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Riva acumula 11 fazendas e pensão de R$ 25 mil

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Extensas áreas marcadas por suspeitas de violência, corrupção e crimes ambientais. Esta é realidade que envolve as propriedades rurais de José Geraldo Riva. O ex-parlamentar, que dominou o legislativo estadual por décadas, mantém um enorme patrimônio em nome de familiares, conforme apurou a Gazeta em nova reportagem da série “O crime compensa?”.

A maior parte deste patrimônio vem de fazendas. Ao todo, são 11 propriedades que acumulam 73,7 mil hectares e se espalham pelas cidades de Juína, Colniza e Alta Floresta.

A maioria das terras está em Colniza, são 8 propriedades no município, duas em Juara e uma em Alta Floresta. Constam como sócios ou donos a presidente interina da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), Janaina Greyce Riva, a esposa de Riva, Janete Gomes Riva, e um de seus filhos, José Geraldo Riva Júnior.

Uma destas posses é a Fazenda Bauru, comprada com dinheiro de propina, segundo a delação premiada do ex-governador Silval Barbosa. Foi nesta fazenda que morreu o trabalhador rural Elizeu Queres de Jesus, 38, no dia 9 de janeiro deste ano.

Segundo as investigações, Elizeu e os demais posseiros acampados na região estavam desarmados e sofreram uma emboscada dos seguranças que trabalhavam para Riva na propriedade.

‘Em Colniza, quem manda é o Riva, ninguém está do nosso lado, falam na cidade que vão matar mais, quando eu dei entrada no hospital um dos policiais virou para mim e disse: ‘Tinha que ter matado era todo eles’. Falou isso quando eu agonizava de dor’, conta o sobrevivente Valmir Nunes Januário, 42, que diz ter sido surpreendido pelos tiros que partiram das armas dos seguranças do ex-deputado. Os homens de Riva foram libertados um dia depois de presos.

Proteger suas terras é prioridade para Riva, sobretudo porque é de lá que ele tira parte dos recursos que o mantém livre, e permite que pague advogados que o ajudaram a prorrogar sua prisão definitiva desde 2015, quando perdeu o foro privilegiado.

Toda esta riqueza vem da floresta amazônica, onde a família Riva tem o direito de retirar madeira em mais de 10 mil hectares das fazendas. As autorizações valem para as fazendas Paineiras, Paineiras III, Três Morrinhos, 3M e 3J, segundo dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema). Nem todas as autorizações tem validade até os dias atuais. Assim, é provável que boa parte da madeira já tenha sido retirada.

Negócio com Silval

Além do manejo florestal, as fazendas do clã Riva foram palco de degradação do meio ambiente. Dados da Sema mostram que cerca de 49 hectares foram degradados de quatro fazendas da família. Apenas na Fazenda Paineiras III, em nome de Janete Riva, 15 hectares sofreram com a ação humana e, por conta disso, foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental ao custo de R$ 187 mil para a proprietária, que tinha até 2016 para resolver o problema.

Foi através da empresa Floresta Viva Exploração de Madeira e Terraplanagem Ltda., criada em 2011 em nome de Janete Riva, que o ex-deputado ofereceu a Silval, em 2012, a compra da Fazenda Bauru por meio de um suposto esquema que utilizou parentes dos dois políticos como laranjas.

A propriedade foi comprada da empresária Magali Pereira Leite pelo valor de R$ 18,6 milhões. Dinheiro que teria vindo da propina paga por frigoríficos que ganharam incentivos fiscais no governo. Na ocasião, conforme a delação, Silval teria pago R$ 5,1 milhões, mesmo montante empenhado por Riva. Magali contesta na Justiça o negócio e diz que o valor não foi quitado até hoje.

Aposentado
Apesar de vir da iniciativa privada parte dos seus recursos, Riva se mantém também com exatamente aquilo que o bancou desde que entrou na política: os cofres públicos. Enquanto os mato-grossenses se desesperam com receio das mudanças na previdência, Riva vive bem com os R$ 25,3 mil que recebe todo mês a título de aposentadoria da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT).

Desde que saiu do legislativo, em fevereiro de 2015, Riva já recebeu R$ 1,26 milhão. O dinheiro vem do Fundo de Assistência Parlamentar da Assembleia (FAP), benefício que o próprio Riva ajudou a criar. Ele foi um dos ‘mentores’ do novo FAP, quando o fundo foi extinto nos anos 1990. Na ocasião, os deputados decidiram que apenas parlamentares da 13ª legislatura teriam direito a aposentadoria. Em seguida, a extensão do benefício foi feita para parlamentares da 14ª legislatura, incluindo Riva na lista.

Delação recusada
O maior ficha suja do país – apelido que fez Riva ser conhecido nacionalmente – já tentou uma delação premiada para se livrar da cadeia. Com diversas prisões preventivas no currículo, ele sempre conseguiu manter-se longe do cárcere o mais rápido possível. Apesar de suas condenações somarem mais de 70 anos de prisão, Riva só pode ser preso se for sentenciado também em segunda instância.

Ao ver a proximidade de uma prisão definitiva, Riva tenta emplacar uma delação premiada na Justiça desde 2018 pelo menos. A delação apresentada por sua defesa foi rescindida, em abril deste ano, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A corte entendeu que o réu cometeu crimes mesmo depois do acordo, ao fraudar documentos e obstruir investigações. A promessa era de que o ex-deputado entregasse R$ 100 milhões pelos desvios cometidos.

Outro lado

Procurado pela reportagem Riva foi questionado sobre a morte em sua propriedade e afirmou que a reação dos seguranças foi natural, por conta da tentativa de invasão da fazenda que teria ocorrido. Como prova, Riva forneceu um vídeo que mostra a ação dos posseiros e o posterior conflito com os seguranças.

O ex-parlamentar também lembrou que as propriedades citadas na reportagem pertencem à sua família e são administradas por todos. Sobre a Fazenda Bauru, Riva informou que, de sua parte, a propriedade não foi comprada com dinheiro de propina e que pode provar documentalmente a origem dos recursos.

Sobre as fazendas Riva disse que não sabe dizer se todas as fazendas citadas pertencem a ele. O ex-deputado informou, porém, que todas as terras (com exceção da Fazenda Bauru) somam 24 mil hectares. Estas terras estão divididas e são resultado da divisão da Fazenda 3 Morrinhos.

‘O Ministério Público está informado sobre cada imóvel destes, nós nunca escondemos patrimônio, não tem nenhum imóvel que eu não tenha informado, meus bens estão todos bloqueados porque eu já informei para eles, eu nunca omiti’, afirmou.
lazaro@gazetadigital.com.br

Carreira política

Eleito deputado estadual em 1994
Reeleito para a função em 1998
Reeleito em 2002
Reeleito em 2006, com a maior votação para o cargo até então (82.799)
Reeleito em 2010 com 93.594 votos
Responde a mais de 100 processos judiciais
Já condenado a 70 anos de prisão

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