Tinha programado fazer uma visita a Porto dos Gaúchos para a comemoração dos 65 anos de fundação (dia 03 de maio/2020). Mas, a pandemia que nos coloca a todos em risco, me impediu.
Então fiquei aqui com saudades desta terrinha que aprendi a amar desde o primeiro dia que estive aí em 24 de outubro de 1978. Estava de passagem rumo ao meu novo emprego em Porto Ariel, núcleo inicial da colonização da Cotriguaçu.
Pernoitei no hotel do seu Cândido e da dona Dega. Era o único lugar que tinha energia elétrica, proporcionada pelo gerador que a Cotriguaçu instalou ali para funcionamento do rádio amador da empresa.
Depois, de tempos em tempos eu subia os rios Juruena e Arinos para fazer compras, ou para tomar um teco-teco para Cuiabá. Naquele tempo tinha linha de avião diariamente.
Em maio de 1980 fui convidado pela Conomali para os festejos dos 25 anos da fundação e viajei um dia e uma noite de barco chegar pra festa. Fizeram um churrasco no bosque na cabeceira do aeroporto e toda a cidade foi convidada. Uma festa simples e bonita.
Passados mais um quarto de século, morando em Cuiabá, em abril de 2005 fui alertado pelo amigo Márcio Rogério (o nosso Leboru) de que uma grande festa dos 50 anos estava sendo preparada. “Você não vem?” Fui.
Nesse tempo eu escrevia no jornal Circuito Mato Grosso e me autorizaram a fazer uma cobertura do evento.
Não é segredo pra ninguém que viveu em Porto dos Gaúchos nos últimos 20 anos do século passado, que tive grandes divergências com o pessoal da Conomali, fruto de mal entendidos e dessa coisa chamada política.
Mas fui fazer a reportagem por prazer profissional e para retratar a história de um lugar onde convivi e vivi apaixonadamente por quase uma década. Afinal foi lá conheci a minha esposa Adriana e onde geramos a Daphne e o Dartanhan, tendo assim o Porto se tornado o lugar mais importante da minha vida.
Os organizadores da festa, Henrique Meyer e a saudosa professora Ingrid, me receberam de braços abertos desde a minha chegada ao evento e ajudaram nas busca de informações que eu precisava.
Fiz uma grande reportagem que foi muito bem recebida por todos. As belas fotos foram do porto-gauchense Jacomias de Oliveira. Até o meu amigo Ulisses Mayer, com quem também a relação estava um tanto quanto estremecida, me telefonou de Porto Alegre para agradecer e elogiar a reportagem do Circuito MT. Depois disso já nos encontramos em Porto Alegre, jantamos juntos e tivemos papos memoráveis.
Passaram-se mais 15 anos. Rarearam minhas vistas. Restam muitas saudades. Mas já que não posso ir pessoalmente, mando essa paródia que fiz dos versos de Manoel Bandeira.
Vou-me embora lá pro Porto
Vou-me embora lá pro Porto!
Lá a porta não precisava de chave,
Só bastava uma tramela,
E se estivesse trancada por dentro,
A gente pulava uma janela.
Vou-me embora lá pro Porto,
Lá tinha festa todo dia,
Bastava abater um frango,
Motivo pra bater papo,
Com a desculpa do rango.
Vou-me embora lá pro Porto,
Lá ninguém odiava ninguém,
Pra todos brilhava o sol,
O adversário na política,
Era parceiro, no time de futebol.
Vou-me embora lá pro Porto,
Lá as disputas e as fofocas,
Também tinha de montão,
Mas tudo passado a limpo,
Na roda de chimarrão.
Vou-me embora lá pro Porto,
Lá o mar ficava bem longe,
Mas nós quase não sentíamos
Pois tinha praia todo dia,
Com banho no rio Arinos.
Emenda:
Só não vou embora lá pro Porto ligeirinho,
Pois acho que lá deve estar sem graça,
Se não vou encontrar o Tino,
Seu Cândido, seu Willy, seu Dominguinho
Nem o seu Emanuel e o galego Marcelino.
Não tem bolinho da Dona Dega
Nem o jantar lá no Rabuske
E sem o Scoolacho é fatal!
Não tem Halley, nem o Crep
Nem Canova na Trimangal.
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Ademar Adams, Jornalista e Escritor