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No limite, hospitais privados de São Paulo não querem mais receber pacientes de outros Estados

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“Em São Paulo pela primeira vez começamos a ver negativa ou atraso de transferências para pacientes com covid-19 por restrição de leitos. A lógica é que se estão com dificuldade para atender a população local param de receber gente de outros Estados”, afirma o enfermeiro Breno Lins Alencar e Silva. Ele trabalha em uma empresa de aviação executiva que faz transferências de UTI aérea para pacientes com covid-19 e sua declaração reflete o atual momento de recrudescimento da pandemia que já matou 205.000 brasileiros, infectou 8 milhões e cresce em ritmo acelerado no país desde o final do ano passado. Nesta quarta, o país registrou mais 1.274 mortes pela doença.

“De umas duas semanas para cá a quantidade de voos desse tipo aumentou demais, muito mesmo”, segue o profissional, que atende tanto o Sistema Único de Saúde no Pará e parte do Amazonas quanto clientes particulares por todo o Brasil e no exterior. No limite por conta da explosão de internações provocadas pela covid-19 neste início de ano, grandes hospitais particulares de São Paulo começaram a restringir o recebimento de pacientes transferidos por UTIs aéreas de outros Estados, principalmente capitais das regiões do Nordeste e do Norte, como Manaus e Belém ―que por sua vez estão com as redes pública e privada em colapso nesse arrefecimento de pandemia.

O Hospital Sírio-Libanês, referência na rede privada paulistana, estava com 90% dos leitos para pacientes com covid-19 cheios nesta quarta-feira (13). Eram 177 pessoas internadas com suspeita ou confirmação da doença. Destes, 48 na UTI. Em uma noite no início dessa semana, a fila de pacientes que chegavam pelo pronto-socorro e aguardavam um leito de internação chegou a 15 pessoas e só foi totalmente debelada na manhã seguinte, segundo conta um profissional da saúde que estava de plantão no local. Enquanto isso, o hospital negou pelo menos um pedido de vaga na Unidade de Terapia Intensiva para pacientes transportados por UTIs aéreas vindos de outras regiões, que teve de procurar outro lugar ou aguardar na fila a liberação de um leito.

Para dar conta da demanda, alas desativadas estão sendo abertas e áreas administrativas convertidas às pressas em mais leitos para vítimas da pandemia, segundo o relato do mesmo profissional da instituição. “A situação está crítica, e a equipe também está no limite”, resume. De acordo com a assessoria de imprensa do Sírio, todos os pacientes que chegam ao hospital são atendidos e quando necessário, internados. A instituição também afirma que continua a receber transferências de outros lugares, mas a preferência de vagas é para quem chega pelo pronto-socorro. “As transferências são realizadas de forma dinâmica e de acordo com a liberação dos leitos e acomodação dos pacientes que chegaram via pronto-atendimento”, diz a nota enviada à reportagem.

No Hospital Israelita Albert Einstein, também em São Paulo e um dos principais do país, a lotação de leitos para pacientes com covid-19 bateu o recorde desde o início da pandemia depois das festas de fim de ano. “A curva é crescente e a situação vai piorar”, afirma o presidente da Instituição, Sidney Klajner, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Dos 140 internados, 35% estava na UTI e 26 deles sobrevivendo com ajuda de ventilação mecânica. Ao todo 18% têm entre 18 e 44 anos e outros 20,7% têm entre 45 e 59 anos, enquanto que 90 possuem 60 anos ou mais.

As festas de fim de ano agravaram a situação no hospital. Em dezembro, o número de pacientes de Covid-19 no Einstein oscilava em torno de 110, subiu para 120 no final do ano e agora chegou a 140. Antes, o recorde havia sido de 138 internações simultâneas em abril. O hospital também tem deixado de receber pacientes de outros Estados, dependendo do dia e da situação da demanda local por leitos.

Demanda só aumenta
Enquanto isso, nos locais de origem dos pacientes que buscam essa alternativa acessível para poucos a demanda só aumenta. Muitas vezes o sistema privado e público de saúde já entrou em colapso ou isso está para acontecer, deixando os poucos que dispõe desse recurso a porta da fuga aérea cada vez mais fechada. “Toda vez que somos acionados, leva em média de duas a três horas para a ambulância com o paciente chegar na pista para embarcar”, diz o enfermeiro Hennã Cardoso de Lima, que acompanha pacientes de covid-19 em UTIs aéreas para uma empresa de aviação executiva. “Ultimamente tem dia que estamos esperando o dobro ou até mais até aparecer um vaga para receber o doente em algum lugar”, afirma Lima, que costuma levar pacientes de Parauapebas, no interior do Pará, para a capital Belém. No entanto por conta do agravamento da pandemia e faltas de vagas, ele diz que os voos têm ido direto para Goiânia e Belo Horizonte.

“Para São Paulo vamos também, mas mais com os particulares”, diz. “Os aviões têm autonomia para chegar até Porto Alegre (capital mais ao Sul do país), se precisar”, afirma. Ele conta que por volta de julho do ano passado chegou a fazer cinco voos no mesmo dia. “A gente pousava de volta e já tinha outra ambulância na pista”, diz ele com receio de que a situação volte a ficar crítica em breve.

Na Brasil Vida Táxi Aéreo, a demanda por UTIs aéreas para pacientes de covid-19 explodiu de novo agora em janeiro de 2021 e chega a uma média de cinco voos diários, a mesma do pico registrado até então, em julho do ano passado, quando fez 158 voos com pacientes de covid-19. Nos dois primeiro dias do ano, foram resgatados e transferidos de UTI aérea para hospitais de Goiânia e São Paulo 11 pacientes de covid-19 vindos de Rondônia, Mato Grosso, Pará, Tocantins e Bahia. Até terça-feira (12), foram realizados 58 voos. Em 2020, a empresa realizou 800 voos do tipo.

De acordo com o coordenador aeromédico da empresa, Ramon Mesquita, depois de três meses de queda acentuada no número de embarques relacionados à pandemia, a Brasil Vida registrou novo aumento em novembro, quando o aumento no número de voos foi de 33% em relação a outubro. Em março, quando foram registrados os primeiros casos no Brasil, foram 11 voos e o número não passou de subir até o pico de julho. Em agosto a quantidade de viagens começou a cair mas voltou a subir entre outubro e novembro, quando realizou 85 viagens de UTI aérea para pacientes com covid-19.

Um voo em UTI aérea de Manaus para São Paulo sai a partir de 80.000 reais. De Belém a Brasília, a partir de 40.000, mas o valor pode variar bastante entre as empresas e chegar a 200.000 e 120.000 nos mesmos trechos, dependendo da aeronave e outros fatores. Alguns planos de saúde mais sofisticados e caros cobrem o custo, mas a maioria destes voos é particular ou pago por grandes empresas para seus funcionários. As empresas do ramo consultadas pela reportagem afirmam, no entanto, que o SUS costuma ser o principal cliente do serviço, principalmente nas rotas de lugares isolados na Amazônia para centros regionais como Manaus e Belém.

De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o Brasil tem hoje 40 empresas de aviação executiva com autorização para operar voos de UTI aérea.

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