A perspectiva do fim da guerra comercial entre Estados Unidos e China tem tirado o sono de produtores agrÃcolas brasileiros. China, desde que abriu sua economia para o mercado externo, é o principal comprador de produtos agropecuários brasileiros, ao passo que Estados Unidos o nosso principal concorrente. De olho em cada passo e negociação, a Aprosoja Mato Grosso garante que, apesar dos riscos, a costura de novos acordos é necessária para resgatar a “soberania†econômica do paÃs. Para o presidente da entidade, Antonio Galvan, “medidas amargas†devem ser tomadas, ainda que o agronegócio assuma esta conta.
“A população, de modo geral, todo mundo só fala uma coisa: que tem que mudar. Essa não é a palavra na boca de 100% dos brasileiros? Tem que mudar o que? Quando se propõe a mudar um sistema aà todo mundo começa a gritar o contrario. Quando se faz qualquer tipo de mudança alguém é atingido, não adianta. Todo mundo quer que mude, mas não quer que mude para si, sempre são os outros quem estão errados. O ser humano não consegue enxergar o próprio rastro. É algo [as negociações] que pode nos trazer um problema serio, ao nosso setor, não tenho duvida nenhuma. Mas para que as mudanças possam acontecer alguém tem que pagar essa contaâ€, criticou Antonio Galvan, em entrevista exclusiva ao Olhar Direto.
Na última semana, o comércio com a China entrou na pauta do encontro entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e Donald Trump. Para analistas, ainda é cedo para avaliar os impactos das medidas anunciadas entre os dois paÃses, mas alguns pontos podem ser destacados para entender de que forma as negociações entre Brasil e Estados Unidos podem afetar nossas relações comerciais com os chineses.
Cabe lembrar que ao longo dos últimos anos os Estados Unidos diminuÃram consideravelmente a importação de produtos brasileiros, principalmente os mato-grossenses. Desde 2017, por exemplo, o paÃs deixou de comprar carne in natura brasileira. O tema também foi abordado entre Bolsonaro e Trump, que se comprometeu a enviar para o Brasil uma equipe para verificar as condições sanitárias da produção frigorÃfica brasileira. Não há, no entanto, garantias reais de que os EUA retomem este mercado.
Enquanto isso, China e Estados Unidos dão passos largos rumo a uma reconciliação. A expectativa é que lideranças dos dois paÃses se reúnam em breve para discutir as tarifas impostas a importações por ambos.
Paralelo a isto, o Governo brasileiro tem sido um crÃtico frequente das relações comerciais mantidas pela China, o que tem causado preocupação no mercado interno. Durante sua ida aos Estados Unidos, nesta semana, o presidente Bolsonaro voltou a apontar um suposto viés ideológico nessas relações, mas garantiu que o Brasil vai continuar “fazendo negócio com o maior número de paÃses possÃveisâ€.
O receio é de que uma guerra comercial similar à que foi iniciada pelos Estados Unidos, que provocou um déficit de quase R$ 3,4 trilhões aos americanos, se repita no Brasil. Galvan admitiu a possibilidade, mas defendeu que o paÃs precisa “de um reconhecimento diferenciado lá foraâ€.
“A China precisa dessa produção, eles não vão se dar ao luxo, porque quem tem esse produto hoje no mundo, os três maiores são EUA, Brasil e Argentina. Pode ter algum atritozinho, mas a ponto de não comprar mais nada, acho que não existe. Aquela barreira que os EUA criou foi justamente para colocar a casa em dia, coisa que os governos anteriores estragaram. Isso é soberania econômica. O que o Trump está fazendo eu também acho que está correto. É problemático, claro, o produtor rural de lá levou um prejuÃzo enorme, mas para mostrar soberania, para te respeitarem como paÃs, à s vezes tem que se implementar medidas amargas. A gente não gostaria de pagar essa conta não, mas eu torço mais pela soberania brasileiraâ€, pontuou.