Segundo os dados do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram registrados 1.584 casos de síndrome respiratória aguda grave por influenza esse ano. Esse número é 47% menor do que o do mesmo período do ano passado, em que foram registrados 2.994 casos.
Os óbitos por gripe também diminuíram, de 522 em 2019, para 232 em 2020. O pediatra Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), explica que a quarentena foi um fator de contenção dos casos e que a diminuição também foi observada em outros países e com outras doenças de transmissão respiratória.
O infectologista Marcelo Otsuka, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), explica que um importante foco de contaminação da gripe são as crianças, que é a faixa etária que mais está cumprindo o isolamento social.
“Com o fechamento das escolas, as crianças não estão transmitindo. Estamos vendo as áreas de pediatria dos hospitais vazias e até alguns leitos sendo utilizados para pacientes adultos”, acrescenta Otsuka.
Ele explica que, dependendo do nível de transmissão de cada doença, é necessária uma taxa diferente de isolamento para controlar o número de casos. A covid-19 precisaria de uma taxa de 70%, para a gripe 50% é suficiente. “Mesmo não atingindo as taxas ideais para a covid-19, já há uma diminuição importante de influenza.”
Além do isolamento, o uso de máscaras e melhores práticas de higiene também contribuíram para a diminuição na transmissão da gripe de outras infecções respiratórias.
Os médicos afirmam que o lado positivo dessa diminuição é que sobra mais capacidade hospitalar para tratamento da covid-19, mas os dois demonstram preocupação acerca da baixa cobertura vacinal deste ano.
“Quando as regras de isolamento forem flexibilizadas teremos uma população desprotegida contra o vírus influenza e aí pode ser que tenhamos um pico atrasado da doença, ainda com um sistema de saúde precarizado”, afirma Cunha.
Segundo Otsuka, este ano tivemos uma taxa de cobertura vacinal de 50%, incluindo outras vacinas do calendário, em anos anteriores a taxa variava entre 70% e 95% dependendo da vacina. A de gripe estava próxima dos 70%.
“Mesmo outras infecções além da gripe, o sarampo, a coqueluche, podemos ter um aumento dessas doenças a partir do momento que as crianças voltarem a ter contato umas com as outras.”
Cunha explica que outro lado positivo são os aprendizados e hábitos que a pandemia pode deixar. “Em 2009, tivemos um aumento nas práticas de higiene, mas foi esquecido, agora parece que a etiqueta respiratória e a higiene das mãos vai ser mais habitual. O uso de máscara também vai ser mais normal. As pessoas não vão achar estranho ver as outras de máscara na rua, como nos países orientais.”
O infectologista também acrescenta que o afastamento do trabalho por conta de síndromes gripais deveria ser mais comum. “É muito normal, inclusive na área médica, a pessoa estar gripada e ir trabalhar mesmo assim e aí que acontece a contaminação, diferentemente da covid-19 em que a pessoa que está com suspeita já fica isolada.”
“Muitas vezes o filho está doente e a mãe manda a criança para escola mesmo assim, se a criança está com sintomas gripais, febre, tosse, coriza, não é para ir para escola”, acrescenta Otsuka.
Cunha alerta para a importância de manter a vacinação em dia. “As pessoas querem uma vacina para covid-19, quando tiver, vai ter fila para tomar, mas não estão se protegendo com as vacinas que nós já temos, talvez isso faça ressurgir doenças que já tínhamos controlado.”
Na cidade de São Paulo, a campanha de vacinação contra gripe foi prorrogada até 31 de agosto. Desde 1º de julho a campanha foi aberta para toda a população.
Antes dessa data era destinada a públicos específicos. Idosos e profissionais da saúde na primeira fase; portadores de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais, caminhoneiros, motoristas de transporte coletivo e portuários, população privada de liberdade, funcionários do sistema prisional e povos indígenas na segunda; e crianças entre 6 meses e 6 anos, gestantes, puérperas, pessoa com deficiência, professores de escolas públicas e privadas e adultos de 55 a 59 anos de idade na terceira.
O Ministério da Saúde orientou os municípios a oferecerem a vacina contra a gripe até acabarem os estoques.