O deputado federal Carlos Bezerra (MDB), que militou a favor da redemocratização do Brasil e chegou a ser preso pela ditadura militar, avalia que o presidente da República, Jair Bolsonaro, “cutucou a onça com vara curta” ao divulgar vídeo convocando a manifestação contra o Congresso Nacional marcada para o próximo dia 15 de março. Na opinião do emedebista, a resposta dos congressistas pode ser “muito dura” e resultar no afastamento do Executivo.
“O presidente desrespeitou a Constituição ao atacar um dos Poderes da República, o que pode configurar crime de responsabilidade e resultar em impeachment. A resposta do Congresso será dura. Agora, eu asseguro que não existe risco de ruptura da ordem democrática no Brasil”, declarou Bezerra.
Segundo o parlamentar, Bolsonaro e seus apoiadores estão fomentando a ruptura da ordem institucional. No entanto, pontua que a ideia não encontra eco nas Forças Armadas.
“Os oficiais não querem golpe. Isso é coisa do Bolsonaro, do general Heleno e da turma despreparada que os rodeia. As Forças Armadas sabem que a ditadura foi traumática, trouxe muito desgaste e não querem repetir essa experiência”, completou.
Além disso, Bezerra declara que a postura de Bolsonaro não o surpreende. Segundo ele, em 28 anos de parlamento, a principal atividade do hoje presidente da República, foi tentar destruir a democracia.
“Eu não me surpreendo com a postura desse presidente da República. Ficou 28 anos na Câmara defendendo militar torturador, defendendo miliciano, falando besteira. Nunca escondeu que defende ditadura. Agora, está na hora do Congresso colocar um freio nessa situação”, concluiu.
Reações
A deputada federal Rosa Neide (PT) defende o impeachment de Bolsonaro. Para a petista, a paz do Brasil está sendo destruída pelo presidente da República.
“Um presidente da República não tem legalidade para destruir a paz no país! A nossa jovem democracia está em perigo. Bolsonaro está convocando a sociedade para se opor aos preceitos constitucionais. O golpismo é a sua razão de viver!”, postou.
A situação começou a ficar tensa devido ao comentário do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, sobre os membros Poder Legislativo. “Nós não podemos aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo. Foda-se”, disse ele.
A fala do general Augusto Heleno gerou reações. Os presidentes da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), rebateram o ministro. Maia o chamou de “radical ideológico”, enquanto Alcolumbre declarou que “nenhum ataque a democracia será tolerado”.
Ontem (25), o próprio Bolsonaro divulgou vídeo convocando a manifestação. Junto com o vídeo, o presidente escreveu: “O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”. A convocação do presidente da República estaria se somando à do Movimento Brasil Conservador (MBC), que fala em “parlamentarismo branco” no Congresso e manobras espúrias da esquerda.
Diante do episódio, o deputado federal José Medeiros, vice-líder de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, saiu em defesa do presidente da República. Nas redes sociais, replicou post esclarecendo a situação.
“Tenho 35 milhões de seguidores em minhas mídias sociais (Facebook, Instagram, YouTube e Twitter) onde mantenho uma intensa agenda de notícias não divulgadas por parte da imprensa tradicional. Já no Whatsapp tenho algumas poucas dezenas de amigos onde, de forma reservada, trocamos mensagens de cunho pessoal. Qualquer ilação fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”, concluiu Medeiros em nome de Bolsonaro.