
Mais de mil pessoas morreram entre quinta-feira (6) e este sábado (8) na Síria, em uma onda de violência que marca o primeiro grande confronto desde a queda do ex-presidente Bashar al-Assad, em dezembro do ano passado.
Os combates ocorrem entre aliados do regime deposto de Assad e as forças de segurança do novo governo, liderado pelo grupo radical islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS). Além dos confrontos, relatos de execuções por vingança e saques agravam a crise humanitária no país.
Ao menos 745 civis, 125 membros das forças de segurança do governo e 148 militantes pró-Assad foram mortos, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG sediada no Reino Unido com ampla rede de fontes na Síria.
Muitas das vítimas foram assassinadas em tiroteios de curta distância, em ações que o OSDH classificou como “execuções com base em razões confessionais ou regionais”, acompanhadas de “saques de casas e propriedades”, segundo a Reuters.
A escalada começou na quinta-feira, quando forças do governo tentaram prender um suspeito perto da cidade costeira de Jableh e foram emboscadas por partidários de Assad, segundo a BBC.
A violência se intensificou rapidamente e se transformou em confrontos abertos e assassinatos por vingança perpetrados por homens armados sunitas leais ao HTS contra alauítas, minoria que formava a base de apoio do clã Assad por décadas.
Rastro de destruição e fuga em massa
Moradores de vilarejos alauítas na costa síria descreveram à agência de notícias AP cenas de horror. Segundo eles, homens armados atiraram em civis nas ruas e nos portões de suas casas, e residências foram saqueadas e incendiadas.
Em Baniyas, uma das cidades mais afetadas, corpos ficaram espalhados pelas ruas ou abandonados em casas e telhados, sem que os moradores conseguissem recolhê-los. Ali Sheha, de 57 anos, que fugiu da cidade com sua família, contou à AP que ao menos 20 vizinhos foram mortos, alguns em suas lojas ou residências.
A eletricidade e a água potável foram cortadas em vastas áreas ao redor de Latakia, enquanto milhares de pessoas buscaram refúgio nas montanhas ou na base aérea russa de Hmeimim, onde multidões pediram proteção, segundo a Reuters. Dezenas de famílias também cruzaram a fronteira para o Líbano.
Resposta do governo e apelos por paz
O presidente interino Ahmad al-Sharaahm apelou na sexta-feira (7) para que os insurgentes alauítas “entreguem as armas antes que seja tarde demais”. Ele prometeu trabalhar para que o monopólio das armas fique nas mãos do Estado.
No domingo (9), falando de uma mesquita em Damasco, Sharaah anunciou uma investigação para identificar os responsáveis pela violência e levá-los à Justiça. O governo atribui os ataques a remanescentes das forças de Assad e culpa “ações individuais” pelo caos.
A SANA, agência de notícias estatal do país, informou que o Ministério da Defesa fechou estradas para a região costeira com o objetivo de “controlar a situação, prevenir abusos e restaurar a estabilidade” e que as autoridades retomaram o controle de várias áreas.
r7