A variante brasileira do coronavírus pode “escapar” dos anticorpos produzidos pela CoronaVac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pela farmacêutica Sinovac. É o que mostra um estudo, ainda preliminar, publicado nessa 2ª feira (1º.mar.2021) na área de pré-prints (artigos que ainda não foram revisados por outros cientistas) da revista científica The Lancet.
A CoronaVac é produzida no Brasil pelo Instituto Butantan e é o principal imunizante usado na campanha de vacinação brasileira.
O estudo foi conduzido por cientistas brasileiros. Eles coletaram o plasma de 8 participantes da última fase de testes da CoronaVac, que receberam as duas doses do imunizante há 5 meses.
Os pesquisadores testaram a atividade neutralizante dos anticorpos presentes nas amostras contra a P.1, a cepa identificada em Manaus (AM). A variante, que foi detectada pela 1ª vez em dezembro, já está presente em pelo menos 17 Estados do Brasil.
Os cientistas também testaram a atividade neutralizante contra a linhagem B, a mais comum no Brasil antes do surgimento da P.1. Eles observaram que o nível de anticorpos capaz de proteger contra o vírus foi mais baixo para a P.1, ficando abaixo do limite da detecção no exame.
Segundo os pesquisadores, a diferença não deve ser vista como estatisticamente significativa, uma vez que a amostra de voluntários é pequena e o nível de neutralização em ambos os casos era “bastante baixo”.
Ainda assim, “os resultados sugerem que a P.1 pode escapar de anticorpos neutralizantes induzidos por uma vacina de vírus inativado”, como a CoronaVac.
O estudo verificou também a resposta do sistema imunológico de pessoas que já contraíram a doença à nova cepa. Os pesquisadores analisaram o plasma de 19 indivíduos que foram contaminados com o coronavírus antes do surgimento da P.1.
Eles constataram uma diminuição de 6 vezes na capacidade de neutralização dos anticorpos contra a variante brasileira em comparação com a linhagem B.
“Os dados sugerem que a linhagem P.1 é capaz de escapar das respostas de anticorpos neutralizantes gerados por infecção prévia por Sars-CoV-2 e, portanto, a reinfecção pode ser plausível com variantes com mutações na proteína spike”, declararam os autores da pesquisa.
Uma dose extra da vacina, atualizada para a variante, pode ser necessária para interromper a transmissão da nova cepa, alertaram os pesquisadores.
O Instituto Butantan afirmou que “realiza estudos próprios em relação à variante identificada no Amazonas”. Segundo a instituição, os resultados devem ser conhecidos nos próximos dias.
“O importante, neste momento, é que a população siga se vacinando, conforme a disponibilidade do imunizante na rede pública e os esquemas vacinais adotados pelos gestores”, disse o Butantan.
MAIOR CARGA VIRAL
Um estudo, também sem revisão, feito pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) indica que um adulto infectado com a variante de Manaus tem uma carga viral –quantidade de vírus no corpo– 10 vezes maior em relação a uma infecção por outras variantes.
Segundo a pesquisa, a carga viral mais acentuada da P.1 torna a mutação mais transmissível que as demais. Isso porque quanto mais vírus o indivíduo tiver nas vias aéreas mais ele o expelirá, seja por meio de tosses, espirros e até na fala.