores públicos, concurseiros e milhares de brasileiros que hoje contam com isenções de impostos.
A BBC News Brasil reúne aqui os 6 pontos desse megapacote de reformas econômicas que podem ter impacto direto na sua vida:
Limites à criação de despesas, como reajustes e bônus a servidores
Um dos principais trechos da PEC do Pacto Federativo é o que barra despesas que não estejam previstas no Orçamento. Pelo texto, decisões judiciais e novas leis que criem gastos só passarão a ter eficácia se o uso dos recurso estiver previsto no Orçamento.
Não é raro haver decisões de tribunais que ampliam benefÃcios a servidores e juÃzes sem que os gastos estejam previstos no orçamento. Foi o caso, por exemplo, de uma liminar concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux em 2014 que concedeu auxilio-moradia a todos os juÃzes.
A decisão foi vista como uma maneira de permitir reajuste salarial indireto num momento em que o Executivo se negava a incluir no Orçamento aumento pedido pelos magistrados.
Fux só revogou o benefÃcio concedido via liminar após o então presidente Michel Temer aprovar, em 2018, reajuste de 16,3% no salário dos ministros do STF, fazendo com que o teto do funcionalismo público subisse de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil.
Revisão de benefÃcios tributários. como isenção de imposto de renda para doentes graves
Ao longo dos anos, diversas isenções de tributos a grupos especÃficos foram concedidas pelo governo.
Por exemplo: pessoas com doenças graves não precisam pagar Imposto de Renda, enquanto taxistas deficientes fÃsicos, visual, e autistas são livres de pagar o IPI, que é o Imposto sobre Produtos Industrializados.
Pela PEC do Pacto Federativo, essas isenções serão revistas a cada quatro anos e, no caso de impostos federais, elas não poderão ultrapassar 2% do Produto Interno Bruto (PIB) a partir de 2026.
Mudança no percentual mÃnimo de gastos com Saúde e Educação
A PEC prevê flexibilizar as regras de gastos mÃnimos da União e dos Estados com saúde e educação. Atualmente, há um percentual especÃfico para cada um desses dois setores.
No caso da União, os pisos são corrigidos pela inflação do ano anterior. Para os Estados, o gasto anual mÃnimo com educação é de 25% do Orçamento e, com saúde, é de 12%.
A proposta prevê unificar esses percentuais, para que tanto a União quanto os Estados possam distribuir como quiserem os valores entre áreas de educação e saúde. Ou seja, um Estado poderá gastar, por exemplo, 35% do Orçamento com educação e 2% com saúde.
O temor é que esse gatilho acabe estimulando uma redução em gastos com educação que costumam trazer retorno de longo prazo. PolÃticos ávidos por resultados eleitorais imediatos podem, eventualmente, aplicar quase todo o percentual mÃnimo em ações de saúde capazes de atrair votos.
Congelamento de concursos públicos e redução de salários e jornada de servidores
Um dos pontos mais polêmicos da proposta é o que prevê medidas drásticas, com validade de um ano, caso o paÃs se encontre no que a PEC define como Estado de Emergência Fiscal.
Esse gatilho é ativado quando as despesas correntes (obrigatórias, como pagamento de salários) alcançar 95% das receitas correntes, limitando o espaço para investimentos para menos de 5% do orçamento.
Se essa situação de “emergência” for verificada, passará a ser proibido, por até um ano: promover funcionários públicos, conceder reajustes, realizar concursos públicos e criar verbas indenizatórias.
A proposta ainda permite reduzir em até 25% a jornada de trabalho dos servidores com diminuição proporcional dos salários. Ou seja, de um ano para o outro o funcionário público poderá perder parcela significativa da sua remuneração mensal.
Também fica vetada a criação, durante o perÃodo de Estado Emergencial Fiscal, de novas despesas obrigatórias e benefÃcios tributários. Além disso, serão suspensos repasses do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES).
União deixará de ser fiadora de empréstimos a Estados e municÃpios
A partir de 2026, a União deixará de ser fiadora de empréstimos que Estados e municÃpios tomarem de bancos nacionais e internacionais- só continuará a garantir garantias para empréstimos oferecidos por organismos internacionais.
Principalmente durante a preparação para a Copa do Mundo de 2014 diversos estados e municÃpios assumiram dÃvidas milionárias com bancos para a construção de estádios pelo paÃs.
Muitos desses financiamentos foram autorizados pelo Ministério da Fazenda e apesar de parecer contrário de funcionários do Tesouro Nacional. O resultado é que a União precisou arcar com dÃvidas que não foram pagas pelos governos locais tomadores dos empréstimos.
Pela PEC de Paulo Guedes, o governo federal só vai cobrir eventuais calotes de financiamentos concedidos por organismos como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), excluindo da lista instituições financeiras privadas.
Pequenos municÃpios podem ser extintos
Pode ser que o municÃpio onde você mora e que hoje conta com prefeito e estruturas próprias simplesmente deixe de existir, sendo incorporada por um municÃpio vizinho maior.
A PEC do Pacto Federativo propõe que municÃpios com menos de 5 mil habitantes cuja arrecadação própria com impostos não alcançar 10% de sua receita sejam incorporados pelo municÃpio vizinho.
Pelo texto, essa incorporação deverá ocorrer até 30 de junho de 2023 para os municÃpios que não conseguirem comprovar capacidade de arrecadação até essa data.
E quando essas medidas entram em vigor?
Essas propostas anunciadas pelo ministro da Economia não têm prazo para entrar em vigor porque dependem de aprovação do Congresso Nacional.
Por se tratarem de PECs, precisam passar por duas votações na Câmara e outras duas no Senado.
Na Câmara, em cada votação, os textos precisarão de 308 votos para ser aprovados. No Senado, são necessários 49 votos.
E as propostas ainda poderão ser modificadas por emendas no Congresso Nacional.
Deputados e senadores da oposição já anunciaram que vão tentar derrubar trechos dos textos, enquanto parlamentares que integram a base de apoio do governo Bolsonaro querem rapidez na tramitação das PECs.