O setor de Hematologia do Hospital de Câncer está dispensando pacientes em tratamento, pois não há recursos para compra de medicação para quimioterapia. Isso ocorre por conta da falta de repasses da Prefeitura de Cuiabá, cujo passivo está em R$ 6,8 milhões, segundo a unidade.
De acordo com o responsável técnico pelo setor de Hematologia, o médico André Crepaldi, o problema começou na segunda-feira (2), com pacientes com quimioterapias agendadas sendo mandados embora.
Atualmente, a ala atende mais de 600 pacientes em tratamento contra o câncer que chegam de todas as regiões do Estado.
“Alguns pacientes já estão sem medicamento por falta de estoque no hospital. Isso começou essa semana e é uma situação que está preocupando todo mundo”, afirmou.
O médico diz estar aflito com a falta de recursos. Para ele, outros setores como pediatria, por exemplo, também podem ter os atendimentos afetados.
“No nosso setor foi só o começo. Sem esse repasse, o problema irá se alastrar para as outras áreas do hospital, pode atingir todo mundo”, alertou.
Conforme o levantamento da unidade de saúde, somente os repasses de serviços ambulatoriais de novembro e dezembro do ano passado somam R$ 3,6 milhões ainda não pagos.
Os valores referentes ao incentivo municipal de Índice de Valorização por Qualificação Profissional estão acumulados em R$ 6,4 mil em repasses desde junho de 2018.
Há ainda emendas parlamentares federais que já estariam na conta do Município, porém não foram encaminhadas ao Hospital de Câncer.
Em 26 de dezembro, foram depositados R$ 1,6 milhão na conta da Prefeitura como parte das emendas parlamentares. Quatro dias depois, mais R$ 400 mil caíram na conta, porém nada foi enviado à unidade de saúde, segundo o documento.
Risco à vida
Conforme Crepaldi, sem o devido tratamento, a vida dos pacientes é colocada em perigo. Em casos graves, a suspensão no tratamento pode ser fatal.
“A interrupção do tratamento pode prejudicar, primeiro, a cura e os pacientes que vão necessitar de um tratamento, que sem ele o paciente tem um risco eminente de morte, como no caso da leucemia aguda. É uma doença realmente grave e precisa de tratamento imediato”, afirmou.
Outra questão é que determinados casos não têm para onde serem encaminhados, pois não há outros hospitais no Estado que realizam o tratamento adequado.
“Todos os médicos estão preocupados porque nesse momento a gente não sabe o que fazer. Alguns pacientes terão que fazer tratamento fora do Estado porque não temos para onde encaminhar”.
Protesto
A presidente da ong MT-Mama, Cleuza Dias, que atua com pacientes com câncer de mama, o grupo se prepara para realizar a 7ª Marcha Rosa neste sábado (7), em Cuiabá.
Entre as reivindicações está mais dignidade aos pacientes de câncer, que estão sendo afetados com o atraso nos repasses.
“Todo ano a gente faz a marcha para reivindicar mais dignidade ao paciente que está fazendo tratamento, aumento de profissionais especializados, de equipamentos, agilidade do SUS na liberação desse tratamento. São politicas públicas de saúde que iremos reivindicar”, explicou Cleuza.
A concentração será às 7h30, na Praça Alencastro.
Outro lado
A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde informou que os repasses passarão por um “encontro de contas”, levando em conta dívidas que a unidade médica teria com o Município. Segundo a Prefeitura, a prática garante transparência nas ações.
Leia a nota na íntegra:
Sobre a cobrança do Hospital de Câncer Mato Grosso, a Prefeitura de Cuiabá informa:
– Por determinação do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, todos os repasses devem passar por um encontro de contas em um plano de aplicação.
– A prática é adotada para garantir a lisura e transparência das ações, seguindo diretrizes de um processo de gestão executado na Capital.