A China alertou, neste domingo (24), que suas relações com os Estados Unidos estão “à beira de uma nova Guerra Fria”, prejudicadas ainda mais pela pandemia de COVID-19, que avança rapidamente na América Latina.
A pandemia, que já causou mais de 342.000 mortes e mais de 5,3 milhões de infectados em todo o mundo, ofuscava neste domingo a festa do Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadã para centenas de milhões de muçulmanos.
A crise da saúde exacerbou as relações já tensas entre a China e os Estados Unidos, e as duas potências continuam a lançar ataques verbais.
Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, disse que Washington se infectou com um “vírus político” que aproveita “todas as oportunidades para atacar e difamar a China”.
“Algumas forças políticas nos Estados Unidos estão fazendo as relações entre China e Estados Unidos como reféns e levando nossos dois países à beira de uma nova Guerra Fria”, disse o chanceler a repórteres.
Wang também acusou os políticos americanos de “espalhar boatos” para “estigmatizar a China”, onde o novo coronavírus surgiu no final do ano passado.
No entanto, o ministro garantiu que o sue país está “aberto” à cooperação internacional para identificar a origem do vírus mortal.
Essa cooperação deve ser “profissional, justa e construtiva” e sem “interferência política”, enfatizou.
Nas últimas semanas, o presidente americano, Donald Trump, acusou repetidamente as autoridades chinesas de terem demorado para comunicar dados cruciais sobre a gravidade da doença.
Os Estados Unidos são de longe o país mais atingido pela COVID-19, com 1,6 milhão de casos e 97.048 mortes (+1.127 nas últimas 24 horas).
No entanto, o estado de Nova York, foco da epidemia, registrou 84 mortes nas últimas 24 horas, o número mais baixo desde 24 de março, anunciou o governador Andrew Cuomo.
Trump, que quer flexibilizar o confinamento e reativar a economia, fez um gesto no sábado para marcar um retorno à normalidade e foi jogar golfe em seu clube na Virgínia, perto de Washington, pela primeira vez desde 8 de março.
– Futebol e turistas na Espanha –
Na Europa, os países avançam cautelosamente no desconfinamento.
O continente, que ultrapassou dois milhões de infectados, continua sendo o mais enlutado por esta pandemia, com mais de 173.500 mortes.
O governo espanhol anunciou o retorno da Liga de Futebol em 8 de junho e, a partir de julho, turistas estrangeiros poderão viajar para o país.
Esta segunda medida é crucial para a Espanha, o segundo destino turístico do mundo, onde o setor representa 12% do PIB.
Madri e Barcelona poderão reabrir bares, museus e hotéis a partir de segunda-feira.
“A parte mais difícil já passou (…) a grande onda da pandemia foi superada”, assegurou o chefe do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez.
Na França, outro país gravemente atingido pela COVID-19, as igrejas reabriram suas portas neste domingo, mantendo as recomendações sanitárias.
Depois da Grécia e da França, o governo italiano autorizou seus cidadãos no sábado a ir às praias, mas apenas passear ou tomar banho, sem poder tomar sol na areia.
– “O momento mais doloroso” –
Enquanto a Europa se recupera, os tremores desse terremoto sanitário continuam a abalar os países da América Latina. A região, que se tornou o “novo epicentro” da COVID-19, segundo a OMS, está no auge da pandemia.
O Brasil, com mais de 347.000 casos e 22.000 mortes, é de longe o mais punido da região e já ultrapassou a Rússia como o segundo país com o maior número de infecções, atrás apenas dos Estados Unidos.
O presidente Jair Bolsonaro protagonizou uma nova polêmica quando um vídeo de seu gabinete foi revelado e no qual a pandemia mal é mencionada.
Cheio de obscenidades, insultos, reclamações e declarações potencialmente incriminatórias, o vídeo causou indignação no gigante sul-americano, onde muitos questionam a gestão do governo da crise.
O México, o segundo país da região com maior número de mortes, registrou até este sábado 65.856 casos confirmados e 7.179 óbitos.
O país enfrenta seu “momento mais doloroso devido à pandemia”, nas palavras do presidente Andrés Manuel López Obrador.
Na Argentina, a aceleração das infecções, que em Buenos Aires aumentou cinco vezes nas últimas duas semanas, levou o presidente Alberto Fernández a estender o isolamento social obrigatório até 7 de junho.
Na Bolívia, o departamento amazônico de Beni, na fronteira com o Brasil, foi declarado em “desastre de saúde” após um aumento exponencial das infecções e mortes.
No Peru, o segundo país da região em infecções (115.754) e o terceiro em mortes (3.300), o governo estendeu o confinamento obrigatório até 30 de junho, embora tenha autorizado a retomada de alguns serviços em domicílio.
No Chile, que contabiliza 65.393 casos e 673 mortos, multiplicam-se os protestos em comunidades pobres de Santiago contra a pouca ou nenhuma ajuda do governo, a falta de comida e o desemprego.
A Costa Rica, que não adotou confinamento obrigatório, luta para manter sua “frágil conquista” de poucos contágios com “disciplina”, disse o presidente Carlos Alvarado à AFP.
Na América Latina, mais de 39.000 pessoas morreram e cerca de 715.500 infecções foram registradas, segundo contagem da AFP.