A Polícia Federal cumpre, na manhã desta quarta-feira, 27, ordens judiciais no âmbito do inquérito das fake news, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e mira nomes ligados ao chamado “gabinete do ódio”, grupo de assessores ligados à Presidência da República investigados por disseminar notícias falsas. Agentes realizam 29 buscas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina. Os mandados foram expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação no STF.
Veja alguns dos alvos da operação da PF:
Douglas Garcia, deputado estadual (PSL-SP)
Douglas Garcia está em seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Uma reportagem do Estadão mostrou que ele é um dos principais líderes do Movimento Conservador, que funciona dentro de seu gabinete no parlamento estadual. O presidente do grupo é Edson Salomão, chefe de gabinete de Garcia. Assim como o parlamentar, ele é ligado ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Segundo denúncia feita à Justiça de São Paulo pelo deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP), que rompeu com a família Bolsonaro, a atuação do escritório de Garcia é similar ao chamado “gabinete do ódio”, que abriga os assessores responsáveis pelas redes sociais do presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto suspeitos de disseminarem fake news contra adversários políticos.
Em março deste ano, uma juíza de Ribeirão Preto, no interior paulista, autorizou buscas e apreensões para recolher o computador de Maicon Tropiano, auxiliar parlamentar do deputado. A decisão foi tomada em ação movida pelo Ministério Público contra carreata pelo fim do isolamento social que seria realizada no município. Garcia é um dos apoiadores das manifestações recentes a favor do presidente Bolsonaro.
Com histórico de polêmicas, em abril de 2019, Garcia fez um discurso preconceituoso voltado à deputada Erica Malunguinho (PSOL), primeira deputada transexual da Casa. “Se dentro do banheiro de uma mulher, que a minha irmã ou a minha mãe estiver utilizando, entrar um homem que se sente mulher, eu vou tirar primeiro no tapa e depois chamar a polícia”, declarou o deputado no plenário. Em agosto, a Comissão de Ética da Alesp aprovou uma advertência verbal contra Garcia em decorrência do episódio.
Em 2018, teve seu bloco carnavalesco “Porão do DOPS” barrado pela justiça. Segundo o Ministério Público, o evento enaltecia o crime de tortura com homenagens a Carlos Alberto Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury, que foram respectivamente comandante do DOI-CODI e delegado do DOPS durante a ditadura militar.
Luciano Hang, empresário
O empresário Luciano Hang é dono da rede de lojas de departamento Havan. Figura na lista da revista Forbes como o 7º brasileiro mais rico, com patrimônio estimado em US$ 3,6 bilhões.
Aliado de Bolsonaro, participou ativamente da campanha que o elegeu em 2018. Em outubro daquele ano, às vésperas da eleição, a Justiça do Trabalho de Santa Catarina deferiu uma liminar determinando que a Havan não pressionasse seus empregados a votar no então candidato à presidência. Em um vídeo gravado em uma de suas lojas e que circulou nas redes sociais, Hang ameaçou deixar o País e, consequentemente, demitir seus 15 mil funcionários, caso Bolsonaro não vencesse a corrida presidencial.
Na semana passada, uma reportagem do Estadão mostrou que a Havan incluiu em seu portfólio itens da cesta básica – como arroz, feijão, macarrão e óleo de soja – na tentativa conseguir liminares na Justiça para ser incluída na mesma categoria dos supermercados e, assim, driblando o fechamento dos comércios não essenciais devido à pandemia do coronavírus. Mesmo no Estado de São Paulo, onde as regras de isolamento social têm sido mais rigorosas, 20 das 31 lojas da Havan estavam abertas. “Estamos nos reinventando, assim como todo o comércio”, afirmou Hang em nota.
Hang foi mencionado na reunião ministerial de 22 de abril, divulgada na última sexta-feira. “O Iphan para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô! Para a obra. O que que tem que fazer? Alguém do Iphan que resolva o assunto, né? E assim nós temos que proceder”, disse Bolsonaro durante a reunião.
A diretora do Iphan, Kátia Bogéa, foi demitida da direção do órgão depois de Hang reclamar no Twitter, em 7 de agosto de 2019, que o Iphan teria embargado a obra de uma loja sua. Na campanha eleitoral de 2018, Hang doou para sete políticos. Bolsonaro foi o único candidato presidencial para quem ele declarou ter dado dinheiro à Justiça Eleitoral. A Procuradoria-Geral da República analisa o caso.
Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB e ex-deputado federal
Um dos delatores do esquema conhecido como Mensalão, o presidente do PTB Roberto Jefferson, foi condenado a 7 anos de prisão e multa de R$ 720 mil no julgamento do processo do mensalão no STF. O político foi considerado culpado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em 2005, suas declarações acabaram levando à descoberta do esquema de compra de deputados federais da base aliada do governo. Ele reconheceu à época que recebeu R$ 4 milhões do PT em troca do apoio parlamentar do PTB ao governo Lula.
Em entrevista ao Estadão em abril deste ano, o político afirmou que enxergava uma tentativa do Congresso de promover o impeachment do presidente Bolsonaro – sobre quem tem dado declarações de apoio nas últimas semanas. “Para derrubar Bolsonaro, só se for a bala”, afirmou o ex-deputado federal, ao citar a possibilidade de um confronto de “sangue” entre direita e esquerda.
Jefferson é apontado como um dos líderes do Centrão, bloco informal no Congresso formado por parlamentares que estão negociando cargos no governo federal em troca de blindagem a Bolsonaro em um eventual processo de impeachment.
Ao todo, são cumpridos 29 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Mato Grosso, no Paraná e em Santa Catarina.
A operação é parte de investigações abertas pelo STF, que analisam ameaças e difamação contra os ministros da Corte e suas famílias. O inquérito foi aberto em março de 2019, pelo presidente do Tribunal, ministro Dias Toffoli.