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Coronavírus pode afetar exportações brasileiras e impactar preço da carne no país

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O surto de Coronavírus — pneumonia misteriosa causada pela cepa 2019-nCoV, até então desconhecida pelos cientistas — pode afetar as exportações brasileiras e influenciar até mesmo o preço de alguns produtos no mercado interno, como a carne.

A doença, cujos sintomas são nariz entupido, tosse, garganta inflamada, mal estar, febre e dor de cabeça, já causou 106 mortes na China, 18 dias após o primeiro óbito, e está se alastrando rapidamente: 14 outros países já foram afetados — Tailândia, Austrália, Malásia, Singapura, França, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Vietnã, Arábia Saudita, Nepal e Canadá.

Por conta disso, para tentar limitar a disseminação da enfermidade, transmitida pelo ar ou por contágio animal, diversas empresas e indústrias estão cancelando o expediente ou permitindo que seus funcionários trabalhem de casa.

As montadoras automotivas Nissan, Honda, Peugeot, Citröen e Renault, por exemplo, anunciaram estar se preparando para tirar suas equipes de fábricas nas partes do país afetadas pelo vírus.

Devido a esse cenário, como a China é o maior importador mundial, a exportação de commodities brasileiras — ou seja, mercadorias produzidas em escala, cujo valor é definido pela oferta e procura internacional — deve sofrer redução.

O presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ressalta que antes do surto já era esperada uma redução das exportações de 3,2% em relação ao ano passado, devido à crise na Argentina, ao acordo entre Estados Unidos e China, entre outros fatores. Agora, pode haver uma queda ainda maior.

— O Brasil seria prejudicado no primeiro momento por queda de preço e num segundo momento, dependendo do tempo que durar esse alerta pela doença, pela queda de quantidade de produção exportada — afirma: — Para mim, o minério de ferro será o produto mais afetado pela demanda reprimida.

Preço da carne pode sofrer impacto

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) acredita que ainda é cedo para emitir estimativas sobre redução das exportações de carne de boi, porco e frango. No entanto, o pesquisador Thiago Bernardino, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, avalia que é possível que nas próximas semanas o mercado sinta reflexos da queda nas vendas de carne para a China.

— Com menos gente saindo às ruas por lá, a demanda será menor. Isso pode gerar um impacto grande porque 40% da nossa carne vai pra China e Hong Kong, o que constrói um cenário interessante para o consumidor brasileiro, mas nebuloso para os exportadores — opina.

Bernardino também explica que os orientais fizeram estoque no mercado interno para a comemoração do ano novo chinês, que aconteceu na última sexta-feira, o que reduz a necessidade de compra de proteína animal. Além disso, revela que, normalmente, a demanda do mercado interno por carne também é menor no início do ano, por motivos como viagens de férias e aumento dos gastos por causa de despesas escolares e impostos. Somados, esses fatores pressionam os preços nas gôndolas dos mercados.

O economista da FGV André Braz acredita que os consumidores poderão ver essa mudança nos preços de forma mais nítida a partir de fevereiro:

— Nós estamos vendo os preços baixando de forma mais rápida do que imaginávamos. Acredito que haja espaço para exportação menor, mas acho difícil que os chineses abram mão de produtos alimentícios.

Produtores de soja não se preocupam

A Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja- Brasil) não receiam a redução nas vendas em decorrência do surto de coronavírus no mundo. O presidente Bartolomeu Braz Pereira conta que em 2018, 80% das exportações de soja foram para a China. Por conta da peste suína no ano passado, os índices caíram. No entanto, isso não significou redução de faturamento:

— Eles (chineses) demandaram muita carne do Brasil. E nós vendemos soja para fazer ração no mercado interno. Ganhamos de qualquer jeito!

O presidente da Aprosoja ainda acrescenta que as exportações até julho já foram negociadas e, por isso, não há motivo para preocupação.

— O mercado é muito dinâmico. Daqui a pouco, as coisas se normalizam — diz.

 

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