Dentre as pessoas acometidas pela covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, 80% apresentam quadros leves. Entretanto, os outros 20% precisam de internação, pois desenvolvem sintomas moderados ou graves, de acordo com especialistas.
A pneumologista Patrícia Canto, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) explica que a covid-19, em sua forma mais grave, é uma doença sistêmica que pode afetar diversos órgãos.
“O quadro mais comum é a pneumonia, mas existem relatos de quadros cardíacos e insuficiência renal”, afirma. “Quando a gente interna o paciente, é possível observar diversas consequências e até mesmo a coagulação sanguínea”, acrescenta.
A pneumonia é uma infecção que afeta os pulmões e pode ter diversos causadores, como bactérias, fungos e vírus. Em pacientes com covid-19, ela é uma consequência da lesão gerada pelo novo coronavírus nos pulmões ou da resposta exagerada do sistema imune do organismo ao vírus.
Esse fenômeno recebe o nome de “tempestade imunológica”. “Um monte de substâncias são produzidas. Elas causam uma inflamação que ocorre nos brônquios, nos pulmões e nos alvéolos pulmonares”, explicou Elie Fiss, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em entrevista ao R7.
De acordo com ele, tais substâncias ocupam os espaços entre os alvéolos e o sangue. Por isso, o oxigênio não consegue passar e as pessoas, no geral, sentem dificuldade para respirar.
Entretanto, em suas experiências diárias, os profissionais têm observado pessoas que não reclamam de falta de ar, mesmo estando com quadros avançados de pneumonia e nível de oxigênio no sangue abaixo do normal – que seria entre entre 95% e 99%.
O minímo aceitável para manter as células do corpo saudáveis é de 89%, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
Patrícia cita diferentes perfis de pacientes: “Às vezes, quando chega na emergência, já tem um comprometimento avançado, com bastante lesão [pulmonar], mas poucos sintomas. Ou então, ele tem diversos sintomas, mas a imagem [do exame] não me faria supor essa gravidade”, compara.
Fiss concorda e observa que pacientes com poucos sintomas são os que ele tem visto com mais frequência. “Mas aí eu faço a tomagrafia e tem a pneumonia”, conta.
Ainda de acordo com ele. o indivíduo pode manifestar apenas sintomas secundários – como febre, dor de garganta, moleza e tosse -, mas já haver um grau de comprometimento pequeno dos pulmões.
Organismo compensa a falta de oxigênio
Patrícia explica que quando há uma queda na oxigenação do sangue, o organismo compensa essa falta aumentando a frequência respiratória. “Então, o paciente tolera melhor essa falta de ar. Mas isso não é consciente”, descreve.
Fiss acrescenta que a percepção da falta de ar é muito subjetiva. “Às vezes o paciente está sentado e não percebe, mas quando se levanta e vai ao banheiro, sente falta de ar”, exemplifica.
“Se a pessoa toma banho e tem falta de ar ou varre a casa e se sente cansada, isso é um sinal de alerta”, completa Patrícia.
A especialista oriena que as pessoas procurem atendimento médico caso tenham sintomas respiratórios e percebam que não estão melhorando, além de febre alta – acima dos 38,5 graus – e persistentes.
“Mas se tiver com falta de ar, vá imediatamente ao médico”, enfatiza. “Pessoas que têm comorbidades [diabetes, hipertensão] precisam ir se perceberem que a doença se agravou. Se o idoso começa a ficar sonolento e prostrado, também deve procurar o médico”, aconselha.