O projeto de lei anunciado nesta quarta-feira, 5, pelo governo permite que o Ãndio passe a ser o próprio garimpeiro de sua terra, se essa for sua vontade. Caso ele não queira garimpar sua área, poderá abrir espaço para empresas e, assim, ser indenizado por essa autorização. Hoje, a mineração em terra indÃgena é uma atividade proibida por lei.
Essa é um das regras que o governo pretende aplicar na abertura das terras indÃgenas para exploração mineral, geração de energia e demais empreendimentos de infraestrutura. A proposta é criticada por ambientalistas, que temem a devastação de áreas hoje preservadas.
O projeto enviado ao Congresso deverá passar pelo crivo de comissões da Câmara e do Senado, para só depois desse rito, voltar ao presidente e, assim, ser sancionado. Não há prazo para que isso ocorra.
No caso da lavra garimpeira, a proposta estabelece que a Agência Nacional de Mineração (ANM) dará um prazo de 180 dias para que as comunidades indÃgenas manifestem seu interesse de realizar a garimpagem, seja diretamente ou em parceria com não indÃgenas. A liberação da exploração ocorrerá após autorização do Congresso Nacional.
Os indÃgenas poderão contratar serviços especÃficos de terceiros, inclusive não indÃgenas, para tocar as atividades, desde que sejam os próprios indÃgenas que controlem a operação. A ANM poderá estabelecer, por meio de resolução, a exigência de comprovação de capacidade técnica e econômica daquele que for realizar a lavra garimpeira.
Consulta prévia
Pelo projeto, o Ãndio não terá poderes para vetar empreendimentos em suas terras. O garimpo será a única atividade que poderá receber veto.
O texto estabelece a consulta prévia à s comunidades indÃgenas afetadas por determinado projeto, mas deixa claro que o presidente da República apenas “considerará a manifestação das comunidades indÃgenas afetadas para a realização das atividadesâ€, com posterior pedido de autorização enviado ao Congresso Nacional.
“O pedido de autorização poderá ser encaminhado com manifestação contrária das comunidades indÃgenas afetadas, desde que motivadoâ€, afirma o documento. A autorização do Congresso para qualquer tipo de exploração será dada por meio de decreto legislativo.
Interesse bilionário
A mineração em terra indÃgena, principalmente a lavra garimpeira, é hoje uma das maiores ameaças aos povos indÃgenas do PaÃs, além do avanço da grilagem de terras, desmatamento e caça predatória.
Dos 521 milhões de hectares que compõem toda a Amazônia Legal, 94 milhões de hectares são áreas de proteção integral, um território equivalente a duas vezes o Estado de Minas Gerais e que corresponde a 18% de toda a área. Outros 115 milhões de hectares são terras indÃgenas já demarcadas, o que corresponde a 22% de toda a região. A Amazônia Legal abrange nove Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, além de parte do Maranhão.
A restrição legal atual não inibe as empresas de registrarem oficialmente quais são as suas áreas de interesse. Existem hoje 3.212 processos ativos de atividades minerais previstas dentro das terras indÃgenas da Amazônia Legal. Esses pedidos envolvem uma área total de 24 milhões de hectares, o equivalente a 21% de todo o território indÃgena da Amazônia Legal.
Paralelamente, há 353 pedidos ativos para pesquisa ou exploração mineral dentro das delimitações de florestas com proteção integral. Juntos, esses processos englobam uma área de 797 mil hectares, o equivalente a 0,85% das unidades protegidas.
Se somados todos os pedidos de pesquisa e exploração mineral em terras indÃgenas, florestas de proteção integral e aquelas de uso sustentável, chega-se a um total de 14.759 processos minerais ativos. A área total que é alvo desses pedidos chega a 37.797 milhões de hectares, 7% de todo o território protegido da Amazônia Legal.
Repercussão
Para Luiza Lima, responsável pela campanha de polÃticas públicas do Greenpeace, a decisão sobre o que acontecerá nos territórios indÃgenas passa a ser do presidente e, eventualmente, do Congresso. “Os povos indÃgenas serão ‘ouvidos’, mas não terão qualquer poder de decisão. Além do flagrante inconstitucional, este projeto revela a subserviência deste governo a interesses econômicos escusosâ€, disse Lima.
Cleber Buzatto, secretário adjunto do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), espera que o projeto de lei não seja aprovado pelo Congresso. “A implementação das medidas nele previstas tem o condão de promover a devastação ambiental das terras indÃgenas, a exploração de bens naturais essenciais à sobrevivência fÃsica e cultural dos povos, o divisionismo e potenciais conflitos intraétnicos e interétnicos, com consequente aumento das violações e violências contra esses povosâ€, afirmou.