A inflação oficial no PaÃs desacelerou de 0,19% em julho para 0,11% em agosto*, segundo os dados do Ãndice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta sexta-feira, 6, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE). A conta de luz voltou a pesar no orçamento das famÃlias, mas os gastos foram menores com alimentos, transportes e saúde.
A tarifa de energia elétrica teve alta de 3,85% em agosto, após já ter aumentado 4,48% em julho. O item deu a maior contribuição para a inflação do mês, 0,15 ponto porcentual.
“Teve uma mudança de bandeira tarifária, era amarela em julho, e agora tem a bandeira vermelha patamar 1 em agosto, isso acabou pesandoâ€, explicou Pedro Kislanov da Costa, gerente do Sistema Nacional de Ãndices de Preços do IBGE.
A bandeira tarifária mudou de amarela em julho, onerando as contas de luz em R$ 1,50 a cada 100 quilowatts-hora consumidos, para a bandeira vermelha patamar 1 em agosto, com cobrança adicional de R$ 4,00 para cada 100 quilowatts-hora consumidos.
Na direção contrária, os gastos com alimentação e bebidas saÃram de uma ligeira alta de 0,01% em julho para um recuo de 0,35% em agosto. Os preços dos alimentos para consumo no domicÃlio recuaram 0,84%. O tomate ficou 24,49% mais barato no mês, um impacto de -0,08 ponto porcentual para a inflação. As famÃlias também pagaram menos pela batata-inglesa, hortaliças e verduras e carnes. Por outro lado, houve reajuste nos preços das frutas e da cebola.
As passagens aéreas também pesaram menos no bolso das famÃlias em agosto, com redução de 15,66% nas tarifas, o impacto negativo mais intenso na inflação do mês, ao lado do tomate.
“É normal ter queda nas passagens aéreas em agosto. Você tem uma base mais alta por conta das férias de julho, então em agosto tem essa quedaâ€, justificou Kislanov.
Os combustÃveis tiveram ligeira alta de 0,01% em agosto. A gasolina e o óleo diesel ficaram mais baratos, mas o etanol subiu 2,30%.
A recuperação ainda lenta e gradual do consumo das famÃlias descarta uma eventual ameaça de pressão de demanda sobre a inflação oficial no PaÃs, avaliou Kislanov.
“O que a gente nota é que o consumo das famÃlias tem tido crescimento lento, gradual. A taxa de desocupação caiu, mas essa criação de empregos tem se dado, principalmente, pela informalidade, que normalmente paga salários mais baixos. A massa de salários esta estável. Então é difÃcil a gente pensar em inflação de demanda com essa recuperação lenta ainda, gradual, e baseada na informalidadeâ€, justificou o gerente do IBGE.
Para o mês de setembro, haverá manutenção da bandeira vermelha patamar 1, mas o IPCA deve absorver o impacto de uma redução da tarifa de energia elétrica em São LuÃs, em vigor desde 28 de agosto. Por outro lado, a Petrobras autorizou reajuste de 3,50% no preço da gasolina nas refinarias em 27 de agosto.
A boa notÃcia para a inflação nos próximos meses pode vir do campo. A nova safra recorde de grãos prevista para este ano tem potencial para manter os preços dos alimentos comportados, confirmou Kislanov.
“Espera-se que sim. Lembrando que a safra recorde de 2017 se refletiu em quedas nos preços dos alimentos. Mas não dá para ter certeza absoluta, ainda depende de fatores como chuvas, condições climáticasâ€, acrescentou.
Abaixo da meta
Para o economista André Braz, analista de inflação do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), os resultados de agosto mostram que a inflação para 2019 está praticamente dada: preços comportados e abaixo da meta de 4,25%.
“O número de agosto é um reflexo de duas coisas: tem uma economia que não estimula o consumo e isso faz com que alguns produtos acabem avançando menos de preço. As famÃlias ainda estão na fase de pagamento de dÃvidas, para depois conseguirem comprar bens novos. Mesmo com estÃmulos como o novo saque do fundo de garantia, o consumidor agora está dando prioridade ao pagamento de contas atrasadas, para sair dos juros altos.”
Ele avalia, no entanto, que as altas recente do dólar – hoje na casa dos R$4,10 – ainda devem ser sentidas na inflação dos próximos meses, sobretudo refletindo um futuro aumento dos preços dos combustÃveis, mais sensÃveis ao câmbio. “Não vai ser nada, no entanto, que nos tire da meta de inflação ou que interrompa o espaço que existe hoje para queda de juros”, diz. / COLABOROU DOUGLAS GAVRAS
*Correção: diferentemente do informado, a inflação desacelerou de 0,19% em julho para 0,11% em agosto, e não subiu 0,11%. O erro foi corrigido às 14h41 de 06/09/2019.