O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em sua live semanal nas redes sociais, desta quinta-feira (26), citou um estudo de “uma universidade alemã” sobre supostos efeitos colaterais do uso de máscara contra a covid-19, mas na verdade o levantamento se tratava de uma enquete online.
Antes de citar o tal ‘estudo’ Bolsonaro avisou que não entraria em detalhes sobre o levantamento. Resumiu a conclusão da pesquisa dizendo que as máscaras “são prejudiciais a crianças”, causando uma série de reações como irritabilidade, dor de cabeça e dificuldade de concentração.
A descrição feita por Bolsonaro coincide com a enquete online realizada pela Universidade de Witten/Herdecke, em outubro do ano passado. O resultado foi classificado como enganoso, limitado e parcialmente falso por órgãos de checagem e cientistas.
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“Pessoal, começam a aparecer estudos aqui, não vou entrar em detalhe, né?, sobre o uso de máscaras. Que, num primeiro momento aqui uma universidade alemã fala que elas são prejudiciais a crianças, e levam em conta vários itens aqui, como irritabilidade, dor de cabeça, dificuldade de concentração, diminuição da percepção de felicidade, recusa em ir para a escola ou creche, desânimo, comprometimento da capacidade de aprendizado, vertigem, fadiga… Então começam a aparecer aqui os efeitos colaterais das máscaras, tá ok?”, declarou Bolsonaro.
O presidente disse ainda que não entraria em detalhes porque “tudo deságua em crítica” contra ele e afirmou ter a sua opinião sobre máscara, “cada um tenha a sua”.
Segundo a enquete online respondida por 20.353 pessoas, prejuízos causados pelo uso de máscaras foram relatados por 68%. Os efeitos citados foram irritabilidade (60%), dor de cabeça (53%), dificuldade de concentração (50%), redução de felicidade (49%), relutância em ir para a escola ou creche (44%), mal-estar (42%), aprendizagem prejudicada (38%) e sonolência ou fadiga (37%).
A organização sem fins lucrativos Science Feedback , que verifica credibilidade de alegações que dizem ser científicas sobre clima e saúde, analisou o estudo no início do mês passado, e concluiu que ele não é baseado em evidências.
“O estudo não pode demonstrar uma relação causal entre o uso de máscara e esses efeitos em crianças, devido a limitações na sua formatação. Também não levou em consideração fatores de confusão, como a presença de doenças ou condições pré-existentes em crianças, que poderiam causar os mesmos efeitos negativos relatados. Os pais entrevistados no estudo também podem ser predispostos a não usar máscara, o que pode ter influenciado suas respostas”, apontou a Science Feedback.